Duplopensar ou duplipensar é o ato de aceitar simultaneamente duas crenças mutuamente contraditórias como corretas, muitas vezes em contextos sociais distintos.[1] É relacionado, mas diferente da hipocrisia e da neutralidade. Duplipensar é notável pela dissonância cognitiva, ou seja, o sujeito não tem ciência alguma da contradição entre suas crenças.
George Orwell foi quem inventou o conceito de "duplipensar" em seu romance Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, como "o poder de manter duas crenças contraditórias na mente ao mesmo tempo (…)".[2] De acordo com a obra de Orwell:
“
Saber e não saber, estar consciente de sua completa sinceridade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões que se cancelam mutuamente, sabendo que se contradizem, e ainda assim acreditar em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade e apropriar-se dela, crer na impossibilidade da Democracia e que o Partido era o guardião da Democracia; esquecer o quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza máxima: induzir conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra "duplipensar" era necessário usar o duplipensar.[3]
”
E também, numa descrição mais resumida:
“
O poder de manter duas crenças contraditórias na mente ao mesmo tempo, de contar mentiras deliberadas e ao mesmo tempo acreditar genuinamente nelas, e esquecer qualquer fato que tenha se tornado inconveniente.[4]
”
No X Encontro Nacional da Associação Nacional de Direitos Humanos, Pesquisa e Pós-Graduação (ANDHEP), o duplipensar foi apresentado como um efeito constante na construção jurídica do Brasil. Consequentemente, segundo o artigo publicado nos anais do evento, entender o duplipensamento ajuda a compreender os caminhos e descaminhos da democracia brasileira.[5]
↑McArthur, Tom (1992). The Oxford Companion to the English Language (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. p. 321. ISBN0-19-214183-X
↑Rohter, Larry; MACHADO, ANTONIO; NUNES, OTACILIO; DANIEL ESTILL, SAULO ADRIANO (2008). Deu No New York Times. [S.l.]: OBJETIVA. p. 93. ISBN978-85-7302-927-7A referência emprega parâmetros obsoletos |coautor= (ajuda)
↑Orwell, George (1949). «3». Nineteen Eighty-Four. Londres: Martin Secker & Warburg Ltd. p. 32
↑Orwell, George (1949). «9». Nineteen Eighty-Four. Londres: Martin Secker & Warburg Ltd. p. 220