Brasil na Copa do Mundo FIFA de 1950
A edição de 1950 da Copa do Mundo marcou a quarta participação da Seleção Brasileira de Futebol nessa competição. Era a primeira vez que o país sediaria o torneio da FIFA. Nesta edição o Brasil se tornou o único país a ter participado de todas as edições do torneio (marca que perduraria desde então), já que nenhuma das outras três seleções que disputaram os três Mundiais da década de 1930 participou; Bélgica e Romênia não se inscreveram para as Eliminatórias, e a França foi eliminada pela Iugoslávia; apesar de posteriormente convidados para cobrir a vaga da Escócia, que se classificou mas se recusou a participar do torneio, os franceses também optaram por ficar fora da Copa. O Brasil desfrutava de um clima de otimismo durante a competição. Havia conquistado o Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1949, troféu que colocou fim a uma longa seca brasileira, que não conquistava a competição desde a edição de 1922. Além de ter feitos maciços investimentos na Copa do Mundo, construindo o maior estádio do mundo na época, o Maracanã. O treinador foi Flávio Costa e o capitão Augusto.[1] O Brasil terminou com o vice campeonato após o famoso jogo conhecido como Maracanaço. PreparaçãoO Brasil teve sua candidatura aprovada pela FIFA em 1946. Inicialmente, o Brasil solicitou que a Copa ocorresse em 1949, mas devido a problemas logísticos, em 1947, definiu-se que a Copa ocorreria em 1950. Mesmo assim, diversas seleções desistiram de participar do mundial. A seleção brasileira foi convocada quatro meses antes da Copa do Mundo e ficou concentrado na cidade mineira de Araxá. Após o período de preparação foram dispensados: Mauro, Pinga, Brandãozinho, Ipojucan e Tesourinha. Os três primeiros viriam a participar da Copa do Mundo de 1954, enquanto Mauro viria também a ser o capitão do bicampeonato mundial. Mauro perdeu sua posição em duelo com Adãozinho, segundo o Globo Sportivo: "Mas surgiu uma oportunidade para um teste interessante. O match treino contra os gaúchos poderia permitir uma competição entre Mauro e Adãozinho, o zagueiro paulista que vinha cumprindo boas performances. (...). Mas Mauro perdeu a última chance. Adãozinho destacou-se na seleção gaúcha e venceu a competição com larga vantagem de pontos. Passou por Mauro sempre que quis, burlando-o, confundindo-o, desiludindo-o". A ponta-direita foi referida como um problema: "Maneca veio, inicialmente resolver o problema da ponta direita. Tanto Tesourinha quanto Friaça, os elementos convocados, não se apresentaram em condições. Participaram dos treinos, mas jamais deixaram transparecer suas possibilidades para a inclusão no plantel. Falharam muito, erraram muito".[2] Para o Jornal dos Sports, Tesourinha foi preterido devido à sua condição física: "o atacante gaúcho tem um joelho que o tem impedido de produzir à altura de suas verdadeiras possibilidades técnicas. Assegura-se, inclusive, que haverá a necessidade de extração de um dos meniscos".[3] No mesmo sentido, O Cruzeiro: "Tesourinha ainda não conseguiu entrar em plena forma. Está gordo, o que dificulta o seu desenvolvimento dentro da cancha".[4] Como Tesourinha foi titular na conquista do sul-americano no ano anterior, o Jornal dos Sports descreveu após a Copa do Mundo: "Hoje ainda é lamentada a ausência de Tesourinha no scratch brasileiro de 1950. O seu ingresso no Vasco depois de longa batalha contra o Internacional foi festejada por toda a torcida, que julgava resolvida assim o problema da ponta direita da seleção brasileira. (...). Mas Tesourinha não foi feliz tendo de abandonar os treinos para a Copa do Mundo devido a fratura do menisco. (...). Quando se recorda o que fez Tesourinha no Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1949 parece ter sido uma perda sensível para o team. Mas lembramo-nos também de 45 no Chile, o mesmo Tesourinha falhou na peleja contra os argentinos perdendo duas ou três oportunidades de ouro para inverter a marchem da contagem".