Share to:

 

José Ernesto de Sousa

Ernesto de Sousa
Nascimento 1921
Lisboa, Portugal
Morte 1988 (67 anos)
Lisboa, Portugal
Nacionalidade português
Ocupação Fotógrafo, investigador e crítico de arte

Ernesto de Sousa, nascido José Ernesto de Sousa (Lisboa, 18 de abril de 1921Lisboa, 6 de outubro de 1988) foi um artista multidisciplinar, fotógrafo, cineasta e iniciador do movimento cineclubista em Portugal, e crítico de arte português, atividades a que dedicou toda a sua vida.

Entregou-se, desde muito jovem, ao estudo da arte e da fotografia. Espírito aberto, polémico, pioneiro em muitas das coisas em que se empenhou, exerceu uma vasta acção no campo artístico: artes visuais, cinema, teatro, jornalismo, rádio, crítica e ensaio. Como realizador, é reconhecido como um dos fundadores do chamado Novo Cinema (Dom Roberto - 1962), filme que inaugura o movimento, com Os Verdes Anos, de Paulo Rocha.

Não seria no entanto o cinema o seu meio de expressão mais assíduo. De um modo diversificado e prolífero, faz-se notar noutras artes, dedicando muito do seu tempo à fotografia.[1] «As reflexões teóricas e o trabalho de Ernesto de Sousa na área da Fotografia foram elementos fundamentais para a inauguração da contemporaneidade artística».

Biografia

Segue o curso de físico-química na Faculdade de Ciências de Lisboa (anos 40) onde organiza uma exposição sobre arte africana da Associação de Estudantes. Começa a colaborar com jornais e revistas como a Seara Nova, Horizonte, Vértice, Mundo Literário[2] (1946-1948) e Colóquio Artes.

Entra em violenta divergência com os seus contemporâneos surrealistas. Inicia a sua participação como crítico e teórico do neo-realismo artístico e literário dos anos 40, por entender ser esse o local propício ao magistério da arte como instrumento de libertação social e individual.

Entre 1949 e 1952 vive em Paris onde frequenta cursos de cinema da Cinemateca Francesa, da Sorbonne e do Institut de Hautes Études Cinematographiques, aulas de arte na Ecole du Louvre e faz o Cours d'Initiation aux Arts Plastiques de Jean d'Yvoire, com quem manterá relações de amizade. É membro do Ciné-Club du Quartier Latin, onde trava conhecimento com André Bazin e François Truffaut. Estagia em Marly-le-Roy, onde convive com Alain Resnais, Agnès Varda e Jean Michel, presidente da Federação dos Cine-Clubes Franceses.

É tido como fundador do primeiro cineclube em Portugal, o Círculo de Cinema (1946). Em 1948, a sede do Círculo é assaltada pela PIDE, que prende Ernesto de Sousa e os restantes membros da direcção. Esta será a primeira de quatro prisões por motivos político-culturais.

O carácter cultural e cívico desenvolvido por Ernesto de Sousa estende-se a todo o país e é completado pela revista Plano Focal, onde publica uma entrevista com Man Ray (nº 4, 1953), e pela revista Imagem (2ª Série, 1956-61), de que é redactor principal, lutando pelo "cinema novo" em Portugal (ver novo cinema). Entrevista o crítico Bernard Dort e o realizador Chris Marker, entre outros.

Dirige a revista Imagem e prossegue a actividade cineclubista, revelando a toda uma geração de cinéfilos e jovens universitários de Lisboa os movimentos vanguardistas ou representativos do cinema dessa época.

Entusiasmado pela sétima arte, consegue realizar, com meios precários - tendo Raul Solnado como actor principal e outros actores que ficariam - o filme Dom Roberto, premiado no Festival de Cannes de 1963 (Menção Especial do Júri do Melhor Filme para a Juventude). É então detido pela polícia política do Estado Novo, que o impede de estar presente em Cannes. Para financiar o projecto, Ernesto de Sousa tem a ideia de criar uma cooperativa de cinema, ideia que se manteria viva e que seria tema quente na revista Imagem.

Dedica-se entretanto à pesquisa no campo da arte popular portuguesa, dá a conhecer artistas como Rosa Ramalho e descobre a obra de Franklin Vilas Boas, engraxador de Esposende, que, para fazer esculturas, recolhe restos de troncos de árvores e destroços de madeira na praia e lhes retira «o que está a mais». Mantém-se activo no universo da arte, quer como comentador e escritor quer lidando com galeristas e trabalhando nos meios de difusão da arte em Portugal.

Em 1969 encena o exercício de comunicação poética, com música ao vivo por Jorge Peixinho e o Grupo de Música Contemporânea, destacando autores de quem gosta: Herberto Helder, Almada Negreiros, Luísa Neto Jorge, Mário Cesariny. Cria a 14ª Oficina Experimental para desenvolvimento de projectos colectivos, de "criação permanente", para «investigar e aprofundar as formas de comunicação». Colabora na revista Arte Opinião[3] (1978-1982).

