Cateterismo de coronárias
Cateterismo de coronárias ou angiografia de coronárias é um procedimento minimamente invasivo para acessar a circulação coronária e cavidades do coração, usando um cateter. É realizado tanto para fins diagnósticos, como para intervenção (tratamento). Especificamente, o cateterismo de coronárias é um tipo de exame de imagem na área da angiografia, que pode diagnosticar oclusão vascular [en], estenose, reestenose, trombose ou aumento aneurismático do lúmen das artérias coronárias. Também pode aferir as dimensões das cavidades cardíacas, o desempenho de contração do músculo cardíaco e alguns aspectos funcionais das válvulas cardíacas. As pressões arteriais cardíacas e pulmonares internas importantes, que não são mensuráveis externamente ao corpo, podem ser medidas com precisão durante o exame. As patologias mais relevantes que o exame mostra com maior frequência ocorrem como resultado de aterosclerose avançada - resultante de ateromas nas paredes internas das artérias. Com menor frequência, são diagnosticados problemas nas válvulas cardíacas, no músculo cardíaco e arritmia. O estreitamento luminal das artérias coronárias reduz a reserva de fluxo do sangue oxigenado para o coração, produzindo tipicamente angina intermitente e a oclusão luminal em estágio avançado, em geral leva a um ataque cardíaco. No entanto, tem sido cada vez mais reconhecido, desde o final da década de 1980, que o cateterismo de coronárias não permite o reconhecimento da presença ou ausência da própria aterosclerose coronariana, apenas alterações luminais significativas que ocorrem por complicações terminais do processo aterosclerótico. HistóriaA técnica da angiografia propriamente dita foi desenvolvida pela primeira vez em 1927, pelo médico português Egas Moniz, na Universidade de Lisboa, em uma angiografia cerebral. A visualização da vasculatura foi obtida por radiação com raios-X, com o auxílio de um contraste introduzido por cateter. O cateterismo cardíaco foi realizado pela primeira vez em 1929, quando o médico alemão Werner Forßmann inseriu um tubo de plástico em sua própria veia cubital e o direcionou para a câmara direita do coração. Forßmann fez um raio-x para provar o sucesso do procedimento e o publicou em 5 de novembro de 1929, com o título Über die Sondierung des Rechten Herzens (Sobre a Sondagem Correta do Coração). No início da década de 1940, os fisiologistas André Cournand (francês) e Dickinson Richards (norte-americano) realizaram medições mais metódicas da hemodinâmica do coração. Por seu trabalho na descoberta de cateterismo cardíaco e medições hemodinâmicas, Cournand, Forßmann e Richards dividiram o prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1956. Em 1958, durante um exame de raio-X, o cardiologista norte-americano Mason Sones [en], acidentalmente injetou contraste em uma artéria coronária direita do paciente ao invés do ventrículo esquerdo. Embora o paciente tenha sofrido uma parada cardíaca reversível, Sones desenvolveu o procedimento ainda mais. Durante quatro anos, foram realizadas angiografias coronarianas em mais de dois mil pacientes, para estabelecer as doses corretas e tipos de contraste a utilizar. A partir de então, foi possível visualizar doenças das artérias coronárias com uso de contraste.[1] No início dos anos 1960, o cateterismo cardíaco frequentemente levava várias horas e envolvia complicações significativas em cerca de 3% dos pacientes. Com a evolução das técnicas, materiais e equipamentos para o procedimento ao longo do tempo, o cateterismo de coronária passou a ser realizado mais rapidamente e com resultados significativamente melhores. Desde o final dos anos 1970, com base no trabalho pioneiro do radiologista Charles Dotter [en] em 1964 e também do radiologista e cardiologista Andreas Gruentzig a partir de 1977, o cateterismo coronário foi estendido para outras aplicações como a realização de tratamento menos invasivo para angina e aterosclerose. Indicação e riscosO procedimento é indicado nas ocorrências de infarto do miocárdio, angina de Prinzmetal, teste ergométrico com resultado anormal, insuficiência cardíaca, arritmia cardíaca grave, sobrevivência a morte súbita cardíaca. É o procedimento padrão para identificar a presença e a extensão da aterosclerose coronária.