[5] Para David Nasser, Barbosa foi escolhido no lugar de Castilho pela "experiência de keeper paulista do Vasco". Augusto foi escolhido porque Nilton Santos "esta contundido e Augusto passa por período aziago". Juvenal "tem mais classe" que Nena. Bauer é "infinitamente" melhor que Eli. Bigode superou Noronha pela "valentia, arrojo" e Rui "não é nem sombra daquele magnifico distribuidor". Na ponta-direita, com Tesourinha recém-operado, Maneca foi deslocado porque Friaça não correspondeu. E o trio de atacantes "não admite discussões. Três bons chutadores. Três bons controladores. Três valentes, dinâmicos infiltradores. Zizinho é o cérebro, o homem das jogadas inteligentes, terror das defesas por seus passes ilógicos, mas certos. Ademir é o oportunista, o homem das arrancadas fulminantes, e artilheiro. E Jair, além do canhão, joga com tal sabedoria que parece fazer com os pés o que Manuel Bandeira faz com os versos. Liga a defesa e o ataque, está em toda parte, e é uma permanente ameaça. Seu tiro é o mais possante".[6] A produção da ofensiva brasileira nas três Copas Américas do período (1945, 1946 e 1949):
A base da equipe era o Vasco da Gama treinado por Flávio Costa, o mesmo técnico da seleção. O time apelidado de Expresso da Vitória ganhou cinco campeonatos cariocas e foi o primeiro time brasileiro a ganhar um título internacional. Já havia servido de base na conquista do Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1949. Apesar do clima de otimismo, o Brasil já havia amargado a decepção de ser derrotado em casa no primeiro jogo decisivo do Campeonato Sul-Americano de Futebol de 1949 para o Paraguai, obrigando uma partida de desempate. E havia feito jogos parelhos contra a Uruguai na decisão da Copa Rio Branco de 1950, dois meses antes do mundial. CampanhaNa primeira fase, o Brasil estreou vencendo por 4 a 0 o México. Segundo o Jornal dos Sports: "Tudo saiu de acordo com as melhores expectativas. Havia gente que pensava que o Estádio não encheria e o Estádio se encheu. Os claros ficaram apenas nas cadeiras numeradas. (...) O Presidente da República chegou ao Estádio com a pontualidade do rei da Inglaterra. (...) Certo nervosismo dos jogadores brasileiros deve ser levado em conta da grandeza do Estádio. (...) E mesmo assim a vitória brasileira foi cômoda". O jornal enalteceu a atuação de Jair da Rosa Pinto: "Jair por si só foi um espetáculo. Correu em campo como um novo, com a vantagem de uma classe que dificilmente pode ser superada. Era o mesmo Jair do sul-americano e daquele Flamengo e Arsenal. O jogador por excelência do scratch". Os gols foram de Ademir no rebote do goleiro mexicano, Jair após passe de Danilo, Baltazar de cabeça em escanteio cobrado por Ademir, e Ademir em passe de Jair.[7] Na segunda partida, por ocorrer em São Paulo, o técnico Flávio Costa montou uma escalação com jogadores paulistas e a equipe empatou por 2 a 2 com a Suiça. "Faltou tudo ao scratch brasileiro: principalmente espírito de luta" assinalou o Jornal dos Sports. "Os suíços atacaram pouco. No segundo tempo apenas foram seis vezes à área brasileira, enquanto os brasileiros chegaram trinta e seis vezes à área suíça. (...). O tempo fôra desperdiçado em um domínio inútil de bola para lá e para cá, de passes repetidos. O scratch brasileiro dominava sem avançar. E sem poder recuar para os contra-ataques suíços, um deles provocou o empate. Lá atrás ficavam Augusto, Juvenal e Noronha. Três defensores brasileiros contra três atacantes suíços. Mas os três defensores brasileiros e os três atacantes suíços em toda a largura do campo". Alfredo em jogada de Ademir e Baltazar em cruzamento de Friaça. Os gols suiços foram de Patton.