Olho Furta-Cor
Olho Furta-Cor é o décimo sétimo álbum de estúdio da banda brasileira de rock Titãs, lançado em 2 de setembro de 2022 pela Midas Music.[1][2][3][4] O disco foi gravado totalmente no ano de 2022 nos Estúdios Midas, produzido por Rick Bonadio e Sergio Fouad, e celebra os 40 anos do grupo.[5][6][3][7][8] Foi indicado ao Grammy Latino de 2023, na categoria Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa, mas perdeu para Jardineiros, do Planet Hemp.[9] ContextoAntes de Olho Furta-Cor, o último disco de inéditas lançado pelos Titãs havia sido Doze Flores Amarelas,[7] cuja turnê tinha uma estrutura muito cara, o que inviabilizou shows em diversas praças.[10] Em 28 de maio de 2018, a banda anunciou que Branco Mello se afastaria temporariamente dos shows e atividades da banda para tratar de um tumor na laringe.[11][12] Quando ele retornou às atividades, a banda entrou em estúdio para gravar o disco Titãs Trio Acústico, que foi lançado em 3 partes[13] e deu origem a uma turnê "desplugada", que rodou o Brasil entre 2019 e 2022.[14] Em 12 de novembro de 2021, a banda anuncia que, mais uma vez, Branco teria de se afastar devido a uma recidiva do tumor na laringe.[4] Dessa vez, a pausa foi mais longa, com Branco voltando aos shows somente 7 meses depois,[4] e cantando apenas "Cabeça Dinossauro" durante os shows devido a problemas na voz e recomendações médicas.[4] Gravação e lançamentoO álbum foi sendo preparado em encontros na casa de Branco, e também por conta própria pelos membros em suas respectivas casas, até a criação de uma fita demo. Depois disso, foram ao estúdio finalizá-lo.[7][15] Conforme as medidas sanitárias contra a pandemia de COVID-19 eram flexibilizadas e o grupo pôde retomar sua turnê acústica, algumas músicas do novo disco foram sendo incorporadas ao repertório.[15] Todas as faixas foram compostas em 2021.[15] As partes vocais de Branco no disco foram incluídas a partir de gravações demo realizadas antes de ele enfrentar tumores na garganta.[8] Olho Furta-Cor foi lançado em 2 de setembro de 2022, com um show de lançamento sendo realizado no dia 10 do mesmo mês no Tokio Marine Hall.[16] O comunicado de imprensa de divulgação do disco foi escrito pelo jornalista Pedro Bial, que afirma que "os Titãs sempre foram cronistas de seu tempo, com mais fúria que consolo. Talvez a fúria como único consolo possível".[6] ConceitoPerguntado sobre o conceito por trás do disco, Sérgio Britto afirmou que "nesse 'Olho Furta-Cor' é como se tivéssemos um olhar multicolorido, ou seja, essa cor que contém todas as cores, como se estivéssemos olhando com um olhar diverso para o Brasil e para o mundo. Nós comentamos muitos fatos que têm acontecido ultimamente, como esse isolamento da pandemia, o momento político difícil, a polarização no Brasil e no mundo… acho que todos esses temas estão presentes no disco e outros também mais leves".[7] Ele afirma ainda que "embora o país viva hoje com ameaças à democracia, existe no ar o cheiro de renovação, com uma busca por novos rumos políticos.[4] O "olho furta-cor" manifestaria algo que é ao mesmo tempo, sem cor e com todas as coeres.[17] O guitarrista Tony Bellotto diz que o disco traz doses de otimismo, mesmo com letras sobre temas pesados e negativos. "Nós acompanhamos o processo da redemocratização brasileira de maneira muito visceral. Na nossa infância e adolescência, vivíamos numa ditadura militar. Britto mesmo viveu anos fora do Brasil, exilado, com o pai. Então, é assustador ver que, depois disso tudo, um governo de extrema direita chegou ao poder com tanto apoio popular. Mas o disco é como um olho furta-cor. Estamos chocados, mas também esperançosos."