Assassinato de Brianna Ghey
Em 11 de fevereiro de 2023, Brianna Ghey (7 de novembro de 2006 – 11 de fevereiro de 2023), uma jovem transgênero de 16 anos de Birchwood, em Warrington, Cheshire, Inglaterra, foi assassinada no Culcheth Linear Park em Culcheth, Warrington.[1][2][3][4] Scarlett Jenkinson e Eddie Ratcliffe,[5][6] ambos de 15 anos, foram postos sob custódia da polícia, acusados de assassinato quatro dias após o incidente.[7] Inicialmente a polícia disse que estava tentando definir a motivação e estava considerando "todas as linhas de investigação", incluindo crime de ódio.[8][9] O julgamento começou a 27 de Novembro de 2023 no Tribunal da Coroa de Manchester.[10][11] Os dois adolescentes foram condenados a 20 de dezembro de 2023.[12][13] Em 2 de fevereiro de 2024, os dois adolescentes foram condenados a prisão perpétua pelo assassinato de Brianna Ghey. As identidades dos condenados foram reveladas no mesmo dia.[5][14] AssassinatoNa tarde de 11 de fevereiro de 2023, Ghey foi encontrada com várias marcas de facada em uma trilha no Culcheth Linear Park por passantes.[15] Os serviços de emergência foram acionados às 15:13 e às 16:02 ela foi declarada morta no local do crime.[15] Uma autópsia pelo Ministério do Interior foi solicitada para determinar a causa da morte.[15] Um exame post-mortem confirmou que Ghey tinha sido apunhalada 28 vezes na cabeça, pescoço, peito e costas.[16] RepercussãoEm 13 de fevereiro, foi instituída uma zona proibida ao voo no lugar do assassinato em resposta a drones sobrevoando o local.[17][18] Ainda assim, indivíduos continuaram a levar drones à cena do crime, fazendo com que a polícia os condenassem.[19] Pessoas envolvidasBrianna GheyGhey era uma aluna do segundo ano da Birchwood Community High School.[20][21] Seus pais a descreveram como uma "grande personalidade que deixava uma forte impressão em todos que a conheciam.[22][23] De acordo com seus amigos, Ghey ajudava meninas trans mais novas a conseguirem acesso legal e seguro à terapia hormonal.[24] Os amigos de Ghey também disseram aos tabloides que ela enfrentou anos de assédio transfóbico antes de seu assassinato, incluindo "espancamentos de gangues".[25][26] Além de estudante, ela também era uma TikToker com mais de 63 mil seguidores na plataforma[22] com o nome de usuário @gingerpuppyx.[27] Ela era conhecida na rede por dublar e dançar ao som de músicas famosas.[22] Em um de seus últimos vídeos ela disse ser "excluída na escola".[28] Em sua última publicação, com mais de 8 mil comentários, ela é vista andando no Linear Park.[29] Após sua morte, sua conta no TikTok foi deletada.[25] AcusadosDois suspeitos de 15 anos, Eddie Ratcliffe da cidade Leigh e Scarlett Jenkinson de Warrington,[30] foram levados pela Polícia de Cheshire na noite de 12 de fevereiro de 2023.[9][31][32] A polícia descreveu o assassinato como um "ataque direcionado",[22] e em 14 de fevereiro começou a investigar o ataque como um possível crime de ódio,[8] após dizer inicialmente que não haviam evidências que sugerissem que fosse o caso.[8] Em 15 de fevereiro, os suspeitos foram acusados de assassinato, sem direito a fiança, colocados na detenção juvenil e convocados à Corte de Liverpool na manhã seguinte.[30][33] Nesta audiência, o Juiz David Aubrey ordenou que ficassem detidos num centro de detenção para menores durante a preparação da audiência de pré-julgamento.[34] Um dos suspeitos declarou-se "não-culpado", numa audiência de pré-julgamento em 20 de julho de 2023, e o outro declarou-se "não-culpado" numa audiência de pré-julgamento a 4 de outubro de 2023.[35][36] Enquanto detidos, Jenkinson foi diagnosticada como tendo características de Autismo e ADHD. Ratcliffe foi diagnosticado como Autista e tendo mudeza selectiva, o que resultava na sua incapacidade de falar com pessoas que não a sua mãe.[37] A ambos foram dadas adaptações razoáveis: por causa da sua mudez, Ratcliffe pôde comunicar com o tribunal através de computador, e ambos tiveram a opção de participar no julgamento através de vídeo, como alternativa a presença física.[38] O júri foi também informado que Jenkinson e Ratcliffe poderiam reagir ou falar de forma diferente à esperada durante os procedimentos, devido aos seus diagnósticos.[37] JulgamentoO julgamento começou no Tribunal da Coroa de Manchester no dia 27 de novembro de 2023.[10] Devido à natureza do caso e das idades da vítima e dos acusados, foram impostas restrições à reportagem por forma a impedir a identificação dos acusados, bem como de outra criança mencionada no julgamento.