Cobra-coral é uma denominação comum a várias serpentes da família Elapidae, da triboCalliophini,[1] que podem ser subdivididas em dois grupos: corais do Velho Mundo e corais do Novo Mundo. Existem 16 espécies de corais do Velho Mundo, pertencentes aos gêneros Calliophis, Hemibungarus e Sinomicrurus, e mais de 65 espécies de corais do Novo Mundo, incluídas nos gênerosLeptomicrurus, Micruroides, e Micrurus. Estudos genéticos indicam que as linhagens mais basais de corais se encontram na Ásia, indicando que elas se originaram no Velho Mundo.[2][3] No Brasil, podem ser conhecidas pelos nomes cobra-coral-venenosa, coral-venenosa, coral-verdadeira, ibiboboca, ibiboca e ibioca.
As cobras-corais não dão "bote" e apresentam hábitos fossoriais, vivendo em sua maior parte escondidas embaixo de troncos e folhagem. A dentição é do tipo proteróglifa, característica que certamente as diferem das falsas-corais, que apresentam dentição opistóglifa ou áglifa. Existe um antigo ditado para distinguir corais-verdadeiras de corais-falsas: Vermelho com amarelo perto, fique esperto. Vermelho com preto ligado, pode ficar sossegado. O ditado está incorreto, dado que não existe um padrão de coloração exclusivo das corais-verdadeiras e muitas falsas-corais conseguem mimetizar perfeitamente um coral. A única forma de diferenciar os dois tipos de cobras é pela dentição.
Apresentam uma peçonha de baixo peso molecular que se espalha pelo organismo da vítima de forma muito rápida. A coral necessita ficar "grudada" para inocular a peçonha pelas pequenas presas. A cobra-coral é tão peçonhenta quanto uma naja. A sua peçonha é neurotóxica, ou seja, atinge o sistema nervoso, causando dormência na área da picada, problemas respiratórios (sobretudo no diafragma) e caimento das pálpebras, podendo levar uma pessoa adulta ao óbito em poucas horas. O tratamento é feito com o soro antielapídico.
As corais são noturnas e vivem sob folhas, galhos, pedras, buracos ou dentro de troncos em decomposição. Para se defender, geralmente levantam a sua cauda, enganando o ameaçador com sua forte coloração. As atividades diurnas estão ligadas às buscas para reprodução e maior necessidade de aquecimento que as fêmeas grávidas apresentam. Após o acasalamento, a fêmea põe de 3 a 18 ovos, que em condições propícias abrem após 90 dias aproximadamente. Dada a capacidade de armazenar o esperma do macho, a fêmea pode realizar várias posturas antes de uma nova cópula.
Os acidentes ocorrem com pessoas que não tomam as devidas precauções ao transitar pelos locais que possuem serpentes. Ao se sentir acuada ou ser atacada, a cobra-coral rapidamente contra-ataca, por isso recomenda-se o uso de botas de borracha cano alto, calça comprida e luvas de couro, bem como evitar colocar a mão em buracos, fendas, etc. A pessoa acidentada deve ser levada imediatamente ao médico ou posto de saúde, procurando-se, se possível, capturar a cobra ainda viva. Deve-se evitar que a pessoa se locomova ou faça esforços, para que o veneno não se espalhe mais rápido no corpo. Deve-se também evitar técnicas como abrir a ferida para retirar o veneno, chupar o sangue, isolar a área atingida, fazer torniquetes, etc., sendo o soro a melhor opção.
Etimologia
Ibiboboca vem do nome de língua tupi da cobra, ybyboboka, que etimologicamente significa fende-terra, pois "... Elas, no rojarem, fendem a terra à maneira de toupeiras..." (conforme José de Anchieta). O nome vem, portanto, de yby, terra, e o verbo bobok, fender.[4]
Dieta
A dieta de Micrurus corallinus (Merrem, 1820) em ambiente natural é especializada, compreendendo anfisbenídeos, gimnofiones, lagartos e colubrídeos. Em cativeiro, é reportada a utilização de alimentos congelados e recém-mortos. A rejeição a esses alimentos leva à indução dos mesmos, como um procedimento frequentemente utilizado em serpentes mantidas em cativeiro. Vários aspectos negativos já foram relatados, como estresse, regurgitação e maior ocorrência de doenças.[5]
As corais-verdadeiras são mimetizadas por outras espécies de cobras, conhecidas popularmente por falsas-corais, espécies com veneno menos tóxico e até mesmo não venenosas. Estudos mostram que essa é uma estratégia eficiente de defesa, dado que a coloração aposemática das corais-verdadeiras detém o ataque de muitos predadores, sendo que elas servem como "modelo".[6][7] Isso é corroborado pelo fato de que em regiões onde não ocorrem corais-verdadeiras, espécies que mimetizam sua coloração não são menos predadas.[8] As espécies que mimetizam corais-verdadeiras pertencem às famílias e aos gêneros:
u*Campbell JA, Lamar WW. (2004). The Venomous Reptiles of the Western Hemisphere. Ithaca and London: Comstock Publishing Associates. pp. 870 pp. ISBN0-8014-4141-2
Grantsau, R. (2013). As Serpentes Peçonhentas do Brasil 1 ed. São Carlos, SP: Vento Verde. 320 páginas. ISBN978-85-64060-02-9
Silva Jr, N.J., ed. (2016). As Cobras-Corais do Brasil - Biologia, Taxonomia, Venenos e Envenenamentos 1 ed. Goiânia, Goiás: PUC- Goiás. 416 páginas. ISBN9788571039131
Roze, J.A. (1996). Coral Snakes of the Americas: Biology, Identification, and Venoms. Malabar, Florida: Krieger. 340 páginas. ISBN978-08-9464847-2
Referências
↑Castoe, T. A., Smith, E. N., Brown, R. M., & Parkinson, C. L. (2007). «Higher‐level phylogeny of Asian and American coralsnakes, their placement within the Elapidae (Squamata), and the systematic affinities of the enigmatic Asian coralsnake Hemibungarus calligaster (Wiegmann, 1834)». Zoological Journal of the Linnean Society. 151 (4): 809-831. doi:10.1111/j.1096-3642.2007.00350.x !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑Slowinski, J. B. &Keogh J. S. (2000). «Phylogenetic Relationships of Elapid Snakes Based on Cytochrome b mtDNA Sequences». Molecular Phylogenetics and Evolution. 15 (1): 157–164. PMID10764543. doi:10.1006/mpev.1999.0725
↑Slowinski, J. B., Boundy, J. and Lawson, R. (2001). «The Phylogenetic Relationships of Asian Coral Snakes (Elapidae: Calliophis and Maticora) Based on Morphological and Molecular Characters». Herpetologica. 57 (2): 233–245. JSTOR3893186 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑«www.scielo.br/j/isz/a/kK84PpGMsWv9FyqG4kkYZgM/?lang=pt»Em falta ou vazio |url= (ajuda)
↑Brodie III, Edmund D. (1993). «Differential avoidance of coral snake banded patterns by free-ranging avian predators in Costa Rica». Evolution. 47 (1): 227–235. doi:10.2307/2410131
↑Brodie III, Edmund D., Moore, Allen J. (1995). «Experimental studies of coral snake mimicry: do snakes mimic millipedes?». Animal Behavior. 49 (2): 534–6. doi:10.1006/anbe.1995.0072 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
↑Pfennig, David W., Harcombe, William R., Pfennig, Karin S. (2001). «Frequncy-dependent Batesian mimicry». Nature. 410 (6826): 323. PMID11268195. doi:10.1038/35066628 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)