Estação Ecológica da Mata Preta
A Estação Ecológica (ESEC) da Mata Preta é uma unidade de conservação brasileira de proteção integral da natureza localizada no oeste de Santa Catarina, com território distribuído pelo município de Abelardo Luz, com área total de 6 565,70 ha.[1] Foi criada por decreto presidencial em 19 de outubro de 2005 para proteger três fragmentos de Floresta Ombrófila Mista remanescentes na região.[3][4] Dentre os objetivos da ESEC da Mata Preta estão a preservação dos ecossistemas naturais remanescentes e o desenvolvimento de pesquisas científicas e de atividades de educação ambiental.[2] A administração da ESEC da Mata Preta está a cargo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Importância para a conservaçãoA Estação Ecológica da Mata Preta está inserida numa região de intensa pressão de exploração florestal e expansão de culturas agrícolas. Seus três fragmentos florestais, mesmo com sinais variáveis de interferência antrópica, são as últimas manchas de vegetação original nesse município e região, o que definiu a criação de uma unidade de conservação de proteção integral. O Probio[5] identificou os remanescentes de Floresta Ombrófila Mista da região de Abelardo Luz como área de importância biológica “extremamente alta”, cabendo a indicação de uma unidade de conservação de proteção integral. As características da área proposta justificam essa indicação:
BiodiversidadeA ESEC é formada por três fragmentos muito próximos e com grande possibilidade de conexão. Um desses fragmentos ainda abriga uma população considerável de pinheiros (Araucaria angustifolia), bem como de outras espécies ameaçadas de extinção como a imbuia (Ocotea porosa) e o xaxim (Dicksonia sellowiana).[6] O clima na região da ESEC Mata Preta é o Cfb (Classificação de Köppen), com temperatura média nos meses mais frios (junho e julho) inferior a 18 °C e temperatura média nos meses mais quentes (janeiro e fevereiro) inferior a 22 °C. Os verões são brandos e os invernos são frios, com geadas frequentes. Não há estação seca definida e as chuvas são distribuídas por todos os meses do ano. Na floresta predominam as lauráceas, dentre as quais se destacam as não menos ameaçadas sassafrás (Ocotea odorifera), canela-pururuca (Cryptocarya aschersoniana) e a canela-lageana (Ocotea pulchella). Ocorrem também a bracatinga (Mimosa scabrella), o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida), o cedro (Cedrela fissilis) e a erva-mate (Ilex paraguariensis). O aspecto fisionômico do fragmento leste é ainda bastante uniforme, formando uma área contínua de pinheiros (Araucaria angustifolia), com um sub-bosque dominado principalmente pela imbuia (Ocotea porosa), pela sapopema (Sloanea lasiocoma) e pela erva-mate (Ilex paraguariensis). Nos fragmentos central e oeste, além das espécies botânicas mais freqüentes e já citadas anteriormente, são também encontradas a canela-pururuca (Cryptocarya aschersoniana), a canela-amarela (Nectandra lanceolata), a canela-lageana (Ocotea pulchella), a canela-preta (Nectandra megapotamica), o pau-andrade (Persea major), a cerejeira (Eugenia involucrata), o guabiju (Myrcianthes pungens), o araçazeiro (Myrcianthes gigantea), a uvaia (Eugenia pyriformis), a murta (Blepharocalyx longipes), o guamirim (Myrcia obtecta), o camboatá (Matayba elaeagnoides), o miguel-pintado (Cupania vernalis), o vassourão-branco (Piptocarpha angustifolia), o pau-toucinho (Vernonia discolor), a bracatinga (Mimosa scabrella), o rabo-de-mico (Lonchocarpus leucanthus), o angico-vermelho (Parapiptadenia rigida), o cedro (Cedrela fissilis), a canjerana (Cabralea canjerana), o guaraperê (Lamanonia speciosa), o tarumã (Vitex megapotamica), o pessegueiro-bravo (Prunus sellowii), as caúnas (Ilex brevicuspis, Ilex dumosa, Ilex microdonta), a congonha (Ilex theezans), a pimenteira (Capsicodendron dinisii), além da canela-sassafrás (Ocotea odorifera), árvore também relacionada na Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção.[7] Dentre as espécies de arvoretas das matas da Estação Ecológica Mata Preta são destacadas a guaçatonga (Casearia decandra), o vacunzeiro (Allophylus guaraniticus), o leiteiro (Sebastiania brasiliensis), entremeadas pela taquara-mansa (Merostachys multiramea). Entre as espécies vegetais de interesse econômico ocorrentes na unidade, podemos citar como mais procuradas a araucária (Araucaria angustifolia), tanto pela madeira, utilizada para construções, quanto pelos pinhões comestíveis, a erva-mate (Ilex paraguariensis), coletada na mata para produção de erva para chimarrão e a imbuia (Ocotea porosa) utilizada para construções e cercamentos.[8] As informações sobre a fauna ocorrente na UC ainda são preliminares, provenientes de informações produzidas pelo monitoramento de fauna e de entrevistas feitas entre a população do entorno para elaboração do PCA – Plano de Ação para Conservação da Estação Ecológica Mata Preta.