Drymarchon corais
Drymarchon corais, popularmente chamada de papa-pinto, entre outros nomes, é uma serpente da família Colubridae encontrada em áreas abertas e florestadas da América do Sul. É uma espécie considerada de grande porte, geralmente medindo de um a dois metros de comprimento, com dorso cinza a preto anteriormente e amarelado posteriormente. Não apresentam risco às pessoas, por não ser peçonhenta. Apesar do nome sugerir uma alimentação especializada em aves, trata-se de uma espécie generalista, consumindo diversos tipos de presas. EtimologiaO nome Drymarchon advém das palavras gregas “drymos”, que significa floresta e “archon”, que refere-se a um governante ou soberano, dando a este gênero de serpentes o nome de "soberana da mata”. O nome específico corais refere-se ao termo grego “corax” que significa corvo, devido à coloração escura das escamas anteriores, assim como as penas da ave.[1] O nome popular "papa-pinto" tem provavel origem nos hábitos alimentares desta serpente que pode consumir aves, comportamento mais facilmente observável quando se alimenta de aves domésticas como galinhas.[2] Taxonomia e sistemáticaDrymarchon corais pertence à família Colubridae.[2][1] Por muito tempo, foi considerada como a única espécie do gênero Drymarchon, possuindo várias subespécies,[2][1] que posteriormente foram elevadas ao nível de espécie (e.g., D. couperi, D. melanurus e D. margaritae). além de descrição de novas espécies como D. caudomaculatus e D. kolpobasileus.[3][4] Distribuição geográficaDrymarchon corais tem ampla distribuição na América do Sul ao leste da Cordilheira dos Andes, estando presente em Trindade e Tobago, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa, Equador, Peru, Brasil, Paraguai e nordeste da Argentina.[5][6] A espécie é conhecida para maior parte do território brasileiro, não havendo registros apenas nos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e na Região Sul.[7] Devido à sua ampla distribuição, a espécie acaba ocorrendo em diferentes tipos de ambientes, incluindo florestas densas, matas de galeria, savanas e semiáridos. Dos biomas brasileiros a espécie ocorre na Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica.[6][5] Biologia e história naturalÉ uma serpente considerada de grande porte; os indivíduos maduros atingem um peso corporal acima de 250g e comprimento acima de um metro, geralmente variando entre um e dois metros e o maior indivíduo registrado mediando 2,95 metros.[8][9][10] A espécie não apresenta dimorfismo sexual muito marcado, de forma que machos e fêmeas possuem tamanhos próximos. Entretanto, forte dimorfismo foi registrado para D. couperi, na qual os machos são maiores que as fêmeas, característica possivelmente compartilhada com outras espécies do gênero.[9][11] Drymarchon corais não possui presas nem glândulas especializadas para inoculação de peçonha, sendo sua dentição caracterizada como áglifa. Portanto, é uma espécie não peçonhenta, mas que pode desferir botes e morder.[10][12] A coloração dos indivíduos de Drymarchon corais pode variar, mas segue um padrão no qual o dorso tem escamas mais escuras de cor preta ou índigo, com a parte ventral sendo composta por escamas amareladas. As escamas mais posteriores são mais claras, e de tom amarelado, tanto dorso quanto no ventre, com a possibilidade de alguns indivíduos apresentarem anéis pouco definidos formados por escamas escuras. A coloração da cabeça geralmente é amarelada, assim como o ventre, mas indivíduos diferentes podem apresentar algumas escamas mais escuras.[8][10] Reprodução e ciclo de vidaNão há informações concretas sobre combate entre machos da espécie pelo acesso a fêmeas, mas este comportamento é comum em outras serpentes com baixo grau de dimorfismo sexual ou com machos maiores que as fêmeas. Portanto, é possível que combates ritualísticos ocorram entre machos de D. corais.[9] Drymarchon corais é uma espécie ovípara, com número de ovos por ninhada variando de 3 a 12 (em média 4). O tamanho da ninhada, contudo, não parece variar em função do tamanho da mãe, ou seja, fêmeas maiores não necessariamente produzem mais ovos.[9] A dissecação de espécimes de coleções científicas mostra que as fêmeas de D. corais possuem folículos vitelogênicos durante quase todo ano (fevereiro a novembro), com a maior média de folículos documentados para os meses de junho e julho e a maior média de ovos para agosto. Isso sugere que as fêmeas possuem um ciclo reprodutivo semi-sazonal, com postura dos ovos na estação seca e os filhotes eclodindo no início da estação chuvosa. O ciclo dos machos não foi estudado.[9] AlimentaçãoO nome popular mais difundido da espécie (papa-pinto) pode vir a sugerir que os hábitos alimentares de Drymarchon corais são restritos ao consumo de filhotes de aves, mas isso não é verdade. Os indivíduos da espécie possuem uma alimentação generalista, que inlcui anfíbios, serpentes, lagartos, aves, ovos e pequenos mamíferos. Entre as presas já registradas para a espécie estão, Rhinella marina, Leptodactylus knudseni, Epicrates cenchira, Leptodeira annulata, Lachesis Muta, Ameiva ameiva, Tropidurus hispidus, Leposternon polystegum, Calomys expulsus e ovos repteis e aves.[9][13][14] Os indivíduos da espécie forrageiam durante o dia ativamente em busca de suas presas, ou seja, se movem em um determinado território à procura de alimento, ao invés de ficarem parados camuflados esperando para emboscar a presa. Com base em observações de campo, foi sugerido que, embora D. corais tenha hábitos diurnos, caça presas noturnas enquanto estas estão descansando ou escondidas durante o dia.[9][13] Não parece haver forte distinção entre a dieta de indivíduos jovens e adultos de D. corais (ou seja, não há variação ontogenética na dieta), mas apenas uma tendência dos juvenis se alimentarem de presas de corpo alongado, como cobras e lagartos, e passarem para uma dieta mais generalista conforme crescem.[9] ComportamentoEssa espécie tem tanto hábitos terrícolas como semiarborícolas, podendo ser encontrada ao nível do solo ou em árvores. Sua alimentação corrobora essa informação, pois inclui tanto espécies terrestres quanto arborícolas.[9][10][13] Quando se sentem sob ameaça, os indivíduos de D. corais podem reagir com comportamentos de intimidação como achatamento lateral do corpo e inflar a parte anterior do corpo a fim de parecerem maiores e mais intimidantes. Também podem vibrar a cauda e fazer movimentos bruscos da cabeça e parte anterior do corpo, a fim de afugentar o que consideram uma ameaça. As D. corais também podem fazer descargas cloacais, ou seja, eliminação de fezes, urina e outros compostos para desencorajar o predador. Por fim, mesmo não possuindo peçonha, essas serpentes podem dar botes e morder quando ameaçadas.[10] ConservaçãoEm nível global o estado de conservação da espécie está atualmente classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), como sendo pouco preocupante devido à sua grande distribuição geográfica, ocorrendo em múltiplas áreas protegidas, e pela falta de grandes ameaças que afetem suas populações.[5] Um parecer similar é dado pela edição mais recente do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2018) classifica a serpente como não ameaçada.[15] Apesar de globalmente e no Brasil D. corais ser considerada como em pouco risco, certas populações da espécie estão sob ameaça. É considerada ameaçada de extinção na Argentina, onde há raros registros da serpente, e possivelmente em declínio em Trindade e Tobago, devido à introdução de mangustos (Herpestes auropunctatus) na ilha.[5][16] Referências
Information related to Drymarchon corais |