[2] Embora não existam contraindicações absolutas para realização do cateterismo de coronárias, os riscos associados podem ser atribuídos tanto a complicações cardíacas e como não cardíacas. Estados específicos pertencentes ao perfil médico geral do paciente, como idade avançada, insuficiência renal, diabetes mellitus não controlada e obesidade mórbida podem aumentar o risco de complicações. O estado cardiovascular subjacente do paciente pode predispor ainda mais a eventos adversos. A extensão da aterosclerose coronária, insuficiência cardíaca congestiva com baixa fração de ejeção, acidente vascular cerebral recente ou infarto do miocárdio e propensão ao sangramento, por exemplo hemofilia, são algumas das características cardiovasculares que podem aumentar as complicações cardíacas e vasculares durante o procedimento. Além disso, o tipo de procedimento a ser realizado, seja angiografia coronariana diagnóstica ou intervenção coronariana percutânea adicional, pode diferenciar os risco potenciais.[2] No entanto, complicações maiores são incomuns e ocorrem em menos de 2% dos casos, com mortalidade de menos de 0,08%. São relativamente poucos os pacientes que não podem ser avaliados com segurança por profissionais experientes. O uso de meios de contraste iso-osmolares, cateteres diagnósticos de baixo perfil, medidas para reduzir a incidência de sangramento e a experiência do profissional reduzem ainda mais a já baixa incidência de tais complicações. Portanto, o procedimento pode ser realizado com sucesso mesmo no paciente mais gravemente doente, quando clinicamente indicado, com risco relativamente baixo. No entanto, a relação risco-benefício do cateterismo de coronárias e a familiaridade com os potenciais benefícios e riscos devem ser avaliados individualmente para minimizar quaisquer problemas potenciais.[2] Reações alérgicas adversasReações alérgicas locais e sistêmicas à anestesia local são extremamente raras. Meta-hemoglobinemia, reações semelhantes à asma, reação vasodepressora (colapso de vasos sanguíneos)[3] e toxicidade da anestesia foram relatadas.[4] A maioria dos relatos é com os agentes mais antigos e tem sido pouco relatada com agentes amida, como a lidocaína. As reações geralmente são dermatológicas e raramente são anafiláticas. As reações que ocorrem são geralmente secundárias aos conservantes utilizados na preparação da medicação. O uso de agentes sem conservantes, como a bupivacaína, e o teste cutâneo são necessários em pacientes com histórico de reações a anestésicos locais.[2] ProcedimentoUtilizando um cateter-guia, é possível passar uma variedade de instrumentos para dentro da artéria, como fios guia e cateteres de dilatação por balão. Ao injetar o radiocontraste por uma pequena passagem através do cateter de balão, o balão é progressivamente expandido. As pressões hidráulicas são aplicadas de acordo com a resposta do balão dentro da estenose do vaso sanguíneo. O balão preenchido com radiocontraste é observado pelo método de fluoroscopia à medida que é expandido e a força hidráulica é aplicada de acordo com a necessidade para ser eficaz no aumento do lúmen da artéria.[5] As pressões normais típicas da artéria coronária são em torno de 200 mmHg (26,7 kPa). A pressão aplicada no balão pode chegar a 20 atm (2 030 kPa). O balão inicialmente envolve o cateter, próximo à sua extremidade, formando um perfil transversal que facilita a passagem pela seção luminal obstruída e em seguida é inflado até atingir um diâmetro específico pré definido.[6] Vários outros dispositivos podem ser introduzidos na artéria por meio de um cateter-guia, como cateteres a laser, stents, cateteres para ecografia, para ecocardiografia Doppler [en], cateter de medição de pressão ou temperatura e vários dispositivos de remoção de coágulos. Os stents são os dispositivos mais comumente usados, depois do cateter de balão. Quando o balão e o stent estão posicionados dentro da estenose, o balão é inflado e, por sua vez, expande o stent e a artéria. O balão é removido e o stent permanece no lugar, apoiando a parede interna da artéria na posição mais aberta e dilatada. Alguns stents, chamados farmacológicos liberam medicamentos anticoagulantes.[5] Referências
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