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Vídeo de Roberto Alvim como Secretário da Cultura

Comparativo publicado em reportagem da Deutsche Welle, empresa pública de radiodifusão da Alemanha.

O vídeo de Roberto Alvim como Secretário da Cultura faz referência a um vídeo veiculado em 16 de janeiro de 2020, quando Roberto Alvim era então o secretário especial da Cultura do Ministério do Turismo do Governo Jair Bolsonaro. No vídeo de caráter institucional, Alvim parafraseia trechos de um discurso feito a diretores de teatro em 1933 por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha Nazista. O vídeo repercutiu mundialmente, sendo noticiado diversos veículos internacionais, como a estadunidense Time Magazine[1] e a CNN Internacional,[2] os ingleses The Guardian[3] e BBC,[4] o francês France 24,[5] bem como o Art Newspaper,[6] dentre tantos outros.

Características

Além de parafrasear Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, durante o vídeo em questão, a música de fundo era a ópera Lohengrin, de Richard Wagner, apreciada por Adolf Hitler,[7] bem como a disposição do cenário e o discurso foram apontados como muito similares à estética empregada pela propaganda nazista.[8] O vídeo divulgava um edital sancionado por Alvim no valor de 20 milhões de reais, e que foi cancelado após a exoneração do secretário. O edital subsidiaria produções de filmes, quadrinhos, peças e exposições de arte.[9][10]

Citações

A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada.
— Roberto Alvim[11]
A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.
— Joseph Goebbels[12]:301
…a cultura não pode ficar alheia às imensas transformações intelectuais e políticas que estamos vivendo
— Roberto Alvim[13]
…tampouco o cinema pode ficar alheio às imensas transformações intelectuais e políticas.
— Joseph Goebbels[12]:301

Reações do governo

O governo, inicialmente, declarou que não comentaria o episódio[14] e Bolsonaro considerou manter Alvim no cargo,[15] após este ter afirmado que a associação do vídeo com o nazismo teria sido mera coincidência.[16] Diante da ampla repercussão negativa, no entanto, Alvim foi exonerado.[17]

Reação de Roberto Alvim

Alvim afirmou que apesar de a citação ter "origem espúria", as ideias refletidas no discurso são condizentes com o seu posicionamento e explicou que a filiação de Goebbels com o nacionalismo na arte é semelhante à sua, mas que não se pode depreender daí uma concordância sua com toda a parte espúria do ideal nazista. Mais tarde, declarou que desconhecia a origem da frase e que, se soubesse, jamais a teria empregado.[18] Por outro lado, segundo funcionários de sua assessoria, o secretário tinha consciência da autoria da frase e das semelhanças estéticas do vídeo com a propaganda nazista.[19] Posteriormente, Alvim declarou desconfiar de uma "ação satânica" no evento.[20][21]

Repercussão

O vídeo causou indignação da opinião pública. A Confederação Israelita do Brasil, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, o presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e o embaixador israelense no Brasil, Yossi Shelley pediram a demissão do secretário.[22][23][24][25] O vídeo também recebeu manifestações de repúdio de outros políticos de diversos partidos, de ministros do Supremo Tribunal Federal, de jornalistas e de personalidades da classe artística.[26]

Um ano depois do incidente, em janeiro de 2021, Alvim emitiu nota através da coluna da jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, classificando o discurso como o maior erro de sua vida, explicou que não viu qualquer conotação nazista nele e que jamais o teria pronunciado se conhecesse sua "origem nefasta".[27][28] Alvim também declarou que havia deixado o Brasil sem intenções de retornar.[29]