[9] O monitoramento de fauna[10] tem registrado, desde 2009, atropelamentos, avistamentos e vestígios de presença de fauna. A partir dos dados coletados, foi coligida uma lista preliminar de espécies ocorrentes na ESEC Mata Preta e entorno, com registro de 34 espécies de mamíferos, 108 espécies de aves, 10 espécies de répteis e três de anfíbios. O monitoramento de atropelamentos de fauna indica impacto importante principalmente nas populações de espécies de canídeos (Cerdocyon thous e Pseudalopex gymnocercus), xenartros (Dasypus novemcinctus, Dasypus septemcinctus, Euphractus sexcinctus, Cabassous tatouay e Tamandua tetradactyla), marsupiais (Didelphis albiventris) e felinos (Puma concolor e Leopardus tigrinus). Foram registradas espécies constantes na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção[11]: suçuarana (Puma concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus), gato palheiro (Oncifelis colocolo), veado poca (Mazama nana) e papagaio-do-peito-roxo (Amazona vinacea).[12] No PCA foram listadas sete espécies presentes na região que podem ser consideradas bioindicadoras de qualidade ambiental: suçuarana (Puma concolor), cateto (Pecari tajacu), jaguatirica (Leopardus pardalis), bugio (Alouatta guariba), veado mateiro (Mazama americana), veado poca (Mazama nana) e macuco (Tinamus solitarius). A caça, praticada como atividade de lazer ou, ocasionalmente, como atividade econômica, representa ameaça às populações de espécies que são frequentemente mais procuradas, como a paca (Agouti paca), o veado mateiro (Mazama americana), o veado virá (Mazama gouazoubira), o veado poca (Mazama nana), a cutia (Dasyprocta azarae), o cateto (Pecari tajacu), o macuco (Tinamus solitarius), o jacuaçu (Penelope obscura), o inhambu-guaçu (Crypturellus obsoletus), o uru (Odontophorus capueira), entre outros. Características soócio-ambientaisNão há moradores no interior da unidade de conservação atualmente. As populações humanas estão presentes no entorno da unidade, onde se localizam grandes fazendas de agricultura mecanizada e criação de gado, plantios de pinus e seis comunidades rurais: Barro Preto, Linha Pagliosa, Cabeceira do Banho, Rincão Torcido, Sítio Barrichello e Assentamento Nova Aurora. Nessas comunidades encontram-se pequenas propriedades e o assentamento de reforma agrária, onde são desenvolvidas atividades de agricultura, com destaque para as culturas anuais (soja transgênica e convencional, trigo, milho e feijão), a pecuária tanto de corte como de leite e seus derivados e avicultura que consiste na criação e engorda de aves para fornecimento a frigoríficos. A comunidade do Rincão Torcido tem como principal atividade econômica o comércio, com bares, restaurantes e postos de atendimento aos veículos. A regularização fundiária da Unidade foi iniciada apenas recentemente e estão abertos seis processos para indenização de proprietários, em 382 hectares. A partir de 2012, foram indenizados os primeiros cinco proprietários, com 106 hectares passados para o domínio da União – somando-se essa área aos 111 hectares pertencentes à reserva legal do Assentamento Nova Aurora, totaliza-se 217 hectares sob administração direta do ICMBio. A gestão das áreas ainda não indenizadas é limitada, havendo diversas restrições para o desenvolvimento de atividades, recuperação de áreas degradadas e instalação de estruturas. O processo de criação da unidade de conservação foi conflituoso e sua existência, ainda hoje, enfrenta resistência por setores da sociedade local. O Conselho Consultivo da Estação Ecológica Mata Preta foi criado pela Portaria nº 78, de 27 de agosto de 2010[13] (retificado pela Portaria nº 106 de 04 de outubro de 2010 e modificado pela Portaria nº 197 de 14 de junho de 2013), e tem a finalidade de contribuir com ações voltadas à gestão participativa, elaboração, implantação e implementação da unidade de conservação e ao cumprimento dos seus objetivos de criação.[14] O conselho conta com 13 cadeiras, das quais seis são ocupadas por instituições governamentais e as demais sete cadeiras por 12 organizações da sociedade civil. Atividades desenvolvidasEntre as atividades desenvolvidas hoje pela unidade de conservação estão as ações de educação ambiental com escolas e comunidades, fiscalização e proteção ambiental, pesquisa científica e licenciamento de atividades no seu entorno. Problemas ambientaisEntre os problemas ambientais mais graves vistos na região estão os desmatamentos para ocupação de áreas pela agricultura e para retirada de madeira, os desmatamentos em áreas de proteção permanente, como as próximas a rios, sangas e nascentes, a poluição e a caça. A caça, apesar de ser proibida no Brasil desde 1967,[15] ainda é vista em toda a região, causando diminuição das populações de várias espécies, algumas inclusive espécies ameaçadas de extinção. Mapa da Estação Ecológica da Mata PretaVer também
Referências
Information related to Estação Ecológica da Mata Preta |