Diário de S. Paulo é um jornalbrasileiro publicado na cidade de São Paulo. Até 2001 chamou-se Diário Popular.
História
Após fundar e trabalhar como diretor e redator do Correio Paulistano por quase vinte anos, Américo de Campos juntou-se a a seus colegas do CorreioJosé Maria Lisboa e Rangel Pestana para fundar A Província de S.Paulo, em 1875. Em 1884, Campos e Lisboa foram demitidos pelo novo sócio da Província João Alberto Salles (1857-1904),[2] após protestarem contra a nova política editorial imposta por Salles, notadamente antilusitana.[3]
No fim de 1884, Campos e Lisboa fundaram o Diário Popular, com o apoio financeiro de Antônio Bento, abolicionista e dono do Jornal do Commercio de São Paulo, Hipólito Junior e Aristides Lobo.[4] Seu nome foi inspirado no homônimo português, e seus fundadores preconizaram sua linha editorial no primeiro número:
"[…] Não temos programa; nada valem compromissos que podem falhar, e ademais são conhecidas as ideias dos fundadores do Diário Popular e que suas individualidades valem bem um programa. A longa prática dos homens e das coisas nos ensinou a precisa independência e moderação, que será a norma das discussões em que nos empenharmos. Serão atendidas e dadas à publicidade todas as reclamações justas e feita por pessoa competente. Daremos franca inserção a artigos científicos, literários e políticos de reconhecido merecimento. A parte ineditorial será franca a todas as opiniões, exigindo-se, como de costume, responsabilidade do autor e moralidade nos escritos. Não aceitaremos "testas de ferro".
Américo de Campos
José Maria Lisboa
— Trecho do primeiro editorial do Diário Popular de 8 de novembro de 1884, republicado pelo Correio Paulistano em 11 de novembro de 1884.[5]
A primeira sede do jornal, na Rua da Imperatriz, abrigou diversos encontros entre políticos do fim do século 19, que debatiam ideias abolicionistas e republicanas.[6]
Originalmente um vespertino (o primeiro de São Paulo), caracterizava-se por ser um jornal de pequenos anúncios para pequenos negócios.[6] O balcão de publicidade costumava ficar lotado de pessoas, que escreviam seus próprios anúncios.[6] Tinha, por isso, uma tiragem razoável e, consequentemente, uma situação financeira sólida.[6][7] Dado o seu caráter "popular", era procurado para receber e intermediar donativos para as camadas mais pobres e acabou se engajando em diversas campanhas assistenciais.[8]
Após a Proclamação da República do Brasil, da qual era defensor, o jornal angariou grande popularidade. Aristides Lobo foi nomeado ministro do Interior do governo provisório,[9] Américo de Campos foi nomeado cônsul brasileiro para o Reino da Itália e José Maria Lisboa foi eleito deputado estadual por São Paulo.[10] Enquanto Lobo e Campos deixaram o jornal, voltando-se para a carreira política, Lisboa renunciou ao cargo e tornou-se o único dono do Diário Popular.
