Barra de São Francisco Nota: Não confundir com Barra do São Francisco (um distrito fluminense).
Barra de São Francisco é um município brasileiro situado na região noroeste do estado do Espírito Santo, integrante da região sudeste do Brasil. Sua população, segundo o Censo do IBGE, em 2022, era de 42498 habitantes.[7] A cidade é a 13ª mais populosa do Espírito Santo[8] e a segunda mais populosa do noroeste capixaba, atrás de Nova Venécia[9]. A agricultura foi, ao longo de décadas, o principal motor econômico do município, principalmente a produção de café[10], mas, nos últimos anos, Barra de São Francisco se fortaleceu como polo de extrativismo mineral. A cidade tem a maior jazida de granito amarelo do mundo[11]. O nome do município faz referência a uma particularidade geográfica: é dentro do seu território que o Rio São Francisco encontra sua barra, ou seja, deságua no Rio Cricaré[12]. A cidade tem o epíteto de "sentinela capixaba",[13] que faz referência ao papel histórico de permanente vigilância que exerceu ao longo do Contestado entre os estados do Espírito Santo e de Minas Gerais. Durante o período, a região foi alvo de disputa entre as duas unidades federativas[14]. Barra de São Francisco também é conhecida como a "terra do granito". Isso se deve ao título de capital estadual do granito, concedido pelo Governo do Estado do Espírito Santo, em 2012.[15] HistóriaO perímetro que viria a ser a cidade de Barra de São Francisco começou a ser ocupado em 1927[10], com a chegada de posseiros procedentes de Minas Gerais, que buscavam terras devolutas e começaram a abrir clareiras na mata. Os primeiros ocupantes da região se instalaram na confluência entre o Rio São Francisco e o Rio Itaúnas e batizaram o local como Patrimônio de São Sebastião.[8] Em 24 de junho de 1935, a localidade se torna distrito de São Mateus e passa a se chamar Barra de São Francisco[8]. Através da lei 15177, em 31 de outubro de 1943,[16] Barra de São Francisco é elevada à categoria de município, desmembrado de São Mateus. A instalação ocorreu em 1º de março de 1943[10] e o feriado de festividade da cidade é comemorado em 04 de outubro,[17] dia de São Francisco de Assis. O pontapé inicial na história do local remonta ao período colonial, quando a região ainda era uma mata inexplorada. Em 08 de outubro de 1800[14], quando o Rio Doce foi aberto para a navegação, o governo colonial determinou a instalação de um posto de fiscalização para impedir o tráfico de pedras preciosas oriundas de terras mineiras. Em 18 de outubro de 1904[14], Espírito Santo e Minas Gerais estabeleceram a Serra dos Aimorés como marco físico do limite territorial entre os dois estados. O Contestado entre Espírito Santo e Minas GeraisEm 1911,[14] os dois estados assinaram um convênio para ratificar a questão dos limites territoriais, mas o documento, ao invés de trazer entendimento, contribuiu para a disputa pelo espaço geográfico, pois trazia dupla denominação do maciço que serviria como marcador da divisa territorial: “Serra dos Aimorés”, ou “Serra do Souza”. A falta de clareza dessa peça legal alimentou a imprecisão sobre o limite territorial entre as duas unidades federativas na região. A questão chegou ao Supremo Tribunal Federal em 1914,[14] momento em que o órgão confirmou a divisa entre os estados na Serra dos Aimorés. Essa decisão passou a ser contestada tanto pelo governo capixaba, como pelo mineiro. Nesse contexto, uma obra importante foi inaugurada em 1928[18]: a Ponte Florentino Avidos, em Colatina. Essa foi a primeira ligação terrestre a transpor o Rio Doce no território espírito-santense, facilitando o acesso de contingentes populacionais originários de outras regiões do estado, em busca de terras para se estabelecer. Em 1937,[10] um edital do governo mineiro afirmava que a então região capixaba de Mantena pertencia a Minas Gerais. Esse documento reacendeu a disputa entre os dois estados e iniciou um período de escalada de tensão na região. Isso aconteceu porque toda a área contestada passou a viver sob dupla jurisdição[14]. Como os dois estados reivindicavam a posse do território, os registros de imóveis e de terras feitos em cartórios do Espírito Santo não eram reconhecidos pelos mineiros e vice-versa.[14] Em uma região praticamente inexplorada e com grandes áreas de terras devolutas, essa situação levou ao aumento da insegurança entre a população, uma vez que, sem garantias da Justiça, os conflitos pela posse de terras evoluíam para disputas violentas, que deixaram um número incerto de vítimas.