História de Manaus
A história da cidade de Manaus ocorre paralelamente à história do Brasil, ao longo de 355 anos de existência, contra os mais de quinhentos anos do país. O processo de ocupação europeia começa em 1540, por ocasião da chegada do explorador Francisco de Orellana, vindo do Peru, que pretendia ir à Espanha.[1] Primeiros povos e colonização europeiaA região onde atualmente se encontra o estado do Amazonas era parte integrante da Espanha, à época da chegada dosportugueses nas antigas terras do atual Brasil, que foi ocupada e colonizada por Portugal. O período de povoação europeia na Amazônia inicia-se entre os anos de 1580 e 1640, época em que Portugal e Espanha permaneceram sob uma só coroa, não havendo desrespeito oficial aos interesses espanhóis por parte dos portugueses quando penetraram na região amazônica. A ocupação do lugar onde se encontra hoje Manaus foi demorada devido aos interesses comerciais portugueses, que não viam na região a facilidade em obter grandes lucros a curto prazo, pois era de difícil acesso e era desconhecida a existência de riquezas (ouro e prata).[2] Em 3 de junho de 1542, o explorador e corregedor espanhol Francisco de Orellana chega a um rio largo da região, que lhe pôs o nome de rio Negro. A região onde se encontrava o Forte de São José da Barra do Rio Negro foi habitada primeiramente pelas tribos Manaós, barés, banibas e passés, as quais ajudaram na construção do forte e passaram a morar em palhoças humildes nas proximidades do mesmo.[3] A tribo dos "Manaós" (na grafia antiga, atualmente mais conhecido como Manaós),[4] considerada orgulhosa pelos portugueses, negava-se a ser dominada e servir de mão de obra escrava e entrou em confronto com os colonizadores do forte.[3] As lutas só cessaram quando os militares portugueses começaram a ligar-se aos Manaós através de casamentos com as filhas dos tuxauas, iniciando assim, à intensa miscigenação na região e dando origem aos caboclos. Um dos líderes da tribo dos Manaós foi o indígena Ajuricaba, forte opositor da colonização dos portugueses e que apoiava, no entanto, os holandeses. A morte de Ajuricaba foi um grande mistério: Foi aprisionado e enviado ao Pará, tendo morrido no percurso da viagem.[5] Devido à colonização portuguesa, foi efetuado um trabalho de esquecimento ou tentativa de apagar os traços e obras históricas dos povos indígenas. Pode-se notar isso pela destruição do cemitério indígena, onde se encontra atualmente, a Praça Dom Pedro e o Palácio Rio Branco. Quando o governador Eduardo Gonçalves Ribeiro remodelou a praça e mandou nivelar as ruas que a contornavam, grande números de igaçabas foi encontrado e atualmente não existe nenhum marco indicando a sua existência.[6][7] FundaçãoO início da ocupação portuguesa no território onde posteriormente surgiu a cidade, é registrado por ocasião da chegada dos missionários carmelitas, em 1659.[9] Manaus foi fundada em 1669 a partir de uma fortificação para fixar presença lusitana e resguardar a entrada da Amazônia Ocidental das invasões estrangeiras, sobretudo de holandeses e espanhóis. O núcleo urbano, localizado à margem esquerda do Rio Negro, teve início com a construção do Forte de São José da Barra do Rio Negro, idealizado pelo capitão de artilharia, Francisco da Mota Falcão.[10] Os historiadores convergem que a Fortaleza do Rio Negro tenha sido construída em 1669, por Francisco da Mota Falcão e seu filho Manuel da Mota Siqueira.[8] A população cresceu tanto que, para ajudar no catecismo, em 1695 os missionários (carmelitas, jesuítas e franciscanos) resolveram erguer uma capela próxima ao forte de Nossa Senhora da Conceição, a padroeira da cidade.[11] A Carta Régia de 3 de março de 1755 criou a Capitania de São José do Rio Negro, com sede em Mariuá (atual Barcelos), mas o governador Lobo D'Almada, temendo invasões espanholas, passou a sede novamente para o Lugar da Barra em 1791, por se localizar na confluência dos rios Negro e Solimões, que era um ponto estratégico.[12] O Lugar da Barra perdeu seu status político-administrativo sob influência de D. Francisco de Souza Coutinho, capitão-geral do Grão Pará, que iniciou campanha contra a mudança de sede, o que levou a ser desfeito o ato através da Carta Régia de 22 de agosto de 1798 e, em maio de 1799, a sede voltou a Barcelos. Em consequência da perda de seu status, tornou-se inevitável a decadência do Lugar da Barra.[12] Em outubro de 1807, o governador da Capitania, José Joaquim Victório da Costa, deixou Barcelos, transferindo a administração da Capitania definitivamente ao Lugar da Barra.[12] A partir de 29 de março de 1808, o Lugar da Barra voltaria a ser sede da Capitania de São José do Rio Negro, após proposta de dom Marcos de Noronha Brito ao penúltimo governador capitão de mar-e-guerra, José Joaquim Victório da Costa.