Da esquerda para a direita: Igreja matriz de São Sebastião, Fonte dos Amores, Escultura "Os Fundadores", de Bruno Giorgi; Casarão histórico de 1898, "Barão do Café", e vista panorâmica de Mococa.
A primeira e menos aceita é a de que Mococa vem da língua tupi e significa "casa de mocó", a partir da junção dos termos mokó ("Mocó") e oka ("casa", as ocas indigenas).[9]
A segunda e mais contada vem do historiador Humberto de Queiroz. Segundo ele, o Capitão-mór Custódio José Dias passou pela região, em 1844, para caçar. Ao avistar o povoado, disse aos que o acompanhavam: "Olhem para essas mocoquinhas". Indagado sobre o significado do termo, Custódio explicou que em Ibituruna, onde nasceu, havia um bairro chamado "Mocócas" ou "Mocóquinhas", e que o termo significava pequenas casas ou pequenas ócas. Na realidade, porém, o termo em tupi significaria algo como "casa de mocós". Segundo o linguista Eduardo de Almeida Navarro, especialista em tupi antigo, a confusão surgiu quando uma obra de Theodoro Sampaio apontava que Mococa viria de Mô-coga, significando fazer roça, roçado ou plantação[10].
A terceira e mais verossímil das versões é a contada pelo Comendador José Fernandes, que morou por 70 anos na vizinha Caconde: dizia ele que o Ribeirão do Meio, que cortava a cidade, era rico em peixes da espécie Synbranchus marmoratus, também chamados Moçum. A alta quantidade teria feito daquele lugar conhecido por ser o lugar onde habitava (óca do peixe moçum, ou moçum-ocó)[11]. O poeta Maranhense Manoel da Cruz Evangelista reforça a versão em seu verso "Um dilá, chegou no Amapá, foi pegar muçum na mocooca"[12]. Outra evidência é a presença do nome em regiões aquíferas, como a praia da Mococa, nome herdado do Rio Mocóca[13], bem como o vilarejo de Mocooca, no Pará, um dos mais representativos na pesca na região do Maracanã[14].
História
Fundação
A história de Mococa se inicia durante a primeira metade do século XIX, quando errantes provindos de Minas Gerais, sobretudo de Aiuruoca e outros municípios vizinhos, sabendo da alta fertilidade do solo na região, iniciam o desbravamento das grandes matas virgens locais e dão inicio as primeiras ocupações. Gerando, subsequentemente, grandes propriedades para o cultivo do café e utilizando-se de mão de obra escravizada africana no processo.[15]
No cerne do período imperial, o povoado, até então conhecido como São Sebastião da Boa Vista, o nome original de Mococa, é elevado à condição de capela curada, no ano de 1841. Poucos anos depois, em 1846, é implantada a primeira lavoura cafeeira, gerando assim, a ocupação e o desenvolvimento urbano e rural.[17]
A primeira igreja de Mococa, posteriormente conhecida como Matriz Velha, foi construída também em 1846, dedicada à São Sebastião, o padroeiro da cidade. Por sua rusticidade, acaba perdendo relevância durante o fim do século XIX. Deste modo, monta-se uma comissão incluindo nomes do alto escalão político e econômico de Mococa, incluindo o Barão de Monte Santo, para a inauguração de uma nova Matriz, fato ocorrido em 1896.
A antiga igreja matriz veio a ser demolida em 1919, dada suas precárias condições. Sendo reconstruída em 1921, com estilo arquitetônico eclético, pela iniciativa de Iria Josepha da Silva e seu marido, Francisco Figueiredo. Tendo sua arquitetura projetada pelo renomado arquiteto italiano Gherardo Bozzani.[17]
Passou, em 1857, a ser considerado uma freguesia. Em 1871, passou à condição de vila e em 1875, pela iniciativa de Gabriel Garcia de Figueiredo junto ao governo imperial, veio a ser considerada oficialmente uma cidade.