Campanha do Rio Paranapanema
Em 1977, o Diário iniciou uma campanha contra a instalação da fábrica de papel Braskraft em Angatuba, às margens do Rio Paranapanema, dado o alto risco de poluição do rio pelo empreendimento. Capitaneada pelo secretário de redação Edgard Barros e pela repórter Ane do Valle, a campanha desencadeou uma reação de outros jornais e das autoridades, que passaram de defensoras a críticas do projeto.[11] Uma CPI foi aberta pela Assembleia Legislativa de São Paulo,[12] e a fábrica desistiu do projeto e acabou se instalando no estado do Paraná. Hoje, o Paranapanema é um dos rios mais limpos do Brasil.[13]
A aquisição por Quércia
O Diário entrou na década de 1980 à venda. Numa primeira tentativa, seus proprietários desistiram do negócio.[14] Em 1987, a situação financeira era crítica. Ao mesmo tempo, o governo do Estado de São Paulo passou a realizar cada vez mais investimentos em publicidade no jornal. Em outubro de 1987, uma reportagem de O Estado de S. Paulo indicou que o Diário recebeu 11,1% dos gastos de publicidade do governo paulista naquele ano, ficando em terceiro lugar, atrás do próprio Estado, com 12,6%, e da Folha de S.Paulo, com 19,1%.[15]
Em maio de 1988, Rodrigo Lisboa Soares, bisneto de José Maria Lisboa, o fundador, anunciou a venda do Diário para Ary Carvalho, proprietário do jornal carioca O Dia, por 244 milhões de cruzados. No entanto, nos bastidores, corriam boatos de que o verdadeiro comprador era o governador de São Paulo, Orestes Quércia.[16][17] Este negou a compra do jornal até deixar a cargo público, em março de 1991, quando anunciou ter adquirido 30% do controle acionário do jornal naquele ano.[18] Na década de 2000, Quércia apresentou nova versão, de que havia adquirido o jornal em 1988, em sociedade com Carvalho.[11] Entre 1995 e 1998, o grupo de Quércia investiu 35 milhões de reais em um novo parque gráfico para o Diário.[19]
Infoglobo e anos finais
Em 2001, foi adquirido pela Infoglobo, empresa das Organizações Globo, proprietária também dos jornais O Globo e Extra. O grupo queria um jornal na região de São Paulo e mudou o título do veículo para Diário de S. Paulo,[20] mesmo nome de jornais lançados, em 1865[3][21] e em 1929, este por Assis Chateaubriand e que pertencia aos Diários Associados. A Infoglobo apresentou uma nova linha editorial para o jornal, menos popular e policial.
Em 15 de outubro de 2009, o empresário J. Hawilla, proprietário da rede de jornais Bom Dia, da empresa de marketing esportivo Traffic e da TV TEM, adquiriu o jornal, assim como o parque gráfico, localizado em Osasco.[22] Em 2 de setembro de 2013, a Traffic vendeu o controle acionário do jornal para o grupo Cereja Comunicação Digital.[23]
Após atravessar problemas financeiros e administrativos com a nova gestão, o jornal teve sua falência decretada pela 2.ª Vara de Falências de São Paulo, em 23 de janeiro de 2018,[24] saindo de circulação a versão impressa e o portal online.
Atual proprietário
Em outubro de 2019, o empresário Kléber Moreira anunciou a compra do título da Editora Cereja (detentora dos direitos) por trinta mil reais,[25] e reativou o periódico, nas versões online e impressa.[26] Apesar do anúncio, as edições foram elaboradas por meio de plágios de matérias de outros veículos.[27] Não existem dados de sua circulação impressa no Instituto Verificador de Comunicação.[28]
↑Dicionário de Ruas. «Rua João Alberto Salles». Arquivo Histórico Municipal- Secretaria Municipal da Cultura de São Paulo. Consultado em 5 de junho de 2021
↑Luís Sartorelli Bóvo (8 de novembro de 1965). «Diário Popular — um patrimônio histórico». São Paulo: Diário Popular. Diário Popular (29 763): 8.º caderno, p. 2
↑«"Diário Popular"». Correio Paulistano, Ano XXXI, edição 8470, página 2/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 11 de novembro de 1884. Consultado em 5 de junho de 2021
↑«Dono do Dia compra jornal em São Paulo». Tribuna da Imprensa, ano XXXVIII, edição 11913, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 24 de maio de 1988. Consultado em 9 de junho de 2021
↑Hélio Fernandes (16 de junho de 1988). «Coluna de Hélio Fernandes». Tribuna da Imprensa, ano XXXVIII, edição 11933, página 9/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 9 de junho de 2021
↑«Quércia amplia seu controle na mídia de SP». Tribuna da Imprensa, ano XL, edição 12698, página 2/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 12 de maio de 1991. Consultado em 9 de junho de 2021
↑Alex Solnik e Orípedes Ribeiro (25 de julho de 1998). «Diário Popular:um veterano de cara nova». Manchete, ano 47 edição 2416, páginas 112 e 113/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 9 de junho de 2021
↑«Edição nº7». Diário de S.Paulo, ano I, edição, 7, página 1/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 8 de agosto de 1865. Consultado em 6 de junho de 2021
↑Esso (9 de dezembro de 1987). «Anúncio dos Vencedores do Prêmio Esso 1987». Jornal do Brasil, ano XCVII, edição 245, página 7/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 6 de junho de 2021