Festival Eurovisão da Canção 1969
O Festival Eurovisão da Canção 1969 (em inglês: Eurovision Song Contest 1969, em francês: Concours Eurovision de la chanson 1969 e em castelhano: Festival de la Canción de Eurovisión 1969) foi o 14º Festival Eurovisão da Canção e realizou-se em 29 de março de 1969 em Madrid. Laurita Valenzuela foi a apresentadora do evento. O Festival terminou com um empate entre quatro intérpretes: Salomé que representou a Espanha com a canção "Vivo Cantando", Lulu que representou o Reino Unido, com a canção "Boom Bang-a-Bang", Lenny Kuhr que representou os Países Baixos com a canção "De troubadour" e Frida Boccara que representou a França com a canção "Un jour, un enfant". Portugal, representado por Simone de Oliveira, com a música "Desfolhada Portuguesa", poema de Ary dos Santos, foi considerada tantos pelos jornalistas como pelos seus pares, como uma candidata à vitória. Contudo, para além do penúltimo lugar conquistado, no dia anterior à edição, Simone e uma das coristas foram hospitalizadas por intoxicação alimentar. Este foi o primeiro Festival Eurovisão da Canção em que ocorreu um empate no 1º lugar, com 4 países obtendo 18 pontos. O problema foi que na época não havia uma regra em caso de empate, e então os quatro países foram declarados vencedores,[1] provocando uma onda de contestação, com vários países a desistirem na edição seguinte. A Áustria não participou neste Festival, porque não desejava enviar um cantor a um país que era governado por um ditador. Francisco Franco, que governava a Espanha na época. Salvador Dalí foi responsável pela publicidade deste festival. O Liechtenstein desejou participar neste festival e escolheu mesmo uma canção "Un beau matin" (Uma bela manhã), mas Liechtenstein não tinha uma televisão pública e ainda por cima não era membro da UER. Desta forma foi impedido de participar no evento. No entanto, tudo isso não passou de um rumor criado pelo animador e comediante francês, Jacques Martin. O País de Gales tinha intenção de participar, mas foi-lhe recusado, devido ao facto de fazer parte do Reino Unido. Durante a edição, algumas delegações pediram ao governo espanhol a libertação de certos presos políticos. LocalO Festival Eurovisão da Canção 1969 ocorreu em Madrid, em Espanha. Madrid é a capital e a maior cidade em Espanha, tal como no município de Madrid e na Comunidade autónoma de Madrid. A cidade foi edificada nas margens do rio Manzanares, no centro do país. Devido à sua localização geográfica e histórica, é juntamente com Lisboa o centro financeiro e político da Península Ibérica. No seguimento da restauração da democracia, em 1975, e a adesão à CEE, em 1985, a cidade de Madrid tem vindo a desempenhar um papel importante na economia europeia, tornando-se num dos principais focos financeiros do Sul da Europa. O festival em si realizou-se no Teatro Real, uma casa de ópera localizado em Madrid. O teatro foi reaberto em 1966 como um teatro de concertos e da principal sala de concertos da Orquestra Nacional espanhol e da Orquestra Sinfónica RTVE. FormatoO artista surrealista Salvador Dalí foi o responsável pela acção publicitária que foi feita ao Festival Eurovisão de 1969, como também o desenho da escultura de metal usado no palco.[1] Áustria optou por não participar pois não queria enviar nenhuma representação sua a um país que vivia sobre o domínio de um ditador (Franco).[1][2] O Liechtenstein tentou fazer a sua estreia, mas, como não tinha uma televisão de serviço público, nem era membro da UER, não pôde participar. A música escolhida seria "Un beau matin", interpretada por Vetty. Além disso, a música foi escrita em francês, enquanto a língua nacional do Liechtenstein é o alemão. Mais tarde, foi revelado de que tudo não passava de uma piada, montada pelo animador e comediante francês, Jacques Martin. O País de Gales também teve intenção de se estrear, através da BBC Cymru, fazendo inclusive uma final nacional, Cân i Gymru, mas foi impedida de participar por não ser um país soberano. Apenas a BBC tinha o direito exclusivo de representar o Reino Unido. A produção e organização do concurso foi um desafio para a TVE, que transmitiu o festival a cores, ainda em fase de testes, para vários países. Como a TVE não tinha câmaras a cores, teve que alugá-los na televisão pública alemã. Finalmente, os espectadores espanhóis viram o concurso em preto e branco, pois a televisão espanhola ainda não se convertera à cor.