[12] Período imperialAtravés do decreto de 13 de novembro de 1832, o Lugar da Barra passou à categoria de vila, já com a denominação de Vila de Manaus, nome que manteria até o dia 24 de outubro de 1848, quando foi elevada à categoria de cidade. Com a Lei nº 145, da Assembleia Provincial Paraense, adquiriu o nome de Cidade da Barra do Rio Negro. Em vista de a vila ter assumido foros de cidade, passou a ser chamada de Cidade de Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro. A 5 de setembro de 1850, foi criada a Província do Amazonas pela Lei Imperial nº 1.592, tornando-se a Vila da Barra do Rio Negro. Seu primeiro presidente foi João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, nomeado em 27 de julho de 1851, que instalou oficialmente a nova unidade provincial a 1 de janeiro de 1852, com o que sua situação de atraso melhorou bastante. Foi criada a Biblioteca Pública e o primeiro jornal foi fundado em 5 de setembro, chamando-se A Província do Amazonas.[13] Outro periódico de destaque na cidade foi o Estrela do Amazonas, de propriedade do cidadão Manuel da Silva Ramos.[13] Tornaram-se, ambos, as bases do desenvolvimento da cultura local, junto ao teatro e escolas profissionais.[14] Em 4 de setembro de 1856, pela Lei 68, já no decurso do segundo governo de Herculano Ferreira Pena, a Assembleia Provincial Amazonense deu-lhe o nome de Cidade de Manaus, em homenagem à nação indígena Manaós.[15] A Cabanagem foi um movimento político e um conflito social ocorrido entre 1835 e 1840 no Pará, envolvendo homens livres e pobres, sobretudo indígenas e mestiços que se insurgiram contra a elite política local e tomaram o poder. A entrada da Comarca do Alto Amazonas (hoje Manaus, a qual foi o berço do manifesto na Amazônia Ocidental) na Cabanagem foi fundamental para o nascimento do atual estado do Amazonas.[16] Durante o período da revolução, os cabanos da Comarca do Alto Amazonas desbravaram todo o espaço do estado onde houvesse um povoado, para assim conseguir um número maior de adeptos ao movimento, ocorrendo com isso uma integração das populações circunvizinhas e formando assim o estado.[17] Período áureo da borrachaNo Rio de Janeiro, a República Federativa do Brasil foi proclamada em 15 de novembro de 1889, extinguindo-se o Império. A província do Amazonas passou a ser o estado do Amazonas, tendo como capital a Cidade de Manaós.[14] A borracha, matéria-prima das indústrias mundiais, era cada vez mais requisitada, e o Amazonas, como um dos principais produtores mundiais, orientou sua economia para atender à crescente demanda.[21] Intensificou-se o processo de migração para Manaus de brasileiros de outras regiões, sobretudo nordestinos. De acordo com o censo de 1872, 2 199 estrangeiros imigraram para o Amazonas, atraídos pela produção da borracha, sendo que a maioria destes passou a viver em Manaus.[22] Os imigrantes eram, principalmente, portugueses, ingleses, franceses, italianos e de outras regiões da América,[22] gerando um crescimento demográfico que obrigou a cidade a passar por mudanças significativas.[23] Naquela época, o Nordeste brasileiro foi atingido pela Grande Seca (1877-1878), que causou mais de um milhão de mortes, além de uma grande epidemia de cólera. Muitos nordestinos vieram para Manaus fugidos deste fenômeno, chegando ao local em grandes massas.[24] Apesar do declínio da borracha no início do século XX, a cidade continuou a receber um notável número de imigrantes. O censo de 1920 registrou 9 963 habitantes estrangeiros no Amazonas, com a maior parte destes vivendo em Manaus. Japoneses, turcos e alemães foram registrados neste censo.[22] Em 1892, iniciou-se o governo de Eduardo Ribeiro, que teve um papel importante na transformação da cidade, através da elaboração e execução de um plano para coordenar o seu crescimento.[23] Esse período (1890-1910) é conhecido como fase áurea da borracha.[21] A cidade ganhou o serviço de transporte coletivo de bondes elétricos, telefonia, energia elétrica (segunda rede elétrica do Brasil datada de 1895)[19] e água encanada, além de um porto flutuante, que passou a receber navios dos mais variados calados e de diversas bandeiras. A metrópole da borracha iniciou os anos de 1900 com uma população acima de 50 mil habitantes,[25] com ruas retas e longas, calçadas com granito e pedras de lioz importadas de Portugal, praças e jardins bem cuidados, belas fontes e monumentos, um teatro suntuoso, hotéis, estabelecimentos bancários, palácios e todos os requintes de uma cidade moderna.[23][26] Na fase áurea da borracha, a cidade foi referência internacional das discussões sobre doenças tropicais, saneamento e saúde pública. O período áureo promoveu inúmeras ações nesta área, como a parceria com cientistas internacionais que culminou na erradicação da febre amarela, em 1913.[27] No início do século XX, as ações de saneamento estiveram praticamente restritas a Manaus.