[39] Durante o julgamento, a garota acusada foi identificada como X e o garoto como Y.[10] O caso foi presidido pela Juíza da Alta Corte Amanda Yip.[40] AcusaçãoO caso da acusação foi liderado por Deanna Heer, Conselheira do Rei (CR),[10] acompanhada de Cheryl Mottram na qualidade de júnior.[41] A apresentação do caso foi iniciada em 27 de novembro de 2023[42] e concluída em 8 de Dezembro de 2023.[43] Durante o julgamento, a acusação apresentou mensagens de texto que mostravam que os acusados tinham tentado anteriormente envenenar Brianna com quantidades excessivas de Ibuprofeno, que resultou em mau estar para Brianna, e que a sua mãe achou que fosse apendicite. Os acusados alegadamente tentaram envenená-la desta forma por causa de Brianna ter depressão, o que significava que ninguém iria suspeitar se ela morresse de uma overdose de medicamentos de venda sem receita. Quando essa tentativa falhou, a acusação alega que os acusados planearam matá-la por esfaqueamento. Ratcliffe terá dito que queria "ver se isto irá gritar como um homem ou uma garota". A acusação apresentou mais mensagens, em que, antes desta tentativa, Jenkinson mostrava estar "obcecada" com Brianna, e que Brianna era "muito diferente" e "muito bonita".[8][44] DefesaJenkinson e Ratcliffe tiveram casos de defesa separados. O de Jenkinson foi liderado por Richard Pratt (CR),[11] com Sarah Holt como júnior.[45] Richard Littler (CR) liderou a defesa de Ratcliffe,[11] com Steven Swift como júnior.[45] Cada um dos acusados disse que o outro tinha realizado o homicídio.[46] A defesa de Ratcliffe disse que Jenkinson lhe tinha pedido para trazer a sua faca de mato para o parque, e que ela "planeava esfaquear Brianna". Ratcliffe disse ainda que ele não tinha levado o alegado plano de Jenkinson a sério porque ela tinha um historial de "sempre falar sobre homicídio sem nada acontecer", e terá alegadamente testemunhado Jenkinson a esfaquear Brianna. Ele negou qualquer animosidade relativa a Brianna pela sua identidade transgénero.[46] A sua defesa acusou Jenkinson de o manipular devido ao seu autismo.[47] A defesa de Jenkinson disse que o seu plano era parte de uma "fantasia" e que tinha sido Ratcliffe a realizar o esfaqueamento, para "choque" de Jenkinson. Ela descreveu-se como surpreendida com o acto, que não impediu por ter medo de Ratcliffe, que descreveu como "sociopata".[48][49] A defesa de Jenkinson sublinhou também a quantidade de sangue de Brianna encontrada na roupa de Ratcliffe, enquanto no sua roupa não se encontrou nenhum vestígio.[50] VeredictoO julgamento durou três semanas e foi concluído a 20 de dezembro de 2023, com ambos os acusados dados como culpados do assassinato. A Juíza Yip deu a indicação de que penas de prisão perpétua seriam dadas e que um mínimo termo seria determinado à data de sentenciamento, planeado para 2024.[51][13] A 2 de fevereiro de 2024 teve lugar a audiência de sentenciamento, antes da qual os dois adolescentes foram publicamente identificados. A juíza determinou que a informação acerca das suas identidades era de interesse público.[52] O sentenciamento incluiu declarações de impacto das vítimas dos pais e padrasto de Brianna.[53][54] O tribunal recebeu ainda actualizações relativas aos diagnósticos psiquátricos dos dois condenados: Jenkinson tem transtorno de personalidade antissocial e não autismo, e Ratcliffe tem uma forma de autismo.[54] Ambos foram sentenciados a prisão perpétua, Jenkinson com uma sentença mínima de 22 anos, e Ratcliffe com uma sentença mínima de 20 anos (ambos com redução de 352 dias por tempo já passado em detenção preventiva).[54] Ao sentenciar os assassinos, a Juíza Yup descreveu o homicídio como tendo "natureza sadista e onde um motivo secundário foi hostilidade para com Brianna devido à sua identidade transgénero".[55] ReaçõesA morte de Ghey gerou respostas de sua família, comunidade local, políticos, instituições de caridade, ativistas e artistas. Parentes de Ghey disseram que sua morte "deixou um buraco gigante em nossa família."[56] Um financiamento coletivo organizado pelos amigos de Ghey em apoio à família angariou £70,000 em três dias.[57][58] Emma Mills, diretora da Birchwood Community High School, disse: "Estamos em choque e devastados com a notícia da morte de Brianna."[56] O jornal The Independent diz que, de acordo com o MailOnly, um dos pais de um colega de escola dela criticou o posicionamento inicial da polícia, dizendo, "Sejamos sinceros, ela sofria bullying por causa de sua sexualidade. É claro que se trata de um crime de ódio."