[3] O evento foi seguido ao vivo nos países membros da UER e Intervisão, bem como por satélite no Chile, Porto Rico e, pela primeira vez, no Brasil. Este foi o primeiro Festival Eurovisão da Canção em que ocorreu um empate no 1º lugar, com 4 países obtendo 18 pontos. O problema foi que na época não havia uma regra em caso de empate, e então os quatro países foram declarados vencedores.[1] Isto causou um problema com as medalhas entregues aos vencedores não serem suficientes para todos. Apenas as intérpretes receberam medalhas, com os compositores a receber após a edição. Muitos países ficaram irritados com o sistema de votação, levando à sua desistência no ano seguinte, acusando-o de favorecer os grandes países. No caso de Espanha, foi a primeira vez que um país ganhou dois anos consecutivos. Madrid animou-se com a Eurovisão: foram várias as festas, jantares, cocktails, e até visitas a museus preparados para os artistas. VisualO vídeo introdutório começou com um close-up da escultura de metal no palco definitivo criado pelo artista surrealista espanhol, Salvador Dalí,[4] feita especialmente para a ocasião. O plano se expande para revelar o órgão que tocou o "Te Deum" de Marc-Antoine Charpentier. Depois, a orquestra começou a partitura de "La, la, la", a música vencedora do ano anterior. A apresentadora da edição foi Laurita Valenzuela, que apresentou em castelhano, inglês e francês. Ela cumprimentou todos os países participantes nos seus idiomas e, em seguida, introduziu cada música. A competição foi produzida em cores para a transmissão internacional, enquanto que na televisão espanhola não foi sequer passada para a cor. Os espectadores espanhóis viram este concurso em preto e branco. A orquestra, instalada num buraco ao pé do palco, foi dirigida por Augusto Algueró. O palco foi decorado com quatro camadas de flores rosa. No fundo, foram instalados um órgão e a escultura de Dali. Na parede esquerda, havia uma reprodução colorida da sigla Eurovisão e na parede à direita, o quadro de votação. Depois das músicas, Laurita convidou o público e os espectadores a assistir a um filme filmado para a ocasião, feito por Salvador Dalí, intitulado "La España diferente". Foi dedicado aos quatro elementos que compõem a Espanha: terra, ar, água e fogo. Inspirado pelo surrealismo, o filme explorou os temas dos quatro elementos, através de vistas turísticas de paisagens e monumentos espanhóis. Alhambra, em Granada e a Sagrada Família apareceram na tela. O acompanhamento musical foi composto por Luis de Pablo. VotaçãoMais uma vez os países votaram pela mesma ordem à da sua actuação, algo que foi feito aparentemente para acelerar o espetáculo, pois os países a actuar não podiam (nem podem) atribuir pontos a si mesmos, sendo assim poderiam acabar a sua votação a tempo de serem os primeiros a serem chamados. O sistema de votação foi o mesmo utilizado em edições anteriores, em que cada país tinha um júri composto por dez membros, e cada um desses dez jurados atribuía um ponto à sua canção preferida. O supervisor delegado pela UER foi, mais uma vez, Clifford Brown, acompanhado por dois secretários, que interveio para pedir aos porta-vozes espanhol e monegasco para repetir os votos. O voto foi efetuado sem mais incidentes, mas no final ocorreu um evento totalmente imprevisto. Nada menos do que quatro países empatados em primeiro lugar. A plateia prendeu a respiração e Laurita não sabia quem seria a vencedora. Seguiu-se um diálogo em francês entre a apresentadora e o supervisor, que acabou com Brown a confirmar a vitória dos quatro países. Não havia disposições no regulamento para decidir sobre qualquer empate. DesempateSe a regra de desempate implementada em 1991 (onde ocorreu uma situação semelhante) tivesse sido aplicada em 1969, os Países Baixos seriam os vencedores, pois receberam 6 pontos da França, em 2º ficaria o Reino Unido, por ter recebido 5 pontos da Suécia, em 3º ficaria a França, por ter recebido 4 pontos da Irlanda e do Reino Unido e em 4º Espanha. Por outro lado, com a atual regra de desempate em vigor (ou seja, a música que recebeu votos de mais países, então a música que recebeu pontuações mais elevadas em caso de outro empate), a França teria sido a vencedora, com Espanha em 2º lugar. Ambos os países receberam votos de 9 países, mas a França recebeu 4 pontos de 2 países, enquanto a Espanha recebeu 3 pontos como seu maior voto. Em 3º ficaria o Reino Unido, que foi pontuado por 8 países e em 4º os Países Baixos, que foram pontuados por 7 países. A tabela seguinte apresenta, de forma mais resumida o resultado de acordo com as regras de desempate aplicadas ao longo dos anos.
