Lope de Figueroa nasceu no seio de uma família descendente por linha materna de Fernando III de Castela, o Santo,[5] segundo filho de Francisco Pérez de Barradas, alcaide de La Peza, e de Leonor de Figueroa, bisneta do primeiro conde de Feria.[6] É citado por vezes com os apelidos de sua mães: Lope de Figueroa y Zapata, como lhe cabia por ser o segundo filho do casal, embora alguns autores, como Salazar y Castro, o citem como Lope de Figueroa y Barradas, aplicando-lhe o apelido de seu pai.
As informações disponíveis sobre os começos da carreira militar de Lope de Figueroa são confusos, sendo provável que tenha optado pelo vida militar forçado pela sua condição de filho segundo. Algumas fontes afirmam que «entrou ao serviço del Rei com dezoito anos»,[7] o que é corroborado pelo cômputo de serviços prestados, cifrados desde finais do século XVII em trinta e cinco anos. Segundo esta hipótese, a sua incorporação nos terços teria ocorrido quando tinha trinta anos de idade. Argote de Molina aponta que assentou praça de soldado na Lombardia e que alcançou depressa o posto de capitão graças ao seu valor,[8] ainda que sem assinalar as datas de tais eventos. O hispanista alemão Max Krenkel estabelece o alistamento em 1550.[9]
Contudo, um estudo publicado em 2010[10] sobre o expediente de provas para o ingresso de Lope de Figueroa na Orden de Santiago,[11] parece confirmar a opinião de Juan de Hariza, que afirmava que «Empezó á servir de diez y seis años, y para este efecto salió fugitivo de su Casa»,[12] (Começou a servir aos 16 anos, e para esse fim saiu fugitivo de sua casa), e considerando outros dados que apontam na mesma direcção, conclui datando o nascimento de Lope de Figueroa por 1541 ou 1542, o seu alistamento em 1558 e, por isso, a duração da sua carreira militar em 27 anos, em vez dos 35 anos que se aceitavam como verídicos até então, cômputo baseado na Real Cédula de 30 de Setembro de 1569 pela qual Felipe II de Espanha concedeu a Lope de Figueroa certas mercês.[13] Neste documento estabelece-se um cômputo de serviços de 19 anos, que segundo os novos documentos conhecidos seria erróneo ou teria sido modificado interessadamente no século XVII, causando confusão entre os tratadistas.[14]
Já como capitão teve intervenção na conquista da ilha dos Gelves (actual Jerba), no golfo de Tunes (1559-1560), onde foi feito prisioneiro dos turcos. Após quatro anos de cativeiro ao remo de uma galé chamada «da pedra» em Constantinopla, foi resgatado por seu pai pagando quatro mil ducados em 1564.[15]
Na Flandres, ao comando de uma companhia de arcabuzeiros na vanguarda do Tercio de Sicilia, interveio destacadamente na batalha de Gemmingen e três meses mais tarde na de Jodoigne, serviços que lhe valeram a felicitação de Felipe II de Espanha e uma pensão vitalícia de 400 ducados anuais.
A sua actuação na conquista da Terceira, em 1583, às ordens de Álvaro de Bazán, desde a galé San Mateo, foi igualmente decisiva para a vitória espanhola.
Teve intervenção em muitos outros feitos de armas durante a sua alargada vida militar, que se foi tradicionalmente cifrada em cerca de trinta e cinco anos, embora estudos recentes indiquem que não teria ultrapassado os vinte e sete anos.
Faleceu a 28 de Agosto de 1585[16] em Monzón de Aragão, enquanto formava parte do séquito real ali alojado para celebrar as Cortes Gerais do Reino de Aragão. A causa do falecimento foram umas perigosas febres que naquele período apareceram naquela vila e causaram mais de mil e quinhentas vítimas.[17]
Segundo a sua vontade, os seus restos mortais foram depositados no Mosteiro de San Francisco em Monzón e alguns meses depois foram levados para Guadix, onde se enterraram junto aos seus antepassados na capela-mor da igreja de São Francisco.
Nomeou herdeiro universal dos seus bens e dos serviços prestados à coroa o seu irmão mais velho Fernando de Barradas. Esses serviços foram herdados sucessivamente por seu irmão Fernando de Barradas e por um neto deste, Fernando Pérez de Barradas y Figueroa, que comprou à Coroa em 1629 a vila de Graena e a aldeia de Cortes, conseguindo jurisdição senhorial sobre as mesmas, serviram de justificação para que o rei concedesse em 1683 o título de marquês de Cortes de Graena a Antonio Lope Pérez de Barradas y Aguayo Portocarrero descendente directo do irmão de Lope de Figueroa.[19]
A fama adquirida como bom militar suscitou que vários autores do Siglo de Oro o mencionassem ou o fizessem intervir como personagem nas suas obras: Lope de Vega em El asalto de Mastrique; Luis Vélez de Guevara em El águila del agua e em El cerco del Peñón; Juan Bautista Diamante em El defensor del Peñón; Agustín Moreto em La traición vengada; o alferes Pedro Alfonso Pimentel na inédita Guerras civiles de Flandes e Calderón de la Barca em Amar después de la muerte ou El tuzaní de La Alpujarra e em El alcalde de Zalamea, obra esta pela qual é mais conhecido e que perpetuou como personagem de génio mal-humorado, carácter desabrido e linguagem áspera e repleta de palavrões.
Notas e referências
↑Ainda que tradicionalmente se tenhas considerado que Lope de Figueroa nasceu em 1520, um estudo de Juan Luis Sánchez (s.a. B) publicado em 2010, que está baseado em fontes indubitáveis, establece o seu ano de nascimento por volta de 1541-1542.
↑Fernández de Navarrete (1819: 300); Leonardi 2013: 297.
↑A enciclopédia Espasa dá como lugar de nascimento e morte de Lope de Figueroa Valladolid e data de falecimento em 1595. Estes antecedentes erróneos foram-se difundindo em muitas edições de El alcalde de Zalamea, mas foram refutados por Stefano Arata (2002), que situa o falecimento a 1 de Novembro de 1585 em lugar de 28 de Agosto do mesmo ano, dada por Martín Fernández de Navarrete (1819: 300). Salvatore Leonardi (vide infra) aclara definitivamente a data em que teve lugar a morte de Lope de Figueroa e sugere como motivos que causaram os erros ao estabelecer as fechas difundidas anteriormente (Leonardi 2013: 295-299).
↑Segundo Sánchez (s.a. A y s.a. B), Lope de Figueroa foi nomeado capitão general da costa do Reino de Granada nos primeiros dias de Outubro de 1583, ao mesmo tempo que capitão general da gente de guerra de Portugal, enquanto que Leonardi (2013: 297) afirma que o cargo lhe foi outorgado em Monzón, poucos dias antes do seu falecimento, pelo que não chegaria a exercê-lo.
↑Martínez Laínez, Fernando; Sánchez de Toca, José María (2006). «Soldados y maestres». EDAF. Tercios de España. La infantería legendaria: 212. ISBN84-414-1847-0
↑Argote de Molina, Gonzalo (1575). «Principio y sucesión de la real casa de los Manueles». Juan Oliveres. El libro de Patrono o El conde Lucanor: 172. Don Lope de Figueroa, del hábito de Santiago, que siendo mozo fue al estado de Milán, donde fue soldado, y por su valor alcanzó una compañía de caballos ligeros
↑Krenkel, Max (1887). «Klassische Bühnendichtungen der Spanier Herausgegeben und erklärt, III. (Calderón, "Der Richter von Zalamea" nebst dem gleichnamigen stücke des Lope de Vega)». Leipzig: Johann Ambrosius Barth (em alemão): 87
↑O expediente está conservado no Archivo Histórico Nacional, OM-CABALLEROS_SANTIAGO, EXP.3084, e pode ser consultado em linha através do portal PARES (http://pares.mcu.es).
↑Esta real cédula encontrava-se conservada no século XVII no arquivo dos marqueses de Cortes e foi transcrita parcialmente por Juan de Hariza (1772: 24-26).