[14] Em 1940,[14] o presidente Getúlio Vargas enviou homens do Serviço Geográfico do Exército à região, para resolver a situação. A comitiva, formada por geógrafos e engenheiros, elaborou um mapa, no qual constavam as mesmas divisas territoriais anteriores, o que desagradou a ambos os estados. A partir de 1942[14] a tensão na região contestada aumentou. A animosidade entre capixabas e mineiros, civis ou militares, era grande. Relatos da época registraram o assassinato de um policial mineiro por um militar capixaba, após insultos e provocações. Em 1948,[14] o Governo do Espírito Santo determinou a ocupação da área em disputa por um efetivo de 600 agentes de segurança. No ano seguinte, os dois estados enviaram novos contingentes de policiais para a região. O conflito entre as forças de segurança capixabas e mineiras jamais chegou a ocorrer, mas o envio de tropas era uma forma de demonstração de força e de intimidação de parte a parte. A tensão na região permaneceu elevada até 1958,[14] quando os governos estaduais retomaram negociações para um entendimento sobre o estabelecimento dos limites territoriais, após novo julgamento do STF não oferecer uma solução definitiva. O Contestado se encerrou no dia 15 de setembro de 1963,[19] com o acordo de efetiva divisão entre as partes e o tratado de paz, assinado pelos governadores Francisco Lacerda de Aguiar, do Espírito Santo, e Magalhães Pinto, de Minas Gerais. Ficou definido que a cidade de Mantena passaria a fazer parte do estado mineiro, enquanto Barra de São Francisco permaneceria integrada ao solo capixaba. Atualmente, um obelisco de granito,[14] localizado às margens da BR-381, no local da divisa entre os estados, celebra a paz entre capixabas e mineiros, com os dizeres: “este monumento demarca a linha de união entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, inspirado nos sentimentos de brasilidade dos mineiros e espírito-santenses, interpretados pelos governadores José de Magalhães Pinto e Francisco Lacerda de Aguiar." Em 2013,[19] quando foi comemorado o aniversário de 50 anos do fim do Contestado, o local recebeu um evento comemorativo, com a presença dos então governadores Renato Casagrande, do Espírito Santo, e Antônio Anastasia, de Minas Gerais. Os dois reforçaram os desejos de paz e de boa convivência entre os povos dos dois estados. EconomiaO Contestado marcou o desenvolvimento econômico de Barra de São Francisco a partir da segunda metade do século XX.[19] Isso aconteceu porque, durante o período de disputa entre os dois estados, o governo mineiro investiu na instalação de equipamentos públicos na região de Mantena. Estradas, escolas, postos policiais e de saúde, entre outros serviços públicos, conferiram maior infraestrutura para a cidade mineira, tornando-a mais atrativa e desenvolvida, além de demarcar a área que Minas Gerais queria manter para si[19]. Estagnada e sem os mesmos investimentos da vizinha, Barra de São Francisco vivia relação de certa dependência com Mantena[19]. O café, desde o início, foi o grande destaque da economia de Barra de São Francisco até a década de 1960, quando o Espírito Santo e o Brasil passaram a implementar a Política de Erradicação dos Cafezais.[20] O plano, montado pelo Governo Federal, visava desestimular o plantio do café para evitar as super safras, que derrubavam o preço do produto, tornando-o pouco vantajoso[20]. Esse foi um período de grande esvaziamento do município[19], com notável êxodo de pessoas que, em busca de mais perspectivas, migraram da região de Barra de São Francisco para o estado de Rondônia,[21] onde havia disponibilidade de terras baratas e incentivo do Governo Federal para a ocupação. Quem ficou, observou o foco da economia do município mudar do café para a pecuária.[19] No ramo agrícola, o cultivo de milho, feijão, arroz e cana, passou a se destacar, até os anos 1970, quando recomeçou o estímulo ao plantio do café, cultura que, até hoje, representa um percentual considerável do PIB francisquense. A nova fronteira econômica da cidade é a extração mineral, sobretudo de granito[11]. A mineração trouxe um novo impulso à economia da cidade, que possui as maiores jazidas de granito amarelo do mundo[11], com previsão de exploração ao longo de 2 mil anos.[15] Com o desenvolvimento trazido pela atividade mineradora, Barra de São Francisco se desenvolveu. Hoje, a cidade capixaba conta com muitas indústrias, empregos, comércio e instituições de ensino[22]. Desde 2007,[23] Barra de São Francisco faz parte da área da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), obtendo, com isso, benefícios fiscais que estimulam a atração de investimentos. Empresas que se instalam nessas áreas contam com desconto de até 75% no Imposto de Renda Pessoa Jurídica,[24] além de descontos no PIS/Pasep e Cofins para aquisição de maquinário[24]. GeografiaAlém da sede, Barra de São Francisco é composta por 08 distritos[25]:
