Mato Grosso do Sul e Minas Gerais registraram as maiores temperaturas da onda de calor, com marcas acima de 43 °C durante vários dias em ambos os estados, sobretudo de 12 a 19 de novembro de 2023.[4] No dia 19, o município de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, observou máxima de 44,8 °C, a maior temperatura registrada no Brasil pelo INMET.[5][6]
Nos meses de agosto, setembro e outubro de 2023 o Brasil já havia enfrentado outras três ondas de calor intensas, porém a de novembro foi mais abrangente e intensa,[7][8] apontada pela MetSul Meteorologia como uma das mais fortes da história do país.[1] Em dezembro, uma nova onda de calor foi registrada, mas com menor força. Todos os meses de julho a novembro de 2023 bateram recordes de temperatura média no Brasil.[9]
Descrição
Enquanto que Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste foram as regiões mais afetadas, com vários dias seguidos com temperaturas acima de 40 °C, chegando a anomalias de 15 °C acima da média do mês, apenas o Sul foi pouco atingido.[3] A região da Amazônia também vinha enfrentando, desde junho, uma seca sem precedentes e recordes de baixos níveis de rios.[10][11] Alertas de calor extremo foram divulgados por institutos de meteorologia, como a MetSul Meteorologia e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) nos dias que antecederam o avanço da onda de calor,[12] com expectativa de durar de uma a duas semanas, dependendo da região.[1]
O evento foi formado a partir de uma massa de ar quente vinda da Argentina, Bolívia e Paraguai. A atuação anormal de um anticiclone, uma grande área de alta pressão atmosférica também chamada de "bolha de calor", foi a responsável pela manutenção de vários dias seguidos sem nuvens e com temperaturas acima do normal.[1] Isso contrasta com o padrão normal de novembro na maioria das áreas afetadas, nas quais deveria ocorrer o começo da estação das chuvas.[7] O fenômeno El Niño é um fator que contribuiu com o calor e ar seco extremos, uma vez que ele altera a circulação de ventos na atmosfera e dificulta o avanço de frentes frias sobre a América do Sul.[7] Entretanto, houve a influência das mudanças climáticas no agravamento das ondas de calor brasileiras,[13] acompanhando a tendência de aquecimento da Terra.[8]
A ausência de nuvens e chuva por um longo período foi fundamental para que as temperaturas se elevassem muito.[9] Durante a onda de calor, a umidade do ar em níveis médios da atmosfera, em associação às altas temperaturas, conseguiu provocar chuvas e trovoadas em pontos isolados, mas sem forças para amenizar o calor por muitas horas.[14][15] Uma frente fria conseguiu avançar sobre partes das regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil a partir do dia 19 de novembro, reduzindo a intensidade da onda de calor e provocando chuvas mais abrangentes e temporais localizados.[2] O choque entre o ar quente da onda de calor e o ar mais frio da baixa pressão favoreceu a formação de áreas de chuva mais intensas.[16] Apesar da diminuição das temperaturas, o esperado era que elas continuassem acima da média.[2]
Temperaturas
Extremos de temperatura
44,8 °C - Araçuaí, MG, 19 de novembro de 2023 - maior temperatura registrada no Brasil pelo INMET[4][5][6]
O município de Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, registrou uma temperatura mínima de 32,7 °C no dia 13 de novembro de 2023.[4][20]
Capitais
Em Cuiabá a temperatura passou dos 40 °C por treze dias seguidos, de 6 a 18 de novembro de 2023,[20] com a maior sendo de 42 °C no dia 13, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). No Rio de Janeiro a máxima chegou a 42,5 °C no dia 18.[4] Em 16 de novembro, Goiânia chegou aos 39,7 °C, recorde para um dia de novembro segundo o INMET.[21] A cidade de São Paulo registrou 37,7 °C nos dias 13 e 14 de novembro de 2023, recorde para novembro e segunda maior temperatura já medida pela estação convencional do Mirante de Santana do INMET. Perde apenas para os 37,8 °C de 17 de outubro de 2014.[22]
Em Campo Grande as temperaturas passaram de 37 °C em sete dias consecutivos, de 11 a 17 de novembro, com um pico de 37,7 °C no dia 16.[4] Em Belo Horizonte passaram de 37 °C em seis dias seguidos, de 13 a 18 de novembro, com a maior sendo de 37,9 °C nos dias 14 e 16, registrada pelo INMET na Pampulha.[4][23]
Consequências
O fenômeno climático contribuiu com o aumento dos incêndios do Pantanal.[24] Mais de um milhão de hectares do bioma foram consumidos pelo fogo desde o começo do mês, mais de três vezes do que o registrado durante o ano de 2022 todo.[25] Em Minas Gerais, por sua vez, o registro de incêndios aumentou 133% de 1º a 15 de novembro em comparação com novembro de 2022 inteiro. O mesmo período teve mais atendimentos de incêndio do que os meses de novembro de 2021 e de 2022 juntos.[26] O norte mineiro teve o quadro de seca agravado pela onda de calor, uma vez que o fenômeno atrasou o retorno da estação das chuvas. A estação seca de 2023, que já havia começado mais cedo, também se prolongou, provocando seca de cursos hídricos, falta d'água em cidades e comunidades, destruição de plantações e morte de criações de gado.[27] No país, houve um aumento de 74% na ocorrência de incêndios florestais.[28]
Em Belo Horizonte a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) alegou que o consumo de água aumentou em 20%, o que teria motivado desabastecimento em áreas da cidade e da região metropolitana.[29] No Espírito Santo a sequência de dias quentes e secos e o aumento do consumo afetou o abastecimento de água em 53 municípios.[30] Por influência da onda de calor, o consumo instantâneo de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN) atingiu um recorde às 14h17min (UTC−3) do dia 13 de novembro.[20]
A onda de calor coincidiu com o segundo domingo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 12 de novembro, prejudicando a concentração dos participantes das provas em escolas sem ar condicionado.[31] Houve registros de jovens que passaram mal devido às altas temperaturas.[32][33] Em algumas instituições de ensino houve o cancelamento parcial ou total de aulas presenciais ou suspensão de aulas de educação física.[34][35] As mortes e atendimentos médicos relacionados à exposição ao calor também se intensificaram. Somente no estado de São Paulo, o aumento desse tipo de atendimento ambulatorial foi de 102,5% em relação a 2022.[28]
No dia 17 de novembro de 2023, cerca de mil pessoas desmaiaram durante o show da turnê mundial The Eras Tour, da cantora estadunidense Taylor Swift, realizado no Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro.[36] A estudante Ana Clara Benevides Machado sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu durante o concerto.[37][38][39] No dia a temperatura havia chegado aos 39,1 ºC na cidade, segundo o INMET. Contudo, a entrada de água foi proibida pela empresa responsável pela organização. No dia seguinte, a temperatura chegou aos 42,5 °C, a maior de 2023, e a organização decidiu adiar o show que estava marcado para a noite.[40]