Rio Ili
O rio Ili é um rio da Ásia que nasce na República Popular da China e desemboca no Lago Balcache, no Cazaquistão. Tem 1 439 km de comprimento. O rio forma um delta de aproximadamente 1 800 km². Utilizam-se suas águas, e o seu volume é reduzido consideravelmente. É o principal afluente do Lago Balcache. Parte de seu vale foi um trecho da variante norte da Rota da Seda terrestre.[1] Atualmente, a região chinesa do Vale do Rio Ili, é uma subdivisão de Sinquião, composta por oito municípios: Gulja, Huo-cheng, Nileke, Xinyuan, Gongliu, Tekesi, Zhaosu e Qapqal Sibe. Em 1949, a população daquela região era de 462 655 de habitantes. Em julho de 1982, chegou a 1 554 281. Em 1988 era calculada em 2 067 372. Nessa área habitam diversas etnias como cazaques, uigures, os mongóis, os sibes, e outros. HistóriaDepois da conquista da Zungária (norte de Sinquião) e da Bacia do Tarim (Casgária) (sul de Sinquião) pela Dinastia Chingue, a região de Sinquião passou a ser uma Província da China, e a região do Rio Ili ganhou maior importância, pois foi naquela região onde foi instalado o comando militar de toda a Província de Sinquião. A conquista do norte de Sinquião reduziu a população local e criou condições para uma onda migratória em direção àquela região. Na região do Vale do Rio Ili foram instaladas oito guarnições militares. Nas cidades de Huiyuan e de Huining, foram instaladas guarnições do Exército Oito Bandeiras que eram compostas principalmente por soldados das etnias manchu e mongol, em Huiyuan a guarnição tinha 4 240 militares, enquanto que a guarnição de Huining tinha 2 144. Também estavam instalados em Sinquião: 3 000 militares do Exército Verde (Lüying), composta por 1 837 mongóis chahar, 1 018 sibes e 1 018 das etnias solon e daur (ambas etnias tungúsicas). Além disso foram assentados 1 200 oirates em fazendas voltadas para a produção de alimentos para o Exército Bandeira (Qituns) no Vale do Rio Ili, pelo Imperador Qianlongo, entre 1764 e 1765. Além disso, foi permitido o retorno dos jasaques, torgutes nômades que haviam migrado para a região do Rio Volga, e em 1771, retornaram à região do Vale do Rio Ili. Nesse contexto, também merece destaque a remoção de mais de 6 000 famílias de taranchis, atualmente conhecidos como uigures, para a região do Rio Ili. O deslocamento forçado de camponeses de aldeias do sul Sinquião como Aksu e Iarcanda para a região do Vale do Rio Ili teve precedentes na época do Canato Zungar. Pouco antes da Revolta Dungã, os taranchis foram submetidos a altos impostos. Pode-se dizer que a presença desses Taranchis, que eram muçulmanos, foi uma dos fatores que permitiu a eclosão da rebelião muçulmana na região do Rio Ili. Pelo exposto, observa-se que, na época da Revolta Dungã havia uma sociedade diversificada na região do Rio Ili, que além dos povos acima relatados, contava com uma parte da população da etnia cazaque. A região tinha sete cidades, sendo as mais importantes: Gulja, que tinha uma grande população muçulmana, e Huiyuan que era a sede do governo. Interesses RussosA partir da década de 1840, comerciantes de nacionalidade russa passaram a atuar na região do Rio Ili e em Tarbagatai (também conhecido como Chuguchak), apesar de tal atividade, nos termos do Tratado de Kyakhta, de 1727, ser permitida apenas em Nerchinsk e em Kyakhta.[2] Os comerciantes russos tinham interesse em adquirir chá preto[3] e produtos têxteis e queriam autorização para realizar suas atividades em outras localidades. Tal atividade foi legalizada por meio do Tratado de Kuldja em 1851, que permitiu a atuação de comerciantes russos no Vale do Rio Ili e em Tarbagatai, além disso permitiu a nomeação de cônsules do Império Russo nas cidades de Chuguchak e em Kuldja.[4] Em 1855, ocorreu um incêndio criminoso na zona de comércio russo em Tarbagatai, o que inviabilizou a atuação dos comerciantes russos no local. Na região do Vale do Rio Ili, também houve uma retirada de comerciantes e funcionários consulares russos em decorrência do incidente Tarbagatai. Em 1857, o cônsul russo solicitou autorização para o transporte fluvial pelo Rio Ili, mas isso foi recusado pela Dinastia Chingue.[5] Em 1860, foi assinado o Tratado de Pequim, que previa o estabelecimento de uma fronteira ocidental permanente, mas em outubro de 1864, essas fronteiras foram redefinidas por meio do Tratado de Tarbagatai, que ampliou os domínios do Império Russo, que passou a contar com o Lago Zaysan e com as terras a leste do Lago Balcache, incluindo parte do Vale do Rio Ili, com o Império Russo passando a exercer soberania sobre a parte navegável desse rio.[6] A situação se agravou com a eclosão da rebelião muçulmana durante a década de 1860. Em 1866, o consulado russo em Kulja foi fechado. Nesse contexto, o Império Russo procurou estabelecer uma rota de comércio mais ao norte, que passava por Kobdo no noroeste da Mongólia. A Revolta Dungan afetou áreas do Império Russo próximas à Sinquião, a partir de 1865, milícias oirates cruzaram a fronteira diversas vezes, principalmente na região próxima à Tarbagatai, além disso, em 1869, a revolta se espalhou em direção à Kobdo, enquanto a Dinastia Chingue ia retomando áreas controladas pelos rebeldes.
