Campanha da Cordilheira
A Campanha da Cordilheira (1869-1870) foi a quinta e última fase da ofensiva brasileira contra o Paraguai, liderada por Gastão de Orléans, genro de Pedro II, para derrotar o restante das tropas lealistas paraguaias e capturar vivo ou morto o presidente Solano López, entre o período de julho de 1869 a 1 de março de 1870. Após a ocupação de Assunção pela Tríplice Aliança, o presidente Francisco Solano López retirou-se para o interior do país, perseguido pelas forças brasileiras. O exército paraguaio foi destruído em uma série de batalhas, como a Batalha de Campo Grande e o Combate de Cerro Corá; e idosos e crianças foram vítimas, mas continuaram sua jornada seguindo López, cada vez mais com a falta de armas e alimentos, ao ponto de que milhares deles morreram de fome.[1][2] No dia 1 de março de 1870, López foi atacado e morto pelas tropas brasileiras no Combate de Cerro Corá. AntecedentesA Guerra do Paraguai aconteceu de 1864 a 1870 entre o Paraguai, Brasil e Argentina por decorrência da participação desses países na guerra civil do Uruguai.[3] Em 1862, morreu o presidente do Paraguai Carlos Antonio López, que foi substituído por seu filho Francisco Solano López. López tentou intimidar Pedro II a não intervir no Uruguai, porém este simplesmente ignorou as ameaças paraguaias. Em 12 de novembro de 1864, as autoridades paraguaias aprisionaram o vapor brasileiro Marquês de Olinda, e em dezembro as tropas de López invadiram Mato Grosso e em dois meses parte desse território foi ocupado por forças paraguaias. Em abril de 1865, López atacou Corrientes e Entre Rios, províncias argentinas até então aliadas do Paraguai.[3] No dia 1 de maio de 1865 foi assinado em Buenos Aires o Tratado da Tríplice Aliança, o qual determinava que a paz só seria negociada se Solano López fosse deposto; e também que o Paraguai pagaria os prejuízos decorrentes da guerra.[3] Em 1869, assim que as tropas brasileiras tomaram Assunção, Duque de Caxias, alegando estar doente, deu a guerra como encerrada e abandonou a busca por Solano López. O Estado conferiu-lhe o Grão-Colar da Ordem de Pedro I e o título de Duque. A partir de 22 de março de 1869, o genro do imperador Dom Pedro II, Luís Filipe Gastão de Orléans, Conde d'Eu, entra na Guerra do Paraguai para capturar Solano.[3] O marido da Princesa Isabel possuía experiência militar, já que foi enviado como oficial subalterno da campanha espanhola na Guerra do Marrocos.[4] No dia 30 de março, o conde embarcou no vapor Alice e chegou em Assunção no dia 14 de abril. As forças brasileiras estavam acampadas em sua maioria na cidade de Luque e nos arredores, a uma légua de distância de cada base. Em Assunção havia 2 748 soldados, 1 588 em Humaitá, 2 044 em Rosário e 1 300 no Aguapehy. Além disso, acrescentam-se 4 mil argentinos, 600 orientais contra 500 paraguaios.[5] A campanhaBatalha de Campo GrandeGastão então marchou para o interior paraguaio em busca de Solano, para que pudesse finalmente capturar o ditador paraguaio, a primeira grande batalha foi a Batalha de Campo Grande, ou Batalha das Crianças, que aconteceu em 16 de agosto de 1869. Crianças combatentes do exército paraguaio atrasariam as tropas brasileiras, enquanto o marechal Solano López se deslocaria com segurança em direção a Cerro Corá.[6] O conflito aconteceu pela manhã em um campo aberto coberto de ervas daninhas. O general Bernardino Caballero com seus quinhentos soldados do VI Batalhão de Veteranos, reuniu os três mil e quinhentos filhos e esperou o ataque. A armada paraguaia sofreu o ataque brasileiro no norte, leste, sul e oeste pelas forças comandadas pelo Conde D'Eu. Em uma proporção de cinco brasileiros para um paraguaia, a batalha durou até a noite.[6] Solano López enviou 500 veteranos e 3,5 mil crianças usando barbas faldas e idosos que não conseguiam segurar direito um rifle ou um fuzil, sem contar das mulheres mães das crianças; os 20 mil soldados da Tríplice Aliança, então, atacaram os paraguaios pensando ser um exército profissional, ao perceber se tratar de um exército formado por crianças, mulheres e idosas que não sabiam atirar, já era tarde demais e o massacre já estava feito.