Participações individuaisPredefinição:Participações Individuais ESC1969 ParticipantesEntre os representantes mais conhecidos estavam Simone de Oliveira, que voltaria a representar Portugal, com a sua canção de maior sucesso "Desfolhada Portuguesa"; Salomé, representando a Espanha, que usava um vestido de 14 quilos feito de porcelana. Além disso a cantora dançou o que quebrava uma das regras da altura, causando uma onda de protestos em inúmeros países;[3] Jean Jacques Bortolai, que representou o Mónaco, tinha apenas 12 anos, tornando-se um dos artistas mais novos a atuar no palco da Eurovisão, numa altura que não existia nenhuma regra de limite mínimo de idade. Muriel Day, representando a Irlanda, foi a primeira artista feminina e a primeira artista de origem da Irlanda do Norte a representar o seu país; Lenny Kuhr, representado os Países Baixos, escreveu sua própria música. A ideia chegara-lhe a meio da noite. Ela então acordou os seus pais para lhes mostras a sua nova composição;[5] Kirsti Sparboe, representando a Noruega pela terceira vez, causou polémica pelo seu vestido feito de pele de baleia;[6] Frida Boccara, representado a França, não pôde comparecer aos ensaios, pois contraíra uma infecção na garganta que foi curada por injecção, horas antes do início do concurso;[7] Romuald, representando o Luxemburgo, já havia representado o Mónaco no Festival Eurovisão da Canção 1964; finalmente, Siw Malmkvist, representando a Alemanha Ocidental, já havia representado a Suécia no Festival Eurovisão da Canção 1960 A canção representante de Portugal, "Desfolhada Portuguesa", interpretada por Simone de Oliveira, foi uma das músicas que marcou esta edição, sendo mesmo considerada uma das fortes candidatas à vitória, inclusive entre os seus pares. Em Portugal, os teatros chegaram mesmo a mudar a hora dos seus espetáculos para que nenhum acontecesse ao mesmo tempo do certame, tal era a expectativa em volta da canção portuguesa. Contudo, Portugal acabou a votação em 15º e penúltimo lugar, recebendo apenas 4 pontos. Mal acabou a votação, a equipa do Diário de Notícias foi ao camarim de Simone, onde assistiu a dois momentos impressionantes: o primeiro foi quando o ministro da Informação e Turismo espanhol foi pedir desculpa a Simone; depois foi um jornalista espanhol dizer-lhe que era a vencedora moral. "Não é costume pedir desculpa quando não se cometem erros…", conclui o jornal. A cantora estava calma: "que hei de fazer? Sigo cantando", disse ela, que tinha a certeza de ter dado o melhor de si. Com o avançar da conversa, partilhou com o jornalista a desconfiança de ter havido uma irregularidade na votação, porque foi o primeiro empate e logo entre quatro canções. Para além disso, a participação portuguesa esteve em risco, após Simone de Oliveira e uma das coristas terem ido parar ao hospital no dia anterior por intoxicação alimentar. Chegou-se mesmo a falar em sabotagem.[8] Estas situações provocaram uma grande manifestação de apoio à nossa intérprete na estação de Santa Apolónia. Quando Simone de Oliveira chegou, foi recebida em festa pelos milhares de populares, na maior recepção a um artista português jamais feita em Portugal, só repetida pela receção a Salvador e Luísa Sobral 48 anos mais tarde, quando Portugal venceu o Festival Eurovisão da Canção 2017.[9] Esta edição foi especialmente recordada na série da RTP1 "Conta-me como Foi", nalguns episódios da 2ª temporada.[10][11] FestivalResultadosA ordem de votação no Festival Eurovisão da Canção 1969, foi a seguinte:[12]
Resultados acumulados
MaestrosArtistas repetentesEm 1969, os repetentes foram:
Transmissão do FestivalPaíses participantesPaíses não participantes
Referências
Notas
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