Antes da intervenção do Império Russo na Região do Rio Ili, muitos refugiados da Revolta Dungan tinham se instalado em território russo e houve negociações entre com a Dinastia Chingue para indenizações decorrentes desse fato. Uma comissão especial foi criada em Kopal na Rússia para tratar de uma solução para tais refugiados. Em 1871, 1 095 deles tinham recebido a cidadania russa, e a maioria dos outros 15 000 havia migrado em direção à parte superior do Rio Irtixe, ao leste do Lago Zaysan. Na primeira fase da Revolta Dungan no Vale do Rio Ili, taranchis e huis lutaram juntos contra a Dinastia Chingue, cercando as tropas manchus em Mancheng (Huiyuan) até obter a sua rendição. Entretanto, depois surgiu uma disputa entre taranchis e huis, que foi vencida pelos taranchis que estabeleceram um sultanato na região em maio de 1867, no qual Aila-khan (também conhecido como Abil-oghil) foi nomeado como sultão, que já era considerado o "Emir dos Taranchis" desde 1865. Intervenção RussaO principal motivo que levou o Império Russo a intervir militarmente na região do Rio Ili para suprimir o sultanato apoiado pelos taranchis, seria a ameaça de uma expansão desse sultanato para dentro das fronteiras russas, e também a possibilidade das tropas de Iacube Begue, que dominava a região de Casgária, tomassem o controle da região. No final de 1870, um líder cazaque chamado Tazabek e cerca de 1 000 famílias daquela etnia atravessaram a fronteira em direção aos domínios do sultanato e o sultão se recusou a atender um pedido do Império Russo para repatriá-los. Esse incidente foi determinante para a decisão russa de iniciar uma intervenção militar na região. No dia 20 de abril de 1871, foi realizada uma reunião em São Petersburgo, com a presença do Ministro da Guerra Dmitry Alekseyevich Milyutin, e representantes dos governadores do Turquestão e da Sibéria Ocidental na qual o Império Russo decidiu que deveria intervir imediatamente na região do Rio Ili. A demanda já era apoiada por Kaufman e pelos governadores de Semipalatinsk e Semireche. Naquele contexto havia relatos de pilhagens realizadas por moradores do sultanato contra súditos do Império Russo que moravam nas fronteiras. As tensões entre o Sultanato de Ili e a Rússia se intensificaram em 1871, quando os taranchis atacaram o posto de guarda russo em Boro-khotszir, e tiveram início as hostilidades. O exército russo capturou a Passagem Muzart e avançou para para tomar a Região do Rio Ili. Em 22 de junho (de acordo com o calendário juliano), o sultão se rendeu e a região do Rio Ili passou a ser controlada pelo Império Russo. Nessa época o Império Russo comunicou à Dinastia Chingue, por intermédio de Vlangal, embaixador russo em Pequim, que a intervenção ocorrera para libertar a região do Rio Ili do caos e que não tinha interesse em incorporar àquela região ao território do Império Russo. Posteriormente, o Império Russo esclareceu, numa reunião realizada em Sergiopol (atual Ayagoz), entre Boguslavsky e Rongquan, que não devolveria a região até que a Dinastia Chingue estivesse em condições de reocupar e manter a ordem. Em 1872, o Império Russo enviou caulbares para concluir um tratado comercial e reconhecer a independência do regime de Iacube Begue. Em 1881, em decorrência do Tratado de São Petersburgo, a região foi devolvida à China pelo Império Russo, governada pela Dinastia Chingue, e a fronteira entre os dois países, que existia antes da ocupação da Região do Rio Ili em 1871, foi deslocada um pouco para o leste, de modo que o território onde futuramente seria construída a cidade de Dzharkent, passou a pertencer ao Império Russo, onde se estabeleceram muitos taranchis que deixaram as porções mais ao leste da região do Rio Ili, após sua devolução à Dinastia Chingue. A Intervenção Russa como parte do Grande JogoOutro aspecto determinante para a intervenção do Império Russo, foi a disputa com o Império Britânico pelo controle da Ásia Central (Grande Jogo). Uma aliança com Iacube Begue que detinha o poder em Casgária, ao sul da Região do Rio Ili, passou a ser disputada pelos dois Impérios. O Governador do Turquestão realizou negociações com o regime de Iacube Begue, que, em 1868, enviou Xadi Mirza, como seu enviado para São Petersburgo. Por outro lado, o Império Britânico, enviou Robert Shaw (em 1868) e Thomas Douglas Forsyth (em 1870 e em 1873), como seus emissários para fazer acordos com Iacube Begue. O Império Russo temia um ataque de uma aliança entre Iacube Begue e o Império Britânico, nesse contexto, havia rumores de que Iacube Begue tentou arregimentar os huis da Região do Rio Ili para se juntar a uma aliança contra o Império Russo. O fato de Iacube Begue antes ter lutado pelo Canato de Cocanda contra o Império Russo, aumentava a percepção de risco para os russos.[7]
Referências
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