[28] A situação mudou após a criação do Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural, que levou o saneamento para outras partes do Amazonas.[14] A infraestrutura da época abrangia bases fixas de operação nas calhas dos principais rios e embarcações que percorriam as comunidades ribeirinhas. O auge do ciclo econômico levou à cidade as mesmas benfeitorias que chegavam ao Rio de Janeiro, a então capital federal.[23] O desenvolvimento econômico proporcionou também grande circulação de ideias e permitiu o surgimento de um núcleo de médicos que estava a par das discussões científicas mais avançadas a respeito do combate às doenças tropicais. Escolas de medicina tropical recém-criadas, como as de Londres e Liverpool, na Inglaterra, enviaram missões frequentes para Manaus.[28] Em 1910, Manaus ainda vivia a euforia dos preços altos da borracha, quando foi surpreendida pela fortíssima concorrência da borracha natural plantada e extraída dos seringais da Ásia, que invadiu vertiginosamente os mercados internacionais. Era o fim do domínio da exportação do produto dos seringais naturais da Amazônia (quase que exclusivamente gerada no Amazonas), deflagrando o início de uma lenta agonia econômica para a região. O desempenho do comércio manauara tornou-se crítico e as importações de artigos de luxo e supérfluos caíram rapidamente. Manaus, abandonada por aqueles que podiam partir, passou por uma grande crise financeira. Os edifícios e os diferentes serviços públicos entraram em estado de abandono.[29] Industrialização e metropolizaçãoCom a implantação da Zona Franca de Manaus em 1967, a cidade novamente ocupou lugar de destaque entre as principais do Brasil e da América Latina.[30][31] Ao lado de Cuiabá, capital de Mato Grosso, é a capital que mais cresceu economicamente nos últimos quarenta anos, fato explicado principalmente pelo processo de industrialização em Manaus,[32] que também atraiu milhares de migrantes que ocuparam de forma desordenada a periferia da cidade.[33] O governo militar no Brasil tinha como proposta ocupar uma região até então pouco povoada, com a justificativa de criar condições de rentabilidade econômica.[34] A grandíssima expansão urbana e demográfica de Manaus na década de 1970 trouxe consequências positivas e negativas para o município, que viu-se obrigado a abrigar cada vez mais migrantes vindos de vários estados brasileiros e do interior do estado, atraídos por uma melhor qualidade de vida.[35] Na década de 1970, com o boom da industrialização, a cidade foi dotada de uma ampla rede comercial, redes de comunicação e serviços que até os dias atuais atendem à toda Amazônia Ocidental. Em estudo de 1978, Manaus foi reconhecida como metrópole regional por parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).[36] Como medida para desvirtuar as grandes ocupações irregulares de lotes em Manaus, o governo passou a criar loteamentos de terra regulares voltados para os migrantes que chegavam à cidade. Bairros como Cidade Nova, São José Operário e Armando Mendes surgiram desta iniciativa. Neste período, acentuaram-se as degradações ambientais, principalmente nas zonas leste e norte,[37] uma vez que essas regiões da cidade sofreram os maiores impactos ambientais, poluição de rios e perda de biodiversidade e mata nativa nos últimos anos.[37] Em 10 de julho de 1980, milhares de pessoas tomaram a Catedral Metropolitana de Manaus, e seu entorno, para receber o Papa João Paulo II. Na catedral, o Papa encontrou-se com autoridades eclesiásticas e discursou.[38] Em 1991, o município ultrapassou a marca de 1 milhão de habitantes,[39] e, em 2014, ultrapassou os 2 milhões, dobrando a população em 23 anos.[40] Configura-se atualmente na vigésima sexta cidade mais populosa da América e na sétima mais populosa do Brasil, abrigando pouco mais da metade da população do Amazonas.[41] Na questão econômica e educacional, está entre os cinco municípios brasileiros com participação acima de 0,5% no PIB do país que mais crescem economicamente,[42] e abriga a universidade mais antiga do país, a Universidade Federal do Amazonas, fundada em 1909.[43] Segundo dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o IDH de Manaus passou de 0,601 em 2000 para 0,737 em 2010, considerado elevado, uma taxa de crescimento de 22,63%. No entanto, quando analisado o incremento nas últimas duas décadas, de 1991 a 2010, Manaus ficou abaixo das médias de crescimento nacional e estadual. A capital teve aumento de 41,46%, e a média nacional foi de 47,46% e estadual, 56,74%.[44] Em 30 de maio de 2007, foi criada a Região Metropolitana de Manaus, através da Lei Estadual nº 52. com vistas à organização, ao planejamento e à execução de funções públicas e serviços de interesse metropolitano ou comuns.[45] Ver tambémReferências
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