Ciclo da violência
O Ciclo da ViolênciaEm um relacionamento abusivo diversos padrões se repetem, a estes padrões dá-se o nome de Ciclo da Violência. O termo foi desenvolvido pela psicóloga estadunidense Lenore Walker, publicado pela primeira vez em 1979 na obra “The Battered Woman” (“A mulher agredida” - em tradução livre).[1] De forma introdutória, o ciclo se resume a 3 (três) fases principais que são continuamente repetidas pela pessoa agressora: “Aumento da tensão”, “Ato da Violência” e “Lua de Mel” . A vítima, estando presa nesta sequência de etapas tão diferentes e emocionalmente envolvida, tem muita dificuldade em sair da situação. Assim, o conceito é entendido como ciclo, pois são várias etapas que se repetem incessantemente, até que o ciclo seja rompido pela vítima ou leve ao feminicídio.[2] Mesmo que o conceito tenha sido criado em 1979 se mantém bastante atual. Sendo uma ferramenta importante que permite identificar uma situação de violência. Muitas vezes a própria vítima pode compreender a situação em que está e romper o ciclo. FASE 1- Aumento da tensãoO sinais de agressão são sutis na primeira fase, o agressor se mostra irritadiço, faz ameaças e tem acessos de violência verbal contra a vítima. Também nesta fase, percebe-se uma tensão no relacionamento que vai aumentando aos poucos. Muitas vezes o agressor sabe como provocar dor emocional na vítima e utiliza isso a seu favor.[3] De forma mais específica, esta fase parte da violência verbal, psicológica e econômica. A vítima pode ter sentimentos de incerteza, justamente pela forma como é tratada pela agressor, sendo constantemente ameaçada de forma direta e indireta teme pelo término do relacionamento, além de não saber o que vai acontecer, até onde a violência pode ir.[4] Junto da incerteza que a vítima sente sobre seu relacionamento, vêm as desculpas e argumentações do parceiro(a) que tentam justificar a violência, com o intuito inclusive de culpabilizar a própria vítima pela violência que está sofrendo. Nesta situação, o agressor utiliza qualquer ato, palavra ou comportamento da vítima para justificar seu comportamento agressivo.[5] FASE 2- Ato da violênciaNa segunda fase há uma falta de controle do agressor (Explosão) na qual leva ao ato de violência, gerada pelo acúmulo de tensão da Fase 1 do ciclo podendo essa ser, de qualquer natureza ( Física, sexual, psicológica, moral ou patrimonial). Em que as violências que já existiam na Fase 1 são ampliadas e essa mulher se sente ainda mais vulnerável e fragilizada.[6] Segundo, Cuervo,M. M., e Martínez,J. F.(2013) na fase da explosão (Atos de violência) pode estar presente além da violência por parte do agressor, a autoproteção ou defesa por parte da vítima. Pois ela, mesmo muitas das vezes tendo consciência do que está acontecendo e do risco em que se encontra, essa mulher se encontra em um estado de paralisia e impossibilidade de reação devido ao ambiente estressor em que está inserida.[7] Durante essa etapa ela sofre uma grande tensão psicológica e permanece em estado de alerta a todo momento, podendo ter sintomas de insônia, perda de peso, fadiga constante, ansiedade, além de ter uma confusão de sentimentos como medo, ódio, solidão, pena de si mesma, vergonha, e dor. Normalmente é durante essa fase que ocorre o feminicídio, pois ao longo do tempo as violências vão escalonando, com uma duração menor do ciclo e maior intensidade.[8] Porém “nesse momento, ela também pode tomar algumas decisões− as mais comuns são: buscar ajuda, denunciar, esconder-se na casa de amigos e parentes, pedir a separação e até mesmo suicidar-se. Geralmente, há um distanciamento do agressor.” (IMP) [9]
Tipos de violência[12]Violência Física
Violência Psicológica
Violência Sexual
Violência Moral
Violência Patrimonial
FASE 3 - Lua de MelEsta fase também pode ser traduzida como fase de reconciliação. Recebe esse nome por ser o momento em que o agressor pede desculpas à vítima e tudo parece ter sido resolvido. Sempre depois da violência vem o arrependimento e um comportamento carinhoso, como se nada houvesse acontecido.[14] Neste momento, o agressor faz promessas de que não repetirá o comportamento agressivo. Portanto, muitas mulheres buscam entender a situação como algo cotidiano, que faz parte de sua dinâmica familiar, aceitando a violência. Também, pode existir um sentimento de culpa da vítima, acreditando que na realidade toda a situação foi ocasionada por sua responsabilidade, assumindo, portanto, que aprendeu uma lição e se não agir de tal maneira novamente a violência realmente não vai se repetir.[14] Diante da sociedade, muitas mulheres se sentem pressionadas a manter o relacionamento, pensando até mesmo nos filhos e como serão vistas por outras pessoas, buscando acreditar nas promessas do agressor. Dessa forma, em algum momento chega-se ao final da fase da Lua de Mel, levando novamente a Fase 1 - Aumento da Tensão e reiniciando o ciclo novamente.[14] Conceito de Espiral da violênciaA espiral da violência é um termo que começou a ser utilizado mais recentemente, pois segundo Leonor Walker as mulheres que estão em relacionamentos abusivos não percebem a sua nocividade pois estão em um ciclo que vai se repetindo. Desse modo a cada vez que o ciclo da violência (Tensão, Ato da violência e Lua de Mel) se repete, ele ocorre de forma mais intensa e com mais frequência, seu encurtamento vai formando uma espiral e afunilando ao longo do tempo, podendo ter seu fim em um feminicídio[15] Como o ciclo da violência afeta a saúde mental e física dessas mulheres?A violência doméstica atinge repercussões em vários aspectos da vida da mulher, no trabalho, nas relações sociais e na saúde física e emocional. O aspecto cíclico dessa violência a afeta de maneira frequente, visto que a mulher em situação de violência se sente amedrontada e envergonhada, gerando sentimentos de impotência, passividade, vergonha, decepção, culpa e sofrimento. Desde a década de 80 que a OMS (Organização Mundial de Saúde) considera a violência assunto de saúde pública pela sua dimensão e pela gravidade das sequelas físicas e emocionais que produz. Afetando a saúde e o bem-estar dessa mulher. [16] Pesquisas correlacionam à violência a:
Esse sofrimento psíquico tem um efeito cumulativo, que a longo prazo podem desenvolver doenças psicossomáticas variadas interferindo no bem-estar e no desenvolvimento da saúde psicológica dessa mulher.[17] Segundo o Banco Mundial, 1 em cada 5 dias de falta ao trabalho é causado pela violência doméstica e a cada 5 anos que está mulher sofre violência, ela perde um 1 de vida saudável (Ribeiro & Coutinho, 2011)[18] Desse modo percebe-se que a violência além de destruir a liberdade e a qualidade de vida das mulheres, afetando suas esferas pessoal, familiar e social, causa tanto danos físicos, quanto sequelas psicológicas significativas. Referências
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