ClimaDe acordo com a classificação climática de Koppen-Geiger, Barra de São Francisco tem clima do tipo Aw, ou seja, tropical chuvoso,[26] com estação seca no inverno. Agosto é o mês mais frio, com média de temperatura de 18ºC, podendo chegar a 16ºC, e precipitação inferior a 60 mm[26]. A temperatura média anual em Barra de São Francisco é de 24,5ºC, sendo fevereiro o mês com a média mais alta: 26,9ºC, com máximas de até 33,8ºC[26]. O primeiro trimestre do ano costuma ser o mais quente na cidade, enquanto o terceiro trimestre é o mais frio, mas com a maior amplitude térmica[26]. Anualmente, em média, o município recebe 1104,2 mm de chuva[26]. O período chuvoso é entre outubro e abril e concentra 87,2% do acumulado total anual, com média de 963,3 mm[26]. Entre maio e setembro, ocorre o período mais seco, com acumulado médio de 140,3 mm[26]. HidrografiaBarra de São Francisco está localizada na bacia hidrográfica do Rio Cricaré.[27] Afluentes de maior fluxo de água, como o Rio São Francisco e o Rio Itaúnas atravessam a sede do município[27]. O território francisquense possui diversas nascentes, mas que não se encontram conservadas, principalmente por conta do desmatamento e da falta de obediência à legislação ambiental[27]. Além do São Francisco e do Itaúnas, cursos-d’água de menor vazão também cortam a área da mancha urbana de Barra de São Francisco, como o córrego Miracema e o córrego Estrela. A hidrografia presente na área urbana da cidade encontra-se degradada e assoreada, recebendo esgoto in natura das residências[28]. A convivência da cidade com os rios e córregos também faz com que alguns bairros, como Centro, Campo Novo, Carabina, Nossa Senhora da Penha e Irmãos Fernandes estejam suscetíveis a enchentes.[29] Em dezembro de 2013[29], a cheia histórica dos rios São Francisco e Itaúnas provocou cinco inundações na cidade em um espaço de uma semana. Na época, a prefeitura calculou um prejuízo superior a R$ 35 milhões. VegetaçãoOriginalmente, o território de Barra de São Francisco era completamente coberto pela Floresta Atlântica.[27] Porém, estima-se que, atualmente, a vegetação original ocupe apenas 4% do território[27]. RelevoA área onde está situada Barra de São Francisco conta com um elevado número de rochas, compondo a Serra dos Aimorés. As formações rochosas apresentam altitudes de até 1500 metros. ParquesEm 1999, foi inaugurado o Parque Municipal Sombra da Tarde,[27] às margens da rodovia ES-320. Localizado a cerca de 1 quilômetro da sede do município, o parque é cortado pelo Rio São Francisco e conta com uma reserva florestal com remanescentes da fauna e da flora da mata atlântica brasileira[27]. TurismoPor conta das características do seu relevo, a região de Barra de São Francisco tem potencial para a prática de esportes considerados radicais,[30] como escalada, parapente e para realização de trilhas que levam até algumas cachoeiras, como a Cachoeira dos Mol, Cachoeira do Granito e Cachoeira do Denzol. No entanto, o desenvolvimento das atividades de turismo ligado à natureza ainda é incipiente. TransportesO principal modal de transporte em Barra de São Francisco é o rodoviário e a cidade é cortada pelas rodovias ES-080, ES-320, ES-220 e BR-381[31], que teve sua concessão estadualizada no trecho capixaba, denominando-se ES-381. A malha rodoviária do município também é composta por estradas vicinais que fazem a ligação da sede com comunidades mais afastadas, predominantemente de característica rural. Transporte públicoBarra de São Francisco conta com uma linha de ônibus urbano, operada pela Viação Pretti. O serviço liga os bairros Vila Luciene à Vila Landinha, conectando os pontos extremos, ao norte e ao sul da mancha urbana da cidade, passando pelo Centro. A cidade conta com uma pequena estação rodoviária, localizada no Centro, onde operam empresas como a Viação Águia Branca, Viação Pretti, Viação Expressa e Viação Moretti. Entre os principais destinos encontrados a partir da rodoviária de Barra de São Francisco estão Vitória, Serra, Vila Velha, São Mateus, Colatina, entre outros. Da rodoviária da cidade também partem linhas que ligam a sede aos demais distritos do município. Há décadas a cidade convive com promessas de modernização da rodoviária, que atualmente funciona em uma área apertada e divide espaço com o fluxo de pedestres e veículos que trafegam pelo Centro. Em 2021, a prefeitura chegou a assinar uma ordem de serviço[32] para realização do projeto de modernização da rodoviária, porém, a obra ainda não se concretizou. EsporteO principal equipamento esportivo da cidade é o Estádio Municipal Joaquim Alves de Souza, localizado no bairro Campo Novo, que sedia jogos de campeonatos amadores de futebol da região. A partir de 2024 o Real Noroeste, clube que disputa o Campeonato Capixaba de Futebol vai realizar jogos como mandante em Barra de São Francisco[33]. O anúncio foi feito após um acordo com a prefeitura do município. O estádio do clube, na cidade vizinha de Águia Branca, fica em uma região remota, às margens da rodovia ES-080, o que dificulta o acesso dos torcedores[33]. A expectativa do clube é que, com os jogos em Barra de São Francisco, a presença de público possa ser maior[33]. Para receber os jogos do Campeonato Capixaba, o Estádio Joaquim Alves de Souza deve passar por reformas[33]. Referências
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