[8] A última partida da primeira fase foi a vitória de 2 a 0 sobre a Iugoslávia, jogo que marcou a volta de Zizinho, lesionado nas duas primeiras partidas. Zizinho deu a assistência para o primeiro gol e marcou o segundo em passe de Danilo. Mário Filho: "Foi uma vitória perfeita e merecida. O time brasileiro não se reabilitou apenas: cresceu como candidato ao título de campeão do mundo.[9] Após o jogo, o goleiro iugoslavo Srđan Mrkušić declarou que Ademir era "o melhor do mundo" e o treinador Milorad Arsenijević alegou que o segredo do Brasil era Danilo Alvim, um jogador extraordinário.[10] O Brasil adotou o 3-2-2-3, chamado de W-M. No início da Copa se utilizou uma variação, a "diagonal" de Flávio Costa, um W-M "torto" em que Ademir de Menezes foi improvisado como meia e Baltazar, de centrovante. Devido a característica de Ademir, de jogar mais à frente, o W-M ficava "torto", sendo chamado de diagonal por Flavio Costa. Com a volta de Zizinho, Ademir de Menezes assumiu a centroavância e o Brasil passou a jogar no W-M clássico. No triangular final, o Brasil começou arrasador derrotando a Suécia por 7 a 1. O escritor francês André Maurois presenciou o jogo e declarou: "Nunca vi um football tão bonito. É uma maravilha".[11] Mário Filho: "Os críticos estrangeiros estão vendo o match Brasil e Suécia melhor que os brasileiros. Para eles a vitória do Brasil é um acontecimento do football mundial. Uma verdadeira revelação. (...) Os críticos estrangeiros estão convencidos que qualquer conjunto no mundo sofreria nesse match o mesmo destino dos suecos".[12] Os jogadores brasileiros ganharam cinco mil cruzeiros pela vitória. Os gols foram marcados por Ademir em passe de Jair. 1 a 0. Zizinho para Ademir. 2 a 0. Ademir para Chico. 3 a 0. Zizinho para Ademir. 4 a 0. Jair par Zizinho. 5 a 0. Jair para Ademir. 6 a 0. Penalti de Bigode em Palmer. Os jogadores brasileiros reclamaram que foi fora da área. Andersson bateu e fez 6 a 1. Zizinho para Chico fechar o placar. 7 a 1.[13] Contra a Espanha, o Jornal dos Sports previu: "O mais difícil obstáculo".[14] O Brasil venceria por 6 a 1, desempenho elogiado pela imprensa internacional. A atuação de Zizinho foi especialmente elogiada. Willy Meisl correspondente inglês do World Sport descreveu: "Não se trata apenas de um craque, dos muitos craques que andam espalhados pelo mundo. Zizinho é um gênio. Um homem que possui todas as qualidades que podem ser idealizadas para que um profissional chegue perto da perfeição." Giordano Fattori, repórter da La Gazzetta dello Sport assim descreveu a atuação de Zizinho: "Na partida entre Brasil e Espanha aconteceu tudo que se poderia imaginar teoricamente no futebol. Houve ciência, arte, balé e até jogadas circenses. Porém entre os onze jogadores desse time mágico do Brasil, um se destacava. Era Zizinho, o maestro da equipe. Seu futebol fazia recordar Leonardo da Vinci pintando alguma coisa excepcional. Um Da Vinci criando obras primas com os pés no imenso gramado do Maracanã".[15] Jair para Ademir. 1 a 0. Ademir para Jair. 2 a 0. Friaça chutou, a bola bateu na defesa e sobrou para Chico. 3 a 0. Ademir para Chico. 4 a 0. Zizinho para Ademir. 5 a 0. Ademir para Zizinho. 6 a 0. Igoa descontou para os espanhóis.[16] Bastaria um empate contra a Uruguai no Maracanã para garantir o título. A certeza da vitória do Brasil era tão grande que o jornal vespertino A Noite, do Rio, estampou na véspera a manchete, acima da foto do time do Brasil posado: "Estes são os campeões do mundo".