A Elite do Atraso
A Elite do Atraso: da Escravidão à Lava Jato é um livro do sociólogo brasileiro Jessé Souza, lançado em 2017 pela Editora Leya. Em 2019, depois ascensão do governo Jair Bolsonaro, a Estação Brasil lançou uma edição revista e ampliada intitulada A Elite do Atraso: da Escravidão a Bolsonaro. Publicado no contexto da crise político-econômica no Brasil de 2014 a 2018, o livro trata a chamada Operação Lava Jato como representante da elite escravocrata brasileira, interessada no processo de impeachment de Dilma Rousseff. Souza argumenta como a escravidão no Brasil formou e caracterizou a sociedade brasileira. Ele analisa e critica autores consagrados do pensamento social brasileiro, como Gilberto Freyre, Raimundo Faoro e Sérgio Buarque de Holanda, segundo os quais o Brasil teria se formado a partir de uma continuidade com Portugal e seu patrimonialismo e criaram o chamado complexo de vira-lata.[1][2] Descrevendo quatro classes sociais no Brasil, Souza afirma que a elite, composta pela elite econômica e pela classe média manipulada pela mídia, usou a operação midiático-judiciária contra o governo Dilma Rousseff para combater a ascensão social dos membros das outras duas classes, os trabalhadores semi qualificados e a ralé de novos escravos, para manter os privilégios da elite e as desigualdades sociais no Brasil.[3] Críticas à sociologia brasileiraConceitos considerados fundamentais para o entendimento da sociedade brasileira são criticados por Souza, como o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda e a noção de patrimonialismo. O homem cordial é criticado por pensar o brasileiro genericamente, sem distinção de classe. Holanda trata também, em sua obra Raízes do Brasil, da ideia de patrimonialismo brasileiro. No Estado patrimonialista, a elite se juntaria para tirar proveitos privados daquilo que é público. Para Souza, aplicar a noção de patrimonialismo, criada por Max Weber, para o Brasil – coisa já feita anteriormente por Raimundo Faoro –, foi indevido. Para Weber, a diferenciação das esferas sociais, como a economia, a política e o direito, é característico da modernidade. Souza argumenta que o patrimonialismo, para Weber, tem como pressuposto a impossibilidade de diferenciação das esferas sociais típica da Idade Média, já que o patrimonialismo é uma variação do tipo de dominação tradicional. Souza acredita que Raimundo Faoro transportou indevidamente uma ideia que se aplica no mundo medieval para a modernidade. Por essa razão, para Souza, o núcleo explicativo da formação brasileira não é uma continuidade com Portugal e seu patrimonialismo, mas a escravidão.[4] Frações da classe médiaEm livros anteriores, Souza já havia definido as classes sociais do Brasil (ralé de novos escravos, batalhadores, classe média e elite). A novidade trazida por A Elite do Atraso foi uma apresentação preliminar das divisões dentro da classe média.[5] Essas divisões foram feitas com base em pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), coordenada pelo próprio Souza, somada a entrevistas pessoais realizadas por ele próprio em grandes cidades brasileiras. A classe média se divide e diferencia conforme o tipo de capital cultural que ela adquire. Esse capital cultural também é quantitativamente diferente: pode ser maior (nas frações expressivistas e críticas) ou menor (na liberal e na protofascista). Essas divisões são as seguintes:
Tanto a fração liberal como a protofascista se caracterizam pela posse de um conhecimento técnico adaptativo, que serve para se adaptar às necessidades do capital, e não para criticar a ordem social. Essas frações buscam o conforto das certezas compartilhadas, veiculadas sobretudo pela mídia. Também se caracterizam pelo moralismo. Em comparação com a protofascista, a fração liberal possui maior apego ao ideário democrático.
Conforme Souza, "o ódio às classes populares é aqui aberto e proclamado com orgulho, como expressão de ousadia ou sinceridade. O protopascista se orgulha de não ser falso como os outros e poder dizer o que lhe vem à mente. O mal e o bem estão claramente definidos, e o bem se confunde com a própria personalidade." Distingue-se da liberal também por sua maior sensibilidade a críticas, que são vistas como uma negação da própria personalidade.
Também chamada de "classe média de Oslo", assim como a fração crítica, é mais crítica. Porém, sua atenção é mais voltada a causas ambientais, ecológicas, e de direitos dos animais, e não dá suficiente atenção ao principal, que, no Brasil, é a miséria e a desigualdade. A classe média é de "Oslo", portanto, porque dá a impressão de viver em um país em que as desigualdades e misérias foram praticamente resolvidas.
O menor segmento da classe média, são os setores mais intelectualizados, e que buscam criticar a sociedade. Esse segmento percebe a realidade social como uma invenção, algo construído. RecepçãoO sociólogo Sérgio da Mata, da Universidade Federal de Ouro Preto, criticou Souza por fazer uma leitura muito rígida de Weber, não considerando a plasticidade com que o conceito de patrimonialismo é empregado, e citou o próprio sociólogo alemão, que alega que o patrimonialismo pode sim existir em uma economia capitalista moderna.[6] Rubens Goyatá Campante criticou Souza por fazer generalizações indevidas e apresentar seus argumentos de forma agressiva e deselegante, desrespeitando os clássicos.[7] Estrutura
Ver tambémReferências
Bibliografia
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