↑Sánchez s.a. B. O novo estudo biográfico deixa sem explicar que Lope de Figueroa fosse capitão em 1555, dado aportado pelo mesmo autor da tese na versão prévia do seu artigo: «El primer rastro documental de su carrera procede de 1555, siendo el capitán que porta la noticia de la caída de Casale Monferrato por la traición de su guarnición alemana (AGS, E, 1208)» (Sánchez s. a. A).
↑Sobre o cativeiro de Lope de Figueroa veja-se Leonardi (2013: 336-340), onde se aclara a duração do mesmo, que alguns autores tem vindo a cifrar em três anos em lugar dos quatro que terá durado.
↑A data exacta de 28 de agosto de 1585 encontra-se em algumas fontes documentais e em primeiro lugar no expediente do traslado dos restos de Lope de Figueroa de Monzón para Guadix.(AME (ARCHIVO MUNICIPAL DE ÉCIJA), leg. 334, doc. 18: «Testamento de don Lope de Figueroa, en Monzón de Aragón a 17 de agosto de 1585 (copia simple) y expediente del traslado de su cadáver desde Monzón a Guadix»). En algunos textos se encuentra la fecha del uno de noviembre de 1585, que sin embargo se debe considerar errónea, porque se refiere al nombramiento de don Diego de Rivera como nuevo administrador de la Encomienda de los Bastimentos del Campo de Montiel, de la que don Lope tenía el título. En Salazar y Castro, Luis (1949). Los comendadores de la Orden de Santiago. I. Madrid: Patronato de la Biblioteca Nacional. p. 44,, no se hace mención de la fecha del fallecimiento de Lope de Figueroa; en cambio, leemos que era comendador de los Bastimentos del Campo de Montiel desde 1582 y «falleció (...) teniendo la Encomienda, y S.M., en Monzón, a 1.° de noviembre de 1585, nombró por Administrador de esta Encomienda a don Diego de Rivera..» (la provisión real en favor de Rivera en: Archivo Histórico Nacional, OM - Santiago Encomiendas, leg. 4378, sign. núm. 36-170). Salvatore Leonardi (2013) concluye que la confusión en la fecha de defunción procedería verosímilmente de una lectura apresurada del texto citado y de ahí se sucederían: Figueroa y Melgar, Alfonso de (1965). Estudio histórico sobre algunas familias españolas. Madrid: Dawson&Fry. p. 427. El sucesor de don Lope es Don Diego de Rivera, en noviembre de 1585, tras el fallecimiento de Figueroa, ocurrido en Monzón el 1 de noviembre de dicho año, ... Arata (2002: 6) y Escudero Baztán, Juan Manuel (1 de abril de 2014). «La construcción del mito del buen militar: historia y funcionalidad dramática en Don Lope de Figueroa». Springer Netherlands. Neophilogus. 98 (2). ISSN0028-2677. Murió en Monzón el 1 de noviembre de 1585)
↑Testamento que hizo don Lope de Figueroa en Alexandría de la Palla a 13 de diciembre de 1577. Archivo Municipal de Écija. (Leg. 332, doc. 16, f 2v).
↑Leonardi 2013: 294. El linaje de los marqueses de Cortes de Graena vino a entroncarse en 1768 con el de los marqueses de Peñaflor, grandes de España, y en 1792 con el de los marqueses de Quintana de las Torres y de Bay. El primero que pudo ostentar los tres títulos juntos fue, en 1827, Fernando Pérez de Barradas Arias de Saavedra.(Véase al respecto:
Martín Ojeda, Marina; Valseca Castillo. Ana (2000). Écija y el Marquesado de Peñaflor, de Cortes de Graena y de Quintana de las Torres. Écija: Ayuntamiento de Écija : Fundación de los Excmos. Sres. Marqueses de Peñaflor y de Cortes de Graena. ISBN84-95345-03-X !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de autores (link)
Arata, Stefano (2002). «Pedro Crespo y la pata coja de Lope de Figueroa». Reichenberger, Kassel. Calderón 2000: homenaje a Kurt Reichenberger en su 80 cumpleaños: actas del congreso internacional, IV centenario del nacimiento de Calderón: 3-20