[17] FinalO Brasil jogava por um empate para ser campeão mundial. Aos uruguaios, que haviam arrancado da Espanha um empate de 2 a 2 e conseguido uma vitória suada de 3 a 2 sobre a Suécia, sobrava apenas vencer para conquistar a taça. Ao entrar no gramado do Estádio do Maracanã, naquele 16 de julho de 1950, brasileiros e uruguaios encontraram o maior público já visto para uma partida de futebol: 174 mil pagantes, somados a uma estimativa de 50 mil penetras, número que não pôde ser precisado porque as catracas do estádio quebraram. Havia entre 200 mil e 220 mil pessoas presentes. Aos 2 minutos do segundo tempo, Zizinho toca para Friaça na ponta-direita, que nas costas de Víctor Rodríguez Andrade, sai na cara do gol. O bandeirinha marca impedimento. O juiz nada marca. Friaça toca à direita do goleiro Roque Máspoli. Gol do Brasil, 1 a 0. Bombas e rojões estouram dentro do estádio, que vira um carnaval. Obdúlio Varela, capitão uruguaio, prende a bola nos braços e bate boca com o zagueiro Augusto do Brasil, com o árbitro e com o bandeira alegando impedimento, parando o jogo por 2 minutos, e acalmando seus colegas assustados. Aos 21 minutos do segundo tempo, Varela lançou Alcides Ghiggia na ponta-direita, o qual venceu o lateral-esquerdo Bigode na corrida e cruzou à meia altura. Juan Alberto Schiaffino tentou emendar de primeira no canto direito de Barbosa. Pegou mal, errou, mas a bola entrou à direita do goleiro brasileiro. Uruguai empata o jogo em 1 a 1. O inesperado empate choca os torcedores brasileiros. A torcida silencia. 200 mil almas em silêncio, murmúrios, um silêncio ensurdecedor que acaba psicologicamente com o time brasileiro. Aos 34, Julio Pérez e Ghiggia saem tabelando pela ponta direita em cima de Bigode. Pérez lança então o ponta, que vence Bigode na corrida e sai na cara de Barbosa. O goleiro brasileiro espera novo cruzamento como no primeiro gol e se adianta para cortar. Ghiggia vê uma brecha entre o goleiro e sua trave esquerda e chuta. Uruguai 2 a 1. Às 16h50, o árbitro apita o fim do jogo. Schubert Gambetta segura a bola. Alguns brasileiros pedem pênalti. Os uruguaios ficam loucos: pulam, dão cambalhotas, Varela sai gritando em meio a uma multidão de zumbis aos prantos. O Uruguai é campeão do mundo. Numeração e ConvocadosA numeração dos jogadores começou a ser usada nesta copa, para ajudar na identificação dos atletas. Como as substituições não estavam previstas nas regras até 1970, e nem havia numeração fixa para os atletas, a Seleção Brasileira adotou que os jogadores que entrassem em campo sempre seriam numerados de 1 a 11, conforme a tradição da pirâmide invertida (2 zagueiros - 3 médios -5 atacantes), apesar do time de Flávio Costa já atuar no WM em diagonal. A partir de 1954, a numeração dos 22 jogadores seria fixa, durante todo o torneio. Para dirimir qualquer dúvida, postamos abaixo a numeração adotada a cada jogo pela Seleção: Jogo 1 (Brasil x México): 1 – Barbosa, 2 – Augusto, 3 – Juvenal, 4 – Ely, 5 - Danilo Alvim, 6 – Bigode, 7 – Maneca, 8 - Ademir Menezes, 9 – Baltazar, 10 - Jair R. Pinto, 11 – Friaça. Jogo 2 (Brasil x Suíça): 1 – Barbosa, 2 – Augusto, 3 – Juvenal, 4 – Bauer, 5 – Ruy, 6 – Noronha, 7 – Alfredo, 8 – Maneca, 9 – Baltazar, 10 - Ademir Menezes, 11 - Friaça. Jogo 3 (Brasil x Iugoslávia): 1 – Barbosa, 2 – Augusto, 3 – Juvenal, 4 – Bauer, 5 - Danilo Alvim, 6 – Bigode, 7 – Maneca, 8 – Zizinho, 9 - Ademir Menezes, 10 - Jair R. Pinto, 11 – Chico. Jogo 4 (Brasil x Suécia): 1 – Barbosa, 2 – Augusto, 3 – Juvenal, 4 – Bauer, 5 - Danilo Alvim, 6 – Bigode, 7 – Maneca, 8 – Zizinho, 9 - Ademir Menezes, 10 - Jair R. Pinto, 11 – Chico. Jogo 5 (Brasil x Espanha): 1 – Barbosa, 2 – Augusto, 3 – Juvenal, 4 – Bauer, 5 - Danilo Alvim, 6 – Bigode, 7 – Friaça, 8 – Zizinho, 9 - Ademir Menezes, 10 - Jair R. Pinto, 11 – Chico. Jogo 6 (Brasil x Uruguai): 1 – Barbosa, 2 – Augusto, 3 – Juvenal, 4 – Bauer, 5 - Danilo Alvim, 6 – Bigode, 7 – Friaça, 8 – Zizinho, 9 - Ademir Menezes, 10 - Jair R. Pinto, 11 – Chico. Portanto, o primeiro Camisa 9 a atuar na seleção foi Baltazar (e não Bigode, como muitos erroneamente divulgaram). Da mesma maneira, o primeiro Camisa 10 foi Jair Rosa Pinto (e não Danilo, idem).
A CopaPrimeira Fase: Grupo 1
Fase Final: Quadrangular
Goleadores
Assistências
Ver tambémLigações externas
Notas
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