Julius Nyerere
Julius Kambarage Nyerere (Butiama, 13 de abril de 1922 – Londres, 14 de outubro de 1999) foi um economista, historiador, professor, político e ideólogo socialista tanzaniano. Foi presidente do Tanganica, desde a independência deste território em 1962 e, posteriormente, da Tanzânia até se retirar da política em 1985. Em (1985-86) foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz. BiografiaJulius Kambarage Nyerere nasceu em 13 de abril de 1922 em Mwitongo, uma localidade de Butiama, na região de Mara, na Tanganica.[1] Seu pai, Nyerere Burito, era chefe tribal do povo zanaqui (ou zanaki).[1] Burito teve 22 esposas, das quais a mãe de Julius, Mugaya Nyang'ombe, foi a quinta.[1] Somente 25 filhos de Burito, incluindo Julius, chegaram a idade adulta.[1] Ao nascer, Julius Nyerere recebeu o nome pessoal "Mugendi" ("caminhante" em zanaqui), mas logo foi mudado para "Kambarage", o nome de um espírito feminino da chuva, a conselho de um adivinho omugabhu.[1] Nyerere foi criado no sistema de crenças politeísta dos zanaquis,[2] e viveu na casa de sua mãe, auxiliando no cultivo do milhete e da mandioca.[1] Com outros meninos de sua comunidade, também trabalhou no pastoreio de cabras e gado.[1] Em algum momento, ele passou pelos rituais tradicionais dos zanaquis.[1] Como filho de um chefe tribal, esteve em constante contato com o poder e com as autoridades tradicionais africanas, e viver neste meio lhe deu uma apreciação pela vida comunitária que influenciaria suas ideias políticas posteriores.[1] A pedido de seu pai, em 1934, quando tinha 9 anos, Nyerere começou seus estudos na Escola da Administração Nativa de Mwisenge.[1] Sua educação foi em língua suaíli, a língua franca da Tanzânia.[3] Sua formação primária foi concluída no Centro Missionário Nyegina.[1] Suas excelentes notas lhe garantiram vaga na Escola Governamental de Tabora, onde, em 1942, concluiu o ensino secundário,[1] ambiente em que teve forte esmero no autoaprendizado e aperfeiçoamento da língua inglesa.[1] Ingressou na Universidade Makerere, em Campala (Uganda), onde formou-se em magistério, em 1947, com especilização em línguas e química-biologia.[1] Em Tabora aproxima-se fortemente do catolicismo e se batiza.[1] Entre 1947 e 1949 trabalhou como professor na Escola de Garotos de Tabora (pública) e na Escola Santa Maria (confessional católica) na cidade de Tabora, na Tanganica.[1] Enquanto em Tabora, filia-se a Associação Africana de Tanganica (TAA), sendo designado tesoureiro.[1] Foi ainda em Tabora que conheceu Maria Gabriel Magige, também católica e professora, com quem viria a casar-se em 1953.[1] Em 1949 decidiu cursar história e economia política na Universidade de Edimburgo.[2] Foi o primeiro tanzaniano a estudar numa universidade britânica e o segundo a completar um grau universitário fora de África, em 1952.[2] Voltou à ativa na política em 1953, quando era professor de história no Colégio São Francisco em Dar es Salaam,[1] primeiramente sendo eleito presidente da TAA.[3] Em 1954, auxiliado por Oscar Kambona, transformou a TAA no partido União Nacional Africana do Tanganica (TANU),[3] que liderou a luta pela independência da Tanganica contra a Grã-Bretanha.[3] Julius Nyerere passou a ser conhecido pelo cognome Mwalimu (professor, em língua suaíli), em função de sua anterior profissão antes de se tornar activo na política, mas também pela sua forma de liderar.[3] Em 1954 ocupa sua primeira função de grande projeção pública como membro interino do Conselho Legislativo Colonial da Tanganica, nomeado pelo governador da colônia Edward Twining, sendo removido rapidamente da função após seus primeiros embates públicos com as propostas coloniais.[3] Foi enviado em 1955 como representate do seu partido à Organização das Nações Unidas (ONU), numa viagem financiada pelos filiados à TANU.[3][4] Por suas posições anticoloniais perante a ONU, a autoridade colonial o colocou sob vigilância e pressionou que não lhe oferecessem empregos na Tanganica.[3] Nyerere retornou a Dar es Salaam em outubro de 1955.[3] Daí até a Tanzânia garantir a independência, viajou pelo país quase continuamente.[3] Nyerere impôs grande esforço para construir um pensamento anticolonial multirracial na TANU, como forma de combater as acusações proferidas governador colonial Edward Twining de que havia uma forte carga racista contra asiáticos e brancos dentro dos movimentos nacionalistas tanzanianos.[3] Nyerere insistiu na posição de que a TANU deveria participar nas eleições Conselho Legislativo Colonial da Tanganica.[3] Ocorridas entre 1958 e 1959, a TANU ganhou todos os lugares que disputou.[3] Nyerere ganhou como candidato da TANU no assento do Círculo Eleitoral das Províncias Orientais, garantindo que o Conselho fosse dominado pela TANU e pelos partidos aliados.[5] Em março de 1959, o novo governador britânico da Tanganica, Richard Turnbull, deu à TANU cinco dos doze cargos ministeriais disponíveis no governo da colônia.[3] Ao contrário de Twining, Turnbull estava preparado para trabalhar por uma transição pacífica para a independência.[5] Em 1960, Nyerere participou de uma conferência de estados africanos independentes em Adis Abeba, Etiópia, na qual apresentou um documento pedindo a formação de uma Federação da África Oriental, que uniria a independência da Tanganica aos vizinhos Quênia e Uganda, mas foi voto vencido dentro de seu partido.[3] Na sequência das conversações com a potência colonizadora e de novas eleições no partido, Nyerere tinha sido confirmado como lider partidário em 1959. Nas eleições gerais de agosto de 1960, a TANU conquistou 70 dos 71 assentos disponíveis.[3] Como líder da TANU, Nyerere foi chamado para formar um novo governo;[3] ele se tornou o primeiro-ministro da Tanganica.[5] Naquele ano, o primeiro-ministro britânico Harold Macmillan fez seu discurso "Vento da Mudança", indicando a disposição britânica de desmantelar o império colonial na África.[5] Em março de 1961, uma conferência constitucional foi realizada em Dar es Salaam para determinar a natureza de uma constituição independente;[3] tanto os ativistas anticoloniais quanto as autoridades britânicas compareceram.[3] As negociações definiram que, após a independência, a Tanganica manteria a rainha britânica Isabel II do Reino Unido como chefe de estado por um ano antes de se tornar uma república.[3] Em maio, a Tanganica alcançou o autogoverno.[3] Um dos primeiros atos de Nyerere como primeiro-ministro foi interromper o fornecimento de trabalhadores de Tanganica para as minas de ouro da África do Sul.[3] Com a independência total e a proclamação da república, em 9 de dezembro de 1962, tornou-se o seu primeiro Presidente.[3] Inicialmente como um dirigente que trabalhava pela justiça social, unidade nacional e boas relações raciais, Nyerere conduziu a união política entre o Tanganica e Zanzibar, que levou à constituição da República Unida da Tanzânia em 1964. Em 1977, lidera a fusão do seu partido com o Partido Afro-Shirazi de Zanzibar para formar o Partido da Revolução (ou Chama Cha Mapinduzi em suaíli). Nyerere, que se conservou no poder até 1985 quando, voluntariamente decidiu deixar a presidência, conduziu o país segundo uma política denominada "Socialismo Africano", internamente designada "Ujamaa", que significa "unidade" ou "família", em suaíli. Estabeleceu laços com a República Popular da China, que financiou a construção do Caminho de Ferro Tanzânia–Zâmbia, de ligação entre o porto de Dar es Salaam e a Zâmbia,[6] e participou ainda noutros projetos industriais. Apesar do esforço em termos de educação, que fez com que a Universidade de Dar es Salaam, e principalmente o seu Instituto de Ciências Marinhas, transformem-se em centros de excelência, a política Ujamaa não alcançou todos os resultados pretendidos e foi abandonada gradualmente pelos governantes que o sucederam. Além disso, recebeu fortes críticas pelo crescente autoritarismo de seu governo, inclusive com a prisão de antigos aliados, como Abdulrahman Mohamed Babu, em 1972, que somente não foi morto após uma enorme campanha internacional.[7] Nyerere foi também um dos fundadores da Organização da Unidade Africana (OUA) em 1963 e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, liderando o Comité de Descolonização da OUA, fornecendo grande apoio à Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) durante a Guerra de Independência de Moçambique e a Milton Obote do Uganda, que conseguiu depor pelas armas o ditador Idi Amin. Em 1978, contudo, viria a travar guerra contra os ugandenses, se saindo vitorioso na Guerra Uganda-Tanzânia. Depois de deixar a presidência da Tanzânia, Nyerere continuou activo na política internacional, principalmente como Presidente do Intergovernmental South Centre e teve um papel central como mediador do fim conflito no Burundi, em 1996. Livros da autoria de Julius Nyerere
Referências
Bibliografia
Ligações externas
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