[4] O título do disco foi tirado de um verso da música "São Paulo 3", composição de Sérgio Britto em cima de um poema de Haroldo de Campos[6][8][16][15] que foi apresentado ao grupo pelo diretor de teatro Felipe Hirsch.[17][6][8][18] Do mesmo texto, foram extraídas as letras de outra canção - "São Paulo 1", que fecha o disco.[8] As faixas expressam, segundo Sérgio, diferentes facetas da cidade: "o lado mais onírico, quase lisérgico” ("São Paulo 3") e “o lado mais bruto, nervoso” ("São Paulo 1").[8] Originalmente, "São Paulo" era uma única faixa, porém a banda achou melhor dividi-la e, neste processo a parte 2 se perdeu.[18] Além dos 40 anos da banda, o ano de lançamento do disco marca outras duas efemérides que o influenciaram: os 200 anos da independência do Brasil e os 100 anos da Semana de Arte Moderna de São Paulo.[6] Informações das músicasA faixa de abertura, "Apocalipse Só", foi escrita por Sérgio e Tony e fala sobre o desmatamento da Floresta Amazônica. Ela inclui um cântico Xingu e um coral infantil do Instituto Anelo, de Campinas;[8][4] o cântico foi incluído mediante um acordo com a Funai para que a tribo indígena responsável fosse compensada financeiramente; a participação deles remete à devastação da Amazônia e um clima de apocalipse.[8] Já as crianças foram chamadas para passarem um ar de esperança e renovação, em oposição ao clima amargo e apocalíptico da letra.[7][8][6] O grupo já havia colaborado com o coral anteriormente, num remix de "Epitáfio" capitaneado por Alok.[6][8] O single "Caos", lançado em 14 de julho de 2022,[1][15][3] foi escrito como um presente de Rita Lee e Roberto de Carvalho (sendo assinada também pelo filho deles e membro de apoio do grupo, Beto Lee).[18] Comentando sobre ela, Sérgio disse que ela faz referência ao momento vivido pelo Brasil sob Bolsonaro, porém de uma forma bem-humorada, típica de Rita Lee.[8][16][7][15] A faixa acabou sendo a última escrita por Rita, que morreu em maio de 2023.[19] "Como é Bom Ser Simples" (escrita por Branco, seu filho Bento e Hugo Possolo[8]) fala de "desapego" e "tenta desvincular dessas ameaçadas todas, desses transtornos que nos cercam, de instabilidade política, de pandemia sendo zen, sem deixar de colocar o dedo na ferida".[8] "Raul" é uma homenagem a Raul Seixas e dialoga com a relação entre o baião de Luiz Gonzaga e o rock de Elvis Presley que o cantor estabeleceu em entrevista a Pedro Bial, bem como do "Old Man River" com o "Velho Chico".[8][18] A letra estabelece então paralelos entre Andy Warhol e Mestre Vitalino; Jackson do Pandeiro e Chuck Berry; Bob Dylan e Patativa do Assaré; Bill Haley e Zé do Fole; Johnny Cash e Catulo da Paixão Cearense; e Mark Twain e Ariano Suassuna.[18] "Há de Ser Assim" é uma música que "clama por empatia"[4] e "Papai e Mamãe", escrita por Sérgio, foi inspirada pelas consequências do isolamento social em adolescentes - como a própria filha de Sérgio. Inicialmente, a faixa tinha uma perspectiva de um pai convidando a filha a sair e ver o mundo, mas ele sentiu que isso não se comunicaria com adolescentes nessa situação, então ele inverteu o olhar e passou a ser sobre uma pessoa isolada iniciando um processo de introspecção.[7][6] A música ganhou um clipe animado em estilo que mistura mangá e arte brasileira, dirigido e roteirizado por Nico Matteis.[20] "Por Galettas" tem letras em espanhol e foi escrita por Sérgio para falar sobre acusações de abusos de soldados de paz da ONU contra crianças no Haiti, assunto que chegou a ele por meio de um artigo no jornal El País.[7][8][4][18] Outras temáticas presentes no disco incluem a polarização ("Um Mundo")[1] e o amor entre dois homens ("Preciso Falar")[7][4][1] Faixas
CréditosTitãs
Membros de apoio
Participações especiais
Referências
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