CalqueEm linguística, e mais precisamente em lexicologia, etimologia e linguística comparada, chama-se calque, calco ou decalque a um procedimento de formação de palavras que consiste em cunhar novos termos mediante a tradução de vocábulos estrangeiros e conforme as estruturas da língua de origem. É um tipo de empréstimo léxico particular, no qual o termo emprestado foi traduzido literalmente de uma língua para a outra, considerando mais a forma do que a ideia. Portanto, é basicamente uma tradução do empréstimo. Em consequência, pode-se dizer que um calque é menos criativo do que um neologismo nativo (a exemplo dos termos 'proativo', 'acessar' e 'deletar' , do inglês; 'parapente', do francês; 'esbórnia', do italiano) e mais criativo do que um empréstimo de palavra estrangeira. Trata-se de um recurso usado especialmente quando se quer exprimir um conceito novo, chegado do exterior, e não se quer adotar a palavra estrangeira. Para alguns autores, no entanto, esse tipo de empréstimo pode ser bastante problemático. Segundo o linguista italiano Vittore Pisani (1899–1990), alguns puristas, tentando escapar de influências externas, recorrem ao decalque — não percebendo que "enquanto eliminam um elemento puramente exterior, introduzem, por meio do calco, uma forma de pensamento bem mais perigosa para a essência da língua nacional". [1] Na língua portuguesa, há inúmeros exemplos de decalque. São principalmente lexias compostas e majoritariamente provindas do inglês.[2] Em geral, distinguem-se calques semânticos e morfológicos. Calque semânticoA criação de uma palavra pode simplesmente consistir em dar um significado novo a um termo já existente. Por exemplo, em anos recentes, o verbo realizar tem sido usado, na linguagem coloquial, no sentido de 'perceber' ou 'dar-se conta de algo'. Tal acepção não é portuguesa, mas provém do inglês to realize, e a sua admissibilidade é discutível. Da mesma forma, é usado o termo 'salvar' com referência à memorização digital. Nesse caso também se trata de um calco semântico do inglês to save, que prevê também essa acepção. Calque morfológicoNo calco morfológico ou estrutural, uma palavra composta pode ser criada a partir de uma combinação de elementos anteriormente desconhecida na língua de chegada. É o caso da palavra 'arranha-céu' — um calco morfológico do inglês skyscraper — criado porque não existia, em português, uma palavra apropriada para indicar esse tipo de edificação. Presença dos mesmos calques em diferentes idiomasA existência de correspondentes idênticos (ou quase idênticos) em diversas línguas indica a existência de decalques. [2]
Exemplos de calques do inglês para o português
É comum é a existência de calques análogos em várias línguas. Assim, a forma anglófona skyscraper está presente, como tradução de empréstimo, não só na língua portuguesa ('arranha-céu') mas igualmente em francês (gratte-ciel), espanhol (rascacielos), italiano (grattacielo), alemão (Wolkenkratzer, com 'nuvens' em lugar de 'céu'), russo (nieboskriob). [2] Mas nem sempre é fácil ou possível estabelecer a língua de origem de determinada expressão que surge como decalque em outras línguas. A expressão dente do siso, por exemplo, é encontrada em francês (dent de sagesse), italiano (dente del giudizio), romeno (masea de minte) e alemão (Weisheitszahn), inglês (wisdom tooth), russo (zub mudrosti), búlgaro (madrec), húngaro (bölcsességfog) e dinamarquês (visdomstand). [2] Certas formas verbais compostas também parecem ser, por vezes, calcadas. Frases tais como "Vou estar transferindo sua ligação", em que aparece um uso desnecessário do gerúndio, são, possivelmente, calcadas no inglês (ver future progressive ou future continuous). [5] Mesmo frases inteiras podem ser calcadas:
Exemplos de calques do francês para o português
Calques históricos
PseudocalquesPseudocalques são palavras que, levadas de uma cultura para outra, mudam de significado. Nos países lusófonos, frequentemente utiliza-se, por exemplo, a palavra francesa nécessaire (em português, 'necessário') para designar uma pequena bolsa ou maleta usada para guardar objetos de asseio pessoal. Esse uso é um pseudocalco, porque, em francês, um nécessaire não indica precipuamente uma bolsa de produtos de higiene pessoal, embora possa designar uma bolsa ou estojo contendo o necessário para realizar uma atividade qualquer (nécessaire à couture, nécessaire de fumeur etc), inclusive a de fazer o asseio do próprio corpo (faire sa toilette). O pseudocalque (ou pseudocalco) deriva da expressão francesa nécessaire de/ à toilette, que, entre os lusófonos, perdeu o complemento de toilette, enquanto que, para os francófonos, esse complemento é o que especifica o objeto. [7] Referências
Ver também |