Referências

  1. Nugent, Ciara (17 de janeiro de 2020). «Brazil's Culture Secretary Fired After Quoting Nazi Propaganda Minister Joseph Goebbels in a Speech». TIME (em inglês). Consultado em 29 de janeiro de 2025 
  2. Guy, Vasco Cotovio,Jack (17 de janeiro de 2020). «Brazil's culture secretary fired after appearing to quote Nazi leader Joseph Goebbels in a video». CNN (em inglês). Consultado em 29 de janeiro de 2025 
  3. Cowie, Sam (17 de janeiro de 2020). «Brazil culture secretary fired after echoing words of Nazi Goebbels». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 29 de janeiro de 2025 
  4. «Brazil's culture minister fired after echoing Goebbels» (em inglês). 17 de janeiro de 2020. Consultado em 29 de janeiro de 2025 
  5. «Brésil : le secrétaire d'État à la Culture limogé après avoir paraphrasé un discours de Goebbels». France 24 (em francês). 17 de janeiro de 2020. Consultado em 29 de janeiro de 2025 
  6. «Brazil's culture secretary dismissed after channeling Joseph Goebbels in video promoting national arts prize». The Art Newspaper - International art news and events (em inglês). 17 de janeiro de 2020. Consultado em 29 de janeiro de 2025 
  7. «Roberto Alvim copia discurso do nazista Joseph Goebbels e causa indignação». O Globo. Globo. 16 de janeiro de 2020 
  8. «Discurso de Goebbels, ópera de Wagner e cruz medieval: os símbolos do vídeo que derrubou Roberto Alvim». Gaúcha ZH. RBS. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020 
  9. «Governo suspende edital anunciado por Alvim em citação nazista». Valor Econômico. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  10. «Governo suspende edital anunciado por Alvim em vídeo associado ao nazismo». Folha de S.Paulo. 22 de janeiro de 2020. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  11. «Em vídeo, Alvim copia Goebbels e provoca onda de repúdio nas redes sociais». Folha de S.Paulo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 17 de janeiro de 2020 
  12. a b Longerich 2015.
  13. «Advogada afirma que descobriu 'ligação' de discursos de Alvim e nazista por acaso». UOL. Consultado em 18 de janeiro de 2020 
  14. «Planalto diz que não comentará vídeo em que secretário copia Goebbels». Folha de S.Paulo. Folha da manhã. 17 de janeiro de 2020 
  15. «Bolsonaro não queria demitir Alvim, mas foi convencido após ligação de Alcolumbre». Huffpost. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020 
  16. «Bolsonaro cogitou manter secretário Alvim no cargo». Uol. Folha da manhã. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020 
  17. «Bolsonaro exonera secretário da Cultura, que fez discurso com frases semelhantes às de ministro de Hitler». G1. Consultado em 17 de janeiro de 2020 
  18. «Discurso de Alvim com referências ao nazismo gera repúdio maciço nas redes». Deutsche Welle. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 17 de janeiro de 2020 
  19. «Secretário de Cultura sabia que frases eram de Goebbels, dizem assessores». G1. Globo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020 
  20. «Roberto Alvim diz desconfiar de "ação satânica" em sua demissão». EXAME. Consultado em 24 de janeiro de 2020 
  21. «Roberto Alvim diz desconfiar de 'ação satânica' por trás de vídeo e de sua demissão». Folha de S.Paulo. 20 de janeiro de 2020. Consultado em 13 de janeiro de 2022 
  22. «'Assombrosa inspiração nazista', diz Alcolumbre sobre fala de secretário nacional de Cultura». G1. Consultado em 17 de janeiro de 2020 
  23. «Confederação Israelita diz que 'discurso nazista' de Alvim é inaceitável». Folha de S.Paulo. Folha da manhã. 17 de janeiro de 2020 
  24. «Rodrigo Maia diz que Alvim passou dos limites e pede afastamento». Folha de S.Paulo. Folha da manhã. 17 de janeiro de 2020 
  25. «Mônica Bergamo: Embaixador de Israel no Brasil pressionou Bolsonaro por medida contra Alvim». Folha de S.Paulo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 13 de janeiro de 2022 
  26. «Confira a repercussão da fala que levou à exoneração de Roberto Alvim». O Povo. 17 de janeiro de 2020. Consultado em 18 de janeiro de 2020 
  27. «Mônica Bergamo: Roberto Alvim diz que discurso nazista foi 'engano terrível' que 'quase me custou a vida'». Folha de S.Paulo. 8 de janeiro de 2021. Consultado em 9 de janeiro de 2021 
  28. «Roberto Alvim chama discurso nazista de 'engano terrível', um ano após demissão». O Globo. 8 de janeiro de 2021. Consultado em 9 de janeiro de 2021 
  29. Szpacenkopf, Marta. «Roberto Alvim diz que saiu do Brasil após demissão por vídeo nazista e defende o seu projeto». Lauro Jardim - O Globo. Consultado em 12 de janeiro de 2021 

Ligações externas

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