[7] Com o massacre já realizado, o ódio entre os brasileiros contra López aumentou cada vez mais e com isto, marcharam ainda mais motivados durante a campanha. Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay (1843 - 1899), participou da Guerra do Paraguai no período de 1864 a 1870 como engenheiro militar. Também é conhecido como escrito, professor e historiador. Lançou o livro A Campanha da Cordilheira ao qual narra os episódios da Campanha da Cordilheira, quando foi o secretário do Estado-Maior do Príncipe Conde d'Eu.[8] O autor também ficou conhecido como um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras[9] O Visconde registrou no Diário do Exército que muitas crianças lutavam e quando eram derrotadas, largavam as armas, abaixavam a cabeça e "esticavam o pescoço à espera do golpe das pesadas espadas". Esta cena foi omitida das pinturas oficiais das batalhas de Campo Grande e Avahí, pois comprometia o heroísmo do exército brasileiro.[10] Confira trecho em que Taunay descreve o que presenciou da Batalha do Campo Grande:
Crimes de guerraGastão de Orleans, conhecido como Conde d'Eu, é considerado um dos que mais cometeram crimes de guerra de todos os tempos.[7] Ordenou que cadáveres com coléra fossem jogados no Paraná. Contaminava prisioneiros paraguaios com a bactéria da varíola e depois o soltava para que contagiasse o inimigo; ou que soldados brasileiros contaminados fossem capturados pelas tropas de Solano Lopez. Na batalha de Acosta Ñu, o Conde matou um exército de crianças de 6 a 14 anos e quando as mães foram recolher os corpos, ordenou que a área fosse incendiada.[1] Os crimes também erram cometidos pela polícia:
Entre junho e agosto de 1869, uma testemunha ocular calculou que 100 000 homens, mulheres e crianças paraguaios tivessem morrido por doenças e fome durantes os dois meses da campanha da Cordilheira, equivalente a quase um quarto da população do Paraguai antes da guerra. O exército sofreu mais de 6 000 baixas na mesma época.[11] Ao final da guerra, estipula-se que o Paraguai teve baixas entre 800 mil a 1,3 milhão de pessoas.[3] A pena de morte foi implementada na Guerra do Paraguai pela Justiça Militar. D. Pedro II era contra a medida e conseguiu alterar 30 das 35 condenações à morte no período entre outubro de 1867 a julho de 1870. O General Caxias considerava a pena como modo de disciplinar as tropas em combate, dessa forma não considerou positivo o posicionamento do Imperador. O general General Evangelista de Castro Dionísio Cerqueira narra em seu livro Reminiscências da Campanha do Paraguai: 1865-1870 os castigos abusivos dos superiores para com os soldados, em relação à pena de morte:[12]
Além da violência, destaca-se a questão da fome, a falta de indumentárias, medicamentos e a contágio de doenças, como a varíola, cólera e malária. Em seu livro Invasão paraguaia na fronteira brasileira do Uruguai (página 19. Porto Alegre: Instituto Estadual do livro, 1980), o Cônego João Pedro Gay, testemunha ocular da guerra, relatou a invasão paraguaia e os desafios de sobreviver na guerra:[13]
Batalha de Cerro CoráO marechal Solano López estabeleceu o dia 1º março de 1870 para a comemoração do casamento de sua filha Rosita com o coronel Juan Crisóstomo Centurion. Mas, as tropas brasileiras encontraram o exército paraguaio em Cerro Corá, no norte do Paraguai em fronteira com o Brasil. Foram 2 600 brasileiros bem armados contra 409 paraguaios.[14] Ao perceber o ataque, López pede para que Elisa Alícia Lynch e seus filhos, com exceção de seus filho Panchito e sua mãe Juana Pabla, que fossem para os arredores do quartel general. Enquanto ele saiu em direção ao rio Aquidabán com Panchito e meia dúzia de pessoas.[14] Solano López foi ferido pela lança do cabo Chico Diabo e um sabre na testa. Auxiliado por um soldado, ele chega no rio Aquidabán, onde foi encontrado pelas tropas comandadas pelