Reino de Baguirmi
O Reino de Baguirmi,[1] também grafado nas formas Bagirmi (em árabe: مملكة باقرمي; Mamlakat Bāqirmī; em francês: Royaume du Baguirmi) foi um entidade política pré-colonial africana que existiu durante a idade moderna até o final do século XIX.[2][3] Localizado na região central da África, no que corresponde ao atual Chade, mais especificamente nas regiões próximas ao rio Chari, tinha como sua capital Massenya, ao norte desse rio e perto da fronteira do atual Camarões.[2] Baguirmi estendia-se por mais de 112 000 quilômetros (70 000 mi) quadrados, incluindo Massenya, seus arredores e vários estados tributários.[4] A população era majoritariamente composta por barmas, mas também incluía fulas, canúris], árabes xuas e grupos vizinhos.[4] Seus soberanos ostentavam o título de mbang, um costume tradicional pré-islâmico que foi mantido mesmo após a islamização da elite e do sistema político do reino.[4] A primeira menção registrada a Baguirmi aparece em uma crônica de Bornu de 1578, com o nome grafado como Bacarmi.[4] A história do reino foi marcada por processos de centralização estatal, islamização e relações dinâmicas com outros poderes regionais, como os impérios de Bornu e Uadai, além de potências globais, como a França, que acabou incorporando Baguirmi ao Chade francês. No Chade contemporâneo, o legado de Baguirmi persiste de forma informal e tradicional no departamento de Baguirmi.[5] HistóriaFundação, consolidação e islamizaçãoAs tradições orais são a principal fonte de conhecimento sobre as origens de Baguirmi.[nota 1] Não se sabe ao certo quando ou por quem o estado foi fundado, com algumas fontes indicando 1480, quando se acredita que o líder Abde Almamude Begli teria estabelecido o reino,[4] enquanto outras datam a fundação para 1522, atribuindo-a a Dala Birni Besse.[4][5][7] De acordo com a tradição associada a Abde Almamude Begli, ele e seus sucessores construíram um palácio e um tribunal na cidade de Massenya, ao norte do rio Chari.[4] A tradição em torno de Dala Birni, por sua vez, sugere que ele teria liderado seu povo desde o território de Quenga, onde, ao parar diante de uma tamarineira (chamada mas na língua barma), fundou o assentamento que viria a se tornar a capital Massenya.[5] A adoção do islamismo foi um marco importante na história de Baguirmi, embora a data exata de sua conversão inicial seja imprecisa.[5][8][9][10] A islamização facilitou alianças com outros estados islâmicos e permitiu que Baguirmi se integrasse às redes comerciais transaarianas.[5] A cidade de Bidiri, por exemplo, tornou-se um importante centro de aprendizado islâmico, enquanto seus mercadores estavam presentes em diversas partes da região.[5] Rivalidade com BornuDesde seus primeiros anos, Baguirmi enfrentou a rivalidade de estados vizinhos, especialmente o Império de Bornu, uma potência dominante na região, e mais tarde com o Império de Uadai.[4][11] Entre 1650 e 1675, durante o reinado do rei Idris Alauoma, Baguirmi se submeteu à vassalagem do Império de Bornu.[4][6][11][12] Durante esse período, a cultura e os sistemas administrativos de Bornu influenciaram fortemente Baguirmi, que estava inserido na periferia de uma rede comercial transaariana e de peregrinação para a Arábia, sendo Bornu um intermediário nesse vasto sistema de trocas.[4] O comércio entre Baguirmi e Bornu envolvia peles de animais, marfim, algodão e escravos — incluindo eunucos —, enquanto Baguirmi recebia cobre e conchas de cauri como moeda.[4] Apesar dessa relação de dependência, diversos governantes de Baguirmi se rebelaram contra o domínio de Bornu, como no caso de Abdullah, que foi assassinado após uma expedição militar de Bornu.[4] Em meados do século XVIII, durante o reinado do mbang Maomé Alamim, Baguirmi reconquistou sua independência, embora tenha permanecido um estado tributário de Bornu por um período adicional.[4][13] Após recuperar a autonomia, o reino expandiu-se consideravelmente para regiões fronteiriças vulneráveis, incorporando territórios como Muzgu, Gummai e Kung.[6][12] Essas regiões tributárias sob o governo direto de Baguirmi eram governadas pelos angares, os governadores de distrito.[6] Os governantes de Baguirmi frequentemente tinham coesposas de regiões fronteiriças, o que levou à integração de uma elite estatal entrelaçada aos pequenos estados tributários.[nota 2] A estrutura militar de Baguirmi frequentemente cooperava com povos nômades para subjugar estados menores, os quais pagavam tributo, incluindo cerca de mil escravos anuais para o palácio.[5] Escravos adquiridos no sul eram uma mercadoria crucial, sendo utilizados no comércio transaariano, na agricultura local, como servos do mbang e até como eunucos para o Império Otomano.[nota 3][12] Declínio e colonizaçãoNo final do século XVIII e início do XIX, Baguirmi sofreu um declínio significativo.[6] Aproveitando-se da fragilidade do reino, o colaque Sabum de Uadai lançou uma ofensiva em 1805, capturando Massenya, massacrando o mbang e sua família, e dizimando a população, que foi posteriormente escravizada.[5][12][14] Essa invasão de Uadai marcou o início de um longo período de declínio, durante o qual Baguirmi se tornou um estado tributário de Uadai e nunca mais conseguiu recuperar sua autonomia política.[8][12] Embora Baguirmi tentasse recuperar sua autonomia por meio de contraofensivas, como as realizadas contra Uadai e Bornu, essas tentativas foram em grande parte infrutíferas.[5] Em 1870, a capital Massenya foi sitiada e parcialmente destruída por Uadai, e em 1893, Rabi Azubair, um senhor da guerra influente, destruiu Massenya e conquistou o restante do território de Baguirmi.[12][15] Diante dessa situação, o soberano Abderramão Guaranga aceitou a intervenção colonial francesa, que resultou na constituição do protetorado francês em 1897.[5][15] O exército francês, com a ajuda de soldados de Baguirmi, matou Rabi em 1900, o que levou à desintegração do território comandado por ele.[12][15] Em 1902, o protetorado de Baguirmi foi oficialmente estabelecido e incorporado ao Território Militar do Chade.[15] Com o regime colonial francês, que perdurou até 1960, e após a independência do Chade, Baguirmi deixou de ser um reino independente, embora sua memória e legado cultural continuem vivos na região.[5] Ver tambémNotas
Referências
Bibliografia
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