Desenvolvimento e imigração
Após 1888, data da abolição da escravatura, fez-se necessária a substituição da mão de obra escrava. A cidade passou, então, a receber uma massa de imigrantes, em sua esmagadora maioria de italianos (cerca de 10.000) e, em menor escala, de alemães, austríacos, espanhóis, portugueses e libaneses.[18]
A partir da década de 1890, Mococa passou pelo seu período áureo, com as riquezas geradas pelos produtores de café proporcionando grandes avanços para a cidade, como a construção da Matriz Nova, a igreja de São Sebastião e o início das operações da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, responsável por escoar a produção cafeeira para o mercado externo e pela chegada dos milhares de imigrantes que Mococa receberia, para trabalhar nas fazendas de café, ao longo das décadas seguintes. O último trem da estação mocoquense partiu em 1966.[19][20]
Como resultado, houve uma fusão cultural e cosmopolita em pleno "sertão do pardo", período este conhecido como a "belle époquecaipira", qualificando Mococa como uma das cidades produtoras do melhor café do Brasil. A florada civilizadora do café tornou os cafeicultores da cidade parte da elite social brasileira.
Crise e declínio do café
Porém, entre 1914 e 1918, período da Primeira Guerra Mundial, ocorreu a desorganização do comércio internacional, desestruturando a economia cafeeira devido à retração dos mercados consumidores. Crise que se acentuaria com o Crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929.
Em 1959, foi inaugurado o Cine Mococa, um dos mais tradicionais cinemas da região, mantendo sua arquitetura de época intacta.
Três anos mais tarde, em abril de 1963, Mococa recebeu a presença do presidente da república, João Goulart. Onde este inaugurou o Mercado Municipal, o conhecido Mercadão, ao lado do seu ex-ministro da agricultura, o mocoquense Renato Costa Lima.[22]
Durante os anos de chumbo, houve alguns casos onde a repressão da ditadura atuou, como na prisão de Milton Gagliardi, militante comunista da época, que fora transferido para Cajuru. Tendo sido solto algum tempo depois.
Relevante também é a presença de Carlos Lamarca (capitão do Exército na época, conhecido por desertar o mesmo e se juntar a luta armada), em 1967, no Tiro de Guerra 02-022, para realizar uma das muitas inspeções técnicas que o TG passava. Nessa época, seus ideais revolucionários já começavam a se aflorar.
Nascido em 1905, no antigo Hotel Terraço, o escultor mocoquense Bruno Giorgi saiu de Mococa com os pais, imigrantes italianos, ainda criança, rumo à Itália.
Em 1983, já em idade avançada e com uma experiência de vida intensa pelo mundo das artes, retorna à sua terra natal pela primeira vez, desde sua infância.
Deixou em sua cidade, como homenagem, duas obras: A mulher de Mococa, na praça Marechal Deodoro e Os Fundadores, na praça Epitácio Pessoa, ambas localizadas no centro histórico de Mococa.[23]
Turismo
Mococa, cidade histórica dotada de rico patrimônio histórico e cultural, eventos de reconhecimento a nível nacional e grande potencial ecológico, integra a região turística Caminhos da Mogiana e possui cinco segmentos principais de turismo, sendo estes: cultural, rural, ecoturismo, eventos e turismo religioso.[24]
Histórico e cultural
Centro Histórico
Contando com inúmeros casarões históricos bem preservados do período áureo do ciclo do café, dos anos 1890 á década de 1920.[18] Além da imponente Igreja Matriz de São Sebastião, de 1896, o coreto central da praça, que recebe a apresentação, aos domingos, da tradicional Filarmônica Mocoquense, fundada no ano de 1892.[25] Bem como a Igreja Nossa Senhora do Rosário e as esculturas 'A Mulher de Mococa' e 'Os Fundadores', ambas do renomado escultor mocoquense Bruno Giorgi.[17]
Cinema e Teatro
O antigo Cine Theatro Central, hoje Teatro Municipal, foi o cinema original do município, tendo o seu último filme exibido no fim da década de 1970. Já o Cine Mococa, também tradicional, fundado em 1959, tem uma das maiores telas de projeção do Brasil e substituiu o antigo Cine Theatro, se tornando predominante em Mococa.[26] Possuindo arquitetura chamativa, característica dos cinemas clássicos dos anos 50 e 60. Além de pinturas internas na sala principal do artista e historiador mocoquense Carlos Alberto Paladini[15]
Fundada no ano de 2010, no antigo prédio, datado de 1929, da Sociedade Italiana Doppo Lavoro e, posterior, escola estadual Francisco Garcia[27], a Casa de Cultura leva o nome de um dos mais renomados e conhecidos mocoquenses: o ator e comediante Rogério Cardoso. Possuindo diversos acervos e exposições, rotativos e permanentes, bem como diversas aulas, oficinas e palestras abertas ao público.[28]
Turismo rural e ecológico
Sendo um dos segmentos de maior proeminência no município. Conta com dezenas de fazendas históricas, cujo estilo e arquitetura variados de seus casarões preservam a história e memória dos coronéis do ciclo do café, fundadores de Mococa.[29][30]
Atualmente, as fazendas abertas ao turismo rural, e as suas principais atividades desenvolvidas são:
Fazenda Buracão: lazer, recreação e educação ambiental.
