Mutarelli, forçado pelo seu pai,[2] cursou a Faculdade de Belas Artes. Durante três anos, trabalhou na Maurício de Sousa Produções, no começo como intervalador e depois como cenarista.
Entusiasmado pelo grande número de revistas que surgiram na década de 1980, tentou publicar suas histórias sem sucesso - foram consideradas muito "estranhas". Também fez humor criando o personagem "Cãozinho sem pernas". Iniciou sua produção em histórias em quadrinhos por meio dos fanzines, distribuídos pelo próprio autor. Seus dois títulos, Over-12 (1988) e Solúvel (1989) tiveram 500 exemplares impressos pela extinta Editora Pro-C, de Francisco Marcatti, importante nome nos quadrinhos underground na década de 80.
Publicou ainda tirinhas e histórias de uma página na revista Animal – publicação mensal sob a editoração de Rogério de Campos, Fabio Zimbres, Priscila Farias e Newton Foot que publicava, entre materiais nacionais, um leque de autores europeus – e em outros títulos da Editora Vidente – de Gilberto Firmino. Com Marcatti e Glauco Mattoso editou dois números da revista "Tralha", também publicada pela Vidente.[3]
Recebeu vários prêmios e é aclamado por sua participação no cinema e no teatro. Criador da arte do filme Nina, dirigido por Heitor Dhalia, autor do romanceO Cheiro do Ralo, adaptado para o cinema, dirigido por Heitor Dhalia e estrelado por Selton Mello. O protagonista, que tem o nome velado no romance, no cinema recebe a alcunha do autor do livro.
Seu romance O Natimorto foi adaptado para o teatro pelo dramaturgo Mário Bortolotto e ganhou as telas em 2011 com Mutarelli no elenco.[4]
A maior parte de suas publicações aconteceram por intermédio da Devir Editora e pela Companhia das Letras. Compartilhou seu cotidiano no seu blog (durante 2007) e na revista Piauí n.º 35 em uma matéria desenhada. Foi um dos vencedores do Prêmio Portugal Telecom (atual Oceanos), em 2009, por A Arte de Produzir Efeito sem Causa.[5]
Depressão e Síndrome do Pânico
Em um aniversário de Mutarelli, duas de suas amigas organizaram um sequestro forjado que o levaria para a sua festa surpresa. Cada uma escolheu um amigo com "fisionomias de bandido" e, quando elas foram buscá-lo na casa de sua mãe, Sandra Mutarelli, para levá-lo para a festa surpresa, os dois homens abordaram os três. Segundo Mutarelli, no documentário de alunos da USP-ECA, Tarja Preta, os "sequestradores" andaram com ele dentro do carro por meia hora, ameaçando estuprá-lo e matá-lo. A "brincadeira" desencadeou uma crise de depressão com sérias crises de pânico, por aproximadamente dois anos. O episódio deu origem ao álbum Réquiem, de 1991.[2]
Em entrevista para Fabrício Carpinejar, no programa da Gazeta, A Máquina, Mutarelli relata que tinha, em média, quinze ataques de pânico por dia. Sua situação o impossibilitava de sair de casa, fazendo com que ele passasse três meses em posição fetal na sala da casa. O sufoco que o desenhista sentia em sua garganta fez com que sua possibilidade de alimentação fosse reduzida à gelatina e caqui — alimentos que descem facilmente pela garganta. Mutarelli encontrou no desenho uma forma de terapia e, em 1991, lançou o álbum Transubstanciação. O escritor Glauco Mattoso, seu companheiro, teve um papel fundamental nessa época de sua vida.
↑ abDocumentário Tarja Preta - Lourenço Mutarelli de Ceres Prado, Denise Galvani, Gabriel Bueno, Maria Alice Stock, Nelson Lin e Rafael Sampaio. Orientador: prof Renato Levi.