[28] A deputada do Partido Trabalhista Dawn Butler disse em seu Twitter que "Qualquer um na mídia que está usando seu nome morto para apagar a identidade de Brianna devia ter vergonha de si mesmo."[59] Nadia Whittome, outra deputada do Partido Trabalhista, disse: "Brianna deveria ter a chance de se tornar uma bela mulher jovem, e viver e ver um mundo onde pessoas trans estão seguras e são respeitadas.[23] O antigo líder do partido, Jeremy Corbyn, respondeu dizendo que "ela foi morta porque queria ser ela mesma", adicionando "Meus pensamentos estão com a família de Brianna e a comunidade trans que luta por segurança, dignidade e liberdade."[60] O Miami Herald divulgou que centenas de membros da comunidade LGBTQ e usuários das redes sociais estavam enlutados com a morte de Ghey.[61] A instituição de caridade de direitos LGBT Stonewall e a de jovens transgênero Mermaids expressaram empatia pela família de Ghey.[62][63] Devido às leis no Reino Unido que impedem que menores recebam um certificado de reconhecimento de gênero, a certidão de óbito de Ghey provavelmente constará o gênero errado.[64] A advogada de direitos civis dos EUA Alejandra Caraballo escreveu, "A lei de reconhecimento de gênero, com a qual críticos de gênero lutam contra com um vocabulário horrível e demonizador, impedirá que conste na certidão de óbito de Brianna Ghey o gênero feminino. Como um insulto final, o governo da Inglaterra irá errar seu gênero oficialmente na sua morte."[65] Campanhas no Twitter pedem que o Governo emita um Certificado de Reconhecimento de Gênero para Ghey "para que ela possa ter a dignidade na morte que todos os outros no mundo dão por garantido."[61] Vários músicos tweetaram em lamento, nojo e apoio, incluindo Yungblud, Big Joanie e Reverend and the Makers.[59] Vigílias à luz de velas aconteceram pelo Reino Unido e em Dublin, Irlanda, na semana após a morte de Ghey.[66][67] Muitas dessas vigílias contaram com milhares ou centenas de participantes.[68][69][70] A estação de rádio LGBTQ, Gaydio, anunciou que colaborou com outras estações LGBTQ no Reino Unido para transmitir um minuto de silêncio às 11:00 do dia 17 de fevereiro. O silêncio é precedido por uma participação da apresentadora transgênero Stephanie Hirst, na qual refletirá sobre a discriminação e a violência frequentemente vividas por pessoas trans, bem como uma homenagem a Ghey.[71][72] Críticas à mídia do Reino UnidoAlguns meios de comunicação do Reino Unido foram criticados pelas suas reportagens sobre a morte de Ghey..[73][26] A Trans Safety Network disse que alguns meios de comunicação do Reino Unido estavam "desrespeitando publicamente" Ghey na cobertura de sua morte.[74][75] A notícia inicial tanto da BBC News quanto Sky News não afirmou que Ghey era transgênero.[74] O The Times enfrentou fortes críticas depois de alterar sua história original, removendo a palavra "garota" e incluindo o nome morto de Ghey.[26][74] Mais tarde, o The Times alterou sua história novamente para remover o nome morto e adicionar novamente a palavra "garota".[76] O site The Mary Sue condenou a atmosfera transfóbica da imprensa britânica e a divulgação generalizada de informações transfóbicas sobre o assassinato de Ghey..[26] Senthorun Raj, professor da lei de direitos humanos, disse: "Todos nós temos a responsabilidade de desafiar as formas capciosas como os meios de comunicação e os políticos desumanizam as pessoas trans."[65] Ash Sarkar, um jornalista para Novara Media ela disse que "não pode compreender a insensibilidade envolvida na decisão editorial de violar sua dignidade na morte."[74] A deputada trabalhista Charlotte Nichols disse que iria apresentar uma queixa ao The Times e à Independent Press Standards Organisation, e que "não há absolutamente nenhuma necessidade de alguém publicar seu nome morto ao identificá-la como trans na cobertura midiática."[74] Uma reportagem da NBC News sobre o assassinato concluiu que "o clima no Reino Unido tem se tornado cada vez mais hostil para pessoas trans nos últimos anos", observando que a autora britânico J. K. Rowling criticou veementemente os direitos de transgêneros e que a BBC publicou recentemente um artigo que foi acusado de "[pintar] todas as mulheres trans como predadoras sexuais".[77] A revista americana Vogue ligou o assassinato à transfobia na internet, escrevendo que "há um questionamento quase constante dos direitos trans que reforça a ideia de que homens e mulheres trans estão tentando nos ludibriar, nos enganar, que sua identidade de gênero profundamente pessoal é uma afronta ao status quo e à forma como vivemos."[78] Ver tambémReferências
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