Fazenda Nova: passeios a cavalo e cavalgadas.
Fazenda Prata: acampamento de férias e lazer infantil.
Fazenda Santo Antônio da Água Limpa: vivência e imersão rural.
Fazenda Ambiental Fortaleza: Estágio e experiências Agroecológicas
Oferecendo hospedagem, alimentação típica da gastronomia mineira e diversos atrativos como: Trilhas históricas e ecológicas, cachoeiras, passeios de cavalo e charrete, além de barco e caiaque, bem como tirolesa e recreações variadas.[31][32]
Parque Ecológico São Sebastião: localizado próximo ao centro, o parque conta com diversas trilhas próprias para crianças, jovens e adultos. Além de minas de água potáveis provindas diretamente do lençol freático. Possuindo também, extensa biodiversidade em fauna e flora regional. As visitas são acompanhadas por um guia especializado. Portanto, é necessário agendamento prévio.[33]
Cachoeira do Itambé e Mirante das Areias: com queda de 84 metros de altura, é uma das maiores cachoeiras de todo o estado de São Paulo. Já o Mirante, com 1270 metros de altitude, possui vista 180 graus, sendo possível observar várias cidades da região. Além de contar com acesso gratuito e estacionamento adaptado. Ambos se localizam em um planalto, com matas preservadas, na divisa entre o distrito mocoquense de São Benedito das Areias e o munícipio de Cássia dos Coqueiros.[34][35]
Eventos tradicionais
Troféu Chico Piscina: tradicional campeonato de natação brasileiro de abrengência internacional, organizado e sediado pela Associação Esportiva Mocoquense, desde o ano de 1969. Reúne atletas nas categorias infantil e juvenil com suas delegações representando seus estados e países. Com estrutura própria, contando com cinco piscinas, sendo uma delas olímpica.[36][37][38]
Exposição Agropecuária de Mococa: conhecida também como Expoam, é um evento de ocorrência anual realizado no parque municipal José André de Lima. Contando com diversos shows de artistas renomados, exposições agropecuárias, rodeios e leilões, além de parque de diversões e praça de alimentação.[39][40]
Caminhada da Fé de Santa Rita de Cássia: evento de ocorrência anual, vem atraindo milhares de pessoas da cidade e de toda a região para expressarem sua fé e devoção a santa, percorrendo as paróquias municipais durante todo o período da madrugada, e finalizando com uma missa na Capela de Santa Rita, na onde é servido um café da manhã aos participantes.[41][42]
Caminho da Fé
Rota tradicional de peregrinos com destino a cidade de Aparecida do Norte (SP). Mococa integra o Caminho da Fé sendo um dos ramais de acesso e possuindo meio de hospedagem oficial, o Plaza Hotel, oferecendo credenciais aos peregrinos que ali hospedam. Contando também com um portal turístico localizado na Capela Nossa Senhora de Aparecida, no bairro de mesmo nome.[43][44]
Galeria
Igreja Matriz de São Sebastião
Coreto da Matriz
Teatro Municipal
Casarões
Cine Mococa
Casa de Cultura
Igreja do Rosário
Mercado Municipal
Convento São José
Pórtico do Cemitério Municipal
Mulher de Mococa, escultura de Bruno Giorgi, na praça Marechal Deodoro
Acesso
O município está ligado à rodovia Ademar de Barros (SP-340), uma das principais do estado, com pista duplicada, ligando Mococa a Campinas. É considerada a quinta melhor rodovia do Brasil, segundo o Guia Quatro Rodas[45].Além de uma conexão com sede da Região Metropolitana de Ribeirão Preto (RMRP) pela rodovia Abrão Assed.
Após a abolição da escravatura em 1888, Mococa passou a receber uma enorme quantidade de imigrantes para trabalhar nas lavouras de café. Dentre os imigrantes, a maioria era de italianos, que somaram entre 9 000 e 10 000, vindos principalmente das regiões da Lombardia, Vêneto, Lácio, Campânia e Sicília. Mas havia também alemães, principalmente da região da Baviera, austríacos, portugueses; espanhóis da Andaluzia e da Galiza e, em menor escala, libaneses, dentre outros. A população atualmente é resultado da miscigenação desses imigrantes; estima-se que a maioria tenha ao menos um antepassado italiano.[46][47]
Clima
O clima de Mococa é o tropical com invernos secos (Aw na classificação de Köppen) com temperatura média anual de 23,1°C, tendo a média das máximas de 28,8°C e a média das mínimas de 16,9°C. A precipitação pluviométrica média anual é de 1560,2 mm. O mês mais quente é outubro, com média das máximas de 31°C e o mês mais frio é junho, com média das mínimas de 13°C. O mês mais chuvoso é dezembro, com precipitação média de 273,7mm, seguido de perto por janeiro, com 267,1mm e os meses menos chuvosos são julho e agosto com 21,5 e 23,2mm, respectivamente.[48]
Fonte: UNICAMP - Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas[49]
Divisão político-administrativa
Mococa nasceu com o nome de São Sebastião da Boa Vista, sendo um distrito do município de Casa Branca. Em 3 de fevereiro de 1873 emancipou-se, tornando-se município. Pela lei estadual de 8 de abril de 1911 o município passou a se chamar Mococa.[50]
98,9% da população mocoquense é alfabetizada.[4] O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica de 2021 foi de 5,8 para os anos iniciais do ensino fundamental e de 5,1 para os anos finais. Mococa possui as escolas técnicas estaduais do Centro Paula Souza, a ETec Francisco Garcia e a ETec João Baptista de Lima Figueiredo. Possui duas faculdades: a Faculdade de Tecnologia, onde são ministrados os cursos "Informática com Ênfase em Gestão em Negócios", "Informática com Ênfase em Banco de Dados e Rede de Computadores" ,"Agronegócio", "Gestão Empresarial" e "Gestão da Tecnologia da Informação" e a Faculdade da Fundação de Ensino de Mococa, onde são ministrados os cursos de Administração Geral, Ciências Contábeis, Ciência da Computação, Pedagogia, Letras e Matemática.
Saneamento básico
92,8% das casas estão conectadas à rede de esgoto, 97,7% são atendidas pela coleta de lixo e 99,96% têm banheiro de uso exclusivo.[4]
Comunicações
A cidade era atendida pela Companhia Telefônica Brasileira (CTB), que inaugurou em 1970 a central telefônica utilizada até os dias atuais. Em 1973[51] passou a ser atendida pela Telecomunicações de São Paulo (TELESP), que em 1998 foi privatizada e vendida para a Telefônica,[52] sendo que em 2012 a empresa adotou a marca Vivo[53] para suas operações de telefonia fixa. Atualmente cidade passa por um processo de modernização de sua infraestrutura de comunicação com implementação de redes de fibra ótica por empresas locais.
↑IBGE (10 out. 2002). «Área territorial oficial». Resolução da Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR-5/02). Consultado em 5 dez. 2010
↑ abcdefg«Panorama do Censo 2022». Panorama do Censo 2022. Consultado em 19 de maio de 2024Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome ":3" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
↑ abcAugusto Rodrigues, José (2006). MOCOCA: PATRIMÔNIO VIVO DO CIRCUITO PAULISTA CAFÉ COM LEITE. Campinas: PUC - Pontifícia Universidade Católica de Campinas. pp. 129–130
↑de São Paulo, Governo (21 de maio de 2004). «Mococa realiza sua 25° Expoam». Secretária de Agricultura e Abastecimento. Consultado em 1 de outubro de 2021