Almada Negreiros é para Ernesto de Sousa uma referência permanente. A obra e a personalidade deste autor são ponto de partida para artigos, livros, e «mixed-media».

Em meados dos anos 60 entra em contacto com o movimento Fluxus, corresponde-se com Ken Friedman, entrevista Ben Vaultier e torna-se amigo de Robert Filliou e de Wolf Vostell. A partir de 1976, faz uma primeira visita ao Museu Vostell Malpartida, de Cáceres, e participa na inauguração da escultura VOAEX Inspirado por Wolf Vostell e sua arte e o projeto do museu a participação de muitos artistas portugueses.[4] Estará entretanto presente em estágios e congressos internacionais dedicados ao estudo da comunicação e da pedagogia, através dos meios audiovisuais.

Em 1972 Ernesto de Sousa visita a Documenda 5, em Kassel, onde entrevista Joseph Beuys. Fascinado pela vida e obra deste artista alemão, sublinha a vertente pedagógica do seu trabalho e a concepção da arte como vida. Desenvolve projectos artísticos em vídeo e organiza, em 1977, a exposição Alternativa Zero, na Galeria Nacional de Arte Moderna, em Belém.

Recupera os painéis de Almada no Cine San Carlos em Madrid e consegue transportá-los para Portugal, numa importante operação no âmbito da defesa do património nacional.

Envolve-se nas correntes de mail art. É sócio fundador da Galeria Diferença (1978), membro da AICA e do IKG (Internationales Künstler Gremium).

Ainda entre os anos 60 e 80, divulga a videoarte, o happening, a performance, em cursos, artigos e conferências que contribuem para abrir caminhos à arte portuguesa, entre as quais, Arte portuguesa actual, na Ecole Supérieure d'Arts Visuels, em Genebra, a convite de Chérif Défraoui. Apresenta, em 1976, o Ciclo sobre arte vídeo, no Instituto Alemão de Lisboa, em colaboração com a videoteca do Neuer Berliner Kunstverein Faz ainda a apresentação de vídeos de R. Hamilton, Vostell, Beuys, Rebecca Horn, Allan Kaprov. Por convite de Dulce d'Agro, introduz o ciclo Performing Arts, na Galeria Quadrum, em que se exibe vasta documentação visual sobre happenings, envolvimentos, performances, events, videoarte e nova fotografia, em colaboração com Gina Pane, Ulrike Rosenbach e Dany Block, entre outros.

É comissário por Portugal para a Bienal de Veneza em 1980, 1982 e 1984.

Autobiografia

Autobiografia, in desdobrável da exposição "A Tradição como Aventura", Gal. Quadrum, Lisboa, 1978

(…) A paixão da pintura, foi quando eu comecei a fabricar tintas. Eu acabava um curso universitário. De ciências… Foi a grande re-volta. Que depois se transformou em câmara escura.

O cinema. A descoberta do Outro. O "Dom Roberto" e a "Imagem". A cultura, a França (a "Grande Chaumière", os estúdios). O teatro radiofónico (foi quando conheci o Redol, um homem bom). O outro teatro (foi quando conheci o José Rodrigues, o Peixinho, a Rosa). E o Raúl Brandão e o Porto.

Algés e o Primeiro Acto: fluxus e para além do teatro. Tinha conhecido Almada Negreiros. Comecei.

A Itália, a Rússia, a Europa, o Mundo.

A música, o Grupo de Música Contemporânea: eu fui da banda. Crítica de arte (foi quando conheci o Lopes Graça), a Seara Nova, o neo-realismo e depois o 25de Abril. A crítica é uma opção ou uma necessidade? Em Portugal é uma necessidade (Garrett).

A paixão da escultura. A arte popular (…)

Comecei a experiência da apropriação de textos literários-tipográficos em 1977 ("Alternativa Zero"). Exposição de Orlando (Virginia Woolf). Absoluta des-autorização (anonimato) e o carácter tautológico (tradução, tipo-grafia). Jogava-se a coincidência de sentido como investigação estética. Coincidência com a própria exposição: o tempo, total evanescência e uma hecatombe de palavras. Zero. (…)

Cinema

Ver também

Referências

  1. ERNESTO DE SOUSA (1921-1988) “A MÃO DIREITA NÃO SABE O QUE A ESQUERDA ANDA A FAZER” artigo de Paula Pinto sobre a actividade fotográfica de Ernesto de Sousa, 5 de Setembro 2017
  2. Helena Roldão (27 de janeiro de 2014). «Ficha histórica: Mundo literário : semanário de crítica e informação literária, científica e artística (1946-1948).» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de Novembro de 2014 
  3. Rita Correia (16 de maio de 2019). «Ficha histórica:Arte Opinião (1978-1982)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 22 de Maio de 2019 
  4. Autobiografia, in desdobrável da exposição “A Tradição como Aventura”, Gal. Quadrum, Lisboa, 1978

Ligações externas

Information related to José Ernesto de Sousa

Prefix: a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Portal di Ensiklopedia Dunia

Kembali kehalaman sebelumnya