Alliance Israélite Universelle
A Alliance Israélite Universelle (AIU ; em hebraico: כל ישראל חברים) é uma organização judaica internacional sediada em Paris, fundada em 1860[1] com o propósito de salvaguardar os direitos humanos dos judeus em todo o mundo. Ela promove os ideais de autodefesa e autossuficiência judaica por meio da educação e do desenvolvimento profissional. A organização é conhecida por estabelecer escolas em língua francesa para crianças judias em todo o Mediterrâneo, no Irã e no antigo Império Otomano no século XIX e no início do século XX. O lema da organização é uma expressão rabínica traduzida para o francês como tous les israélites sont solidaires les uns des autres (trad. "todos os judeus são solidários uns com os outros").[2] É administrada por um comitê executivo, no qual metade dos membros são residentes na França, e a outra metade em diferentes países.[1] HistóriaA AIU foi fundada por Jules Carvallo, Isidore Cahen, Narcisse Leven (secretário de Adolphe Crémieux), Élie-Aristide Astruc e Eugène Manuel em maio de 1860 em Paris,[4]e abriu sua primeira escola em Tetuão, no Marrocos em 1862.[5] Após os episódios de antissemitismo do Caso de Damasco (1840) e do Caso Mortara (1858), a AIU embarcou em uma " missão civilizatória" para promover os judeus do Oriente Médio através da educação e da cultura francesa.[6] Os membros originais da sociedade eram judeus, e a maior parte de seus membros pertence a essa fé, mas a associação conta com a simpatia e cooperação de muitos cristãos proeminentes. Conforme descrito em seu prospecto, o programa da sociedade incluía a emancipação dos judeus de leis opressivas e discriminatórias, deficiências políticas e a defesa deles em países onde eram submetidos à perseguição.[7] Para atingir seus objetivos, a sociedade propôs-se a realizar uma campanha de educação por meio da imprensa e da publicação de obras sobre a história e a vida dos judeus. No início, porém, a medida adotada pela sociedade para levar alívio aos seus irmãos oprimidos em outros países era garantir a intercessão de governos amigos em seu favor. Assim, já em 1867, os governos de França, Itália, Bélgica e Holanda condicionaram a renovação dos tratados existentes com a Suíça à concessão de plenos direitos civis e políticos aos judeus por parte daquele país. Em 1878, representantes da Aliança apresentaram as condições dos judeus na Península Balcânica ante o Congresso de Berlim, e como resultado o Tratado de Berlim estipulou que na Romênia, Sérvia e Bulgária não deveria ser feita qualquer discriminação contra qualquer religião na distribuição dos direitos civis. A AIU atuou especialmente na proteção e na assistência aos judeus do Marrocos, da Argélia e da Pérsia, e interveio em várias acusações de libelo de sangue contra judeus em vários países.[1] EscolasCom o tempo, a atividade da Aliança tornou-se mais focada na educação e especialmente na melhoria do bem-estar dos judeus. Dois anos após a abertura da primeira escola em Tétuan, uma escola da Aliança foi aberta em Bagdá em 1864.[8] Em 1870, Charles Netter, membro fundador da Aliança Israelita Universal, recebeu um pedaço de terra do Império Otomano como presente e abriu a escola agrícola Mikveh Israel,[9] a primeira de uma rede de escolas judaicas na Palestina antes do estabelecimento do Estado de Israel. Mais de 60 escolas da Aliança operavam no Oriente Médio Otomano, no Irã e no Norte da África, oferecendo ensino fundamental formal e treinamento vocacional para crianças judias de famílias pobres. Muitos dos professores foram educados nas escolas de formação de professores da Aliança na Turquia e na França.[10] A Aliança fundou uma escola gratuita em Jerusalém em 1868. Ela foi seguida por Mikveh Israel, perto de Jafa, fundada em 1870.[9] Em 1882, uma escola secundária para meninos foi fundada em Jerusalém. Amin al-Husayni foi um dos seus alunos. O edifício original na Jaffa Road foi demolido depois de 1967. Em 1903, o grupo sionista Bnei Moshe deveria receber uma bolsa para abrir uma escola, mas seu financiamento foi retirado devido à insistência de Beni Moshe de que as aulas fossem em hebraico. No ano seguinte, a Aliança doou a propriedade que mais tarde se tornou as escolas Neve Tzedek (meninas) e Gymnasia Hezliya (meninos). Em 1906, a Aliança abriu uma escola secundária para meninas em Jerusalém. Em 1900, a Aliança Israelita Universal administrava 100 escolas com uma população estudantil combinada de 26.000. Os seus maiores esforços concentraram-se em Marrocos, na Tunísia e na Turquia.[5] Após décadas de ensino exclusivamente em francês, as escolas começaram a ensinar hebraico aos seus alunos depois que o décimo primeiro Congresso Sionista insistiu, em meio ao renascimento moderno da língua hebraica, que esta fosse incluída no currículo. Em 1912, a Aliança tinha 71 escolas para meninos e 44 para meninas, com escolas em Bagdá, Jerusalém, Tânger, Istambul, Beirute, Cairo, Damasco e Salonica, sendo a principal fornecedora de educação moderna para judeus.[11] Um relatório de 1930 descobriu que havia 10 escolas judaicas em Bagdá, educando 7.182 crianças. Duas delas eram administradas pela Alliance Israélite Universelle. A escola para meninos era originalmente a escola David Sassoon, fundada em 1865. Albert Sassoon a doou à Aliança em 1874. Recebia 475 meninos. Quatro idiomas eram ensinados: hebraico, árabe, francês e inglês. Havia aulas de Ciências, Geografia e História. Todas as aulas eram ensinadas em francês, exceto os estudos morais e religiosos, que eram em hebraico. A Já a Alliance School for Girls foi fundada por Elly Kadoorie com 1177 alunas e com um currículo semelhante. Escolas por paísEscolas em IsraelA AIU continua operando dezenas de escolas e programas educacionais em Israel atualmente. Suas escolas históricas incluem a Alliance High School em Tel Aviv, a Alliance Israélite Universelle High School em Haifa, a René Cassin High School e a Braunschweig Conservative High School em Jerusalém. A rede também inclui a Escola para Surdos em Jerusalém, na qual estudantes surdos, judeus e árabes, com diversas deficiências mentais e físicas, estudam juntos. A vila juvenil Mikve Israel opera uma escola secundária estadual, uma escola secundária religiosa estadual especializada em ciências biológicas e naturais, ciências ambientais e biotecnologia; e uma escola secundária franco-israelita fundada em 2007 como uma iniciativa conjunta dos governos israelense e francês.[12] Escolas na TurquiaNa década de 1860, quando as escolas de ensino médio francês operadas pela Alliance Israélite Universelle foram abertas, a posição do judaico-espanhol (ladino) começou a enfraquecer nas áreas do Império Otomano.[13] O judaico-espanhol não foi usado como língua de instrução em nenhum momento da história, sendo adquirido por meio das famílias; portanto, o hebraico era percebido como a língua étnica de instrução para o povo judeu, usada por razões religiosas, no império.[14] Com o tempo, o judaico-espanhol passou a ser visto como uma língua de baixo status, então as pessoas evitavam aprendê-lo.[13] Com o passar do tempo, a língua e a cultura judaico-espanhola declinaram e, em 2017, a escritora Melis Alphan descreveu que o judaico-espanhol estava "morrendo na Turquia".[13] Impacto sobre meninas e mulheresA AIU mudou e moldou os papéis e oportunidades para as mulheres no Norte da África. Antes de sua criação, apenas as meninas de famílias ricas ou de famílias de rabinos que recebiam alguma educação.[15] A alfabetização e o treinamento qualificado proporcionaram uma oportunidade de ascensão social, especialmente para as meninas judias de origens desfavorecidas que anteriormente não podiam receber educação. Os currículos incluíam matemática fundamental, como aritmética, e exposição a disciplinas europeias, como geografia europeia e língua francesa.[15] Além disso, as meninas recebiam formação profissional em áreas como bordado, costura, contabilidade, trabalho de secretariado, assistência de laboratório e química industrial; esta formação promoveu a independência econômica das mulheres judias na região.[15] Muitas mulheres norte-africanas também foram educadas e treinadas como professoras da AIU na França, retornando depois aos seus países de origem para ensinar. Junto com a mudança econômica, a AIU também mudou normas culturais para meninas judias no Magrebe. Principalmente, a AIU fez lobby para estender a idade típica de casamento de doze para quinze anos até 1948.[15] Essa mudança no papel das mulheres gerou controvérsias em relação à secularização da sociedade judaica por meio de uma educação no estilo ocidental. SecularizaçãoA AIU e, de forma mais geral, a colonização francesa de áreas do Norte da África, transferiram a educação das mãos de rabinos e de líderes religiosos para instrutores seculares europeus. Na Argélia, esta mudança resultou em um mandato legal: em 1845, uma lei exigiu que os judeus da Argélia fossem registrados em escolas francesas e frequentassem apenas uma escola religiosa como suplemento.[16] Embora a AIU ensinasse disciplinas seculares e religiosas, como hebraico e história bíblica, os líderes religiosos ainda questionavam e lamentavam a secularização.[15] Da mesma forma, a AIU tentou secularizar os sistemas jurídicos judaicos no Norte da África. Antes da colonização, os judeus no Marrocos operavam seu sistema legal de acordo com a Halakha (lei judaica). Em 1913, a AIU apelou ao governo francês para julgar os “habitantes indígenas [judeus]” em tribunais franceses em vez de tribunais rabínicos.[17] Influência políticaAlém da secularização, a AIU usou sua influência para defender a assimilação política dos judeus magrebinos na sociedade francesa. Os instrutores da AIU foram fundamentais no movimento de naturalização de judeus marroquinos educados. [18] Presidentes
Referências
BibliografiaLivros
Outras publicações
Ver tambémEx-alunos notáveis
Ligações externas
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