Regime historiográficoRegime historiográfico, ou regime de historiografia, é um conceito utilizado para classificar e estudar as diferentes formas de se produzir história existentes em um determinado regime de historicidade. Estas classificações abarcam as mais variadas representações da história no espaço público, não estando limitadas ao trabalho dos historiadores profissionais. Os regimes historiográficos são plurais e se estabelecem a partir de diversas demandas por escrita, elaboração e apresentação da narrativa histórica. Assim, permitem aos historiadores a articulação e a análise das relações entre escrita da história e experiência do tempo. O conceitoUm regime historiográfico pode ser entendido como uma maneira específica de se abordar as diferentes formas de se fazer história.[nota 1][2][3] Sua utilização permite à historiografia a identificação e o estudo do discurso histórico em sua a pluralidade de formas, conteúdos, expectativas e demandas.[4] Por conta disso, é possível afirmar que os regimes historiográficos são um instrumento teórico para o estudo da história da historiografia.[5] Seu contexto, no entanto, não se limita ao trabalho dos historiadores profissionais. Os regimes historiográficos permitem a análise da produção de variados sujeitos, que se manifestam em diferentes meios de circulação da história, como a mídia, a política e ambientes de disputas intelectuais.[6][7] A aplicação do conceito de regime historiográfico tende à flexibilidade do foco da análise historiográfica, que pode ser direcionada, ao mesmo tempo ou separadamente, ao discurso histórico, suas formas de produção, os protocolos que guiaram esta produção e o contexto histórico no qual tal análise foi feita. Dessa maneira, também serve à identificação de regimes de produção e apresentação de um discurso histórico guiado pela pretensão de comunicar aquilo que é verdadeiro[nota 2] sobre determinada experiência de tempo.[9][10] Relações entre regimes historiográficos e regimes de historicidadeO historiador francês François Hartog afirma que enquanto o conceito de regime de historicidade define uma maneira culturalmente limitada de se relacionar com o passado, a forma como se produz e apresenta a historiografia seria um sintoma dessa relação. Assim, entende-se que enquanto um regime de historicidade se refere à forma como uma sociedade experiencia o tempo, um regime historiográfico se refere às diferentes formas como essa sociedade organiza e expressa essa relação.[11][12][13] Em outras palavras, os regimes historiográficos expressam o regime de historicidade vigente em uma sociedade e um período específicos da história. Assim, também é possível afirmar que o regime de historicidade é um dos fatores que determinam quais são as formas possíveis de se fazer história em um determinado período histórico, ou seja, os possíveis regimes historiográficos. [14][15][16][17][18] Regimes historiográficos na historicidade presentistaNo contexto de uma sociedade que se relaciona de maneira presentista, ou seja, focada no presente, com a sua história, é possível identificar diferentes formas de se escrever, expressar e elaborar a historiografia, das quais os historiadores lançam mão de acordo com o ambiente onde estão circulando, ou o público que desejam atingir.[19][20][21] O historiador brasileiro Fernando Nicolazzi identifica, no regime de historicidade presentista, aquele que François Hartog atribuiu ao mundo ocidental após o ano de 1989, pelo menos três regimes historiográficos. Estes apresentam uma tendência a problematizar e situar historicamente o trabalho dos historiadores, manifestada a partir de regime historiográfico acadêmico, ligado às universidades e à prática da historiografia profissional, um regime historiográfico escolar, ligado ao ensino de história nas escolas, e um regime historiográfico de circulação ampla, relacionado à história pública.[22][21] Desta forma, entende-se que a abordagem utilizada por um estudante de doutoramento ao apresentar sua tese para a banca avaliadora é diferente daquela que um professor de ensino básico utiliza para apresentar o conteúdo da aula para seus estudantes. Da mesma maneira, estes lançam mão de formas de apresentação do conteúdo histórico diferentes daquela mobilizada por um historiador que pretende usar um vídeo no YouTube como veículo de difusão do conhecimento histórico para o maior número possível de pessoas. Estas três diferentes abordagens levam em consideração diferentes destinatários, ou seja, diferentes públicos, cujas diferentes demandas por conteúdo e formas de apresentação engajariam o historiador em diferentes formas de elaborar e apresentar a história. A partir deste exemplo é possível afirmar que estudantes em fase escolar, acadêmicos de história e usuários do YouTube são consumidores de produções elaboradas por historiadores no contexto de diferentes regimes historiográficos. [23][24][21] Ver tambémNotas
Referências
BibliografiaArtigos científicos
Teses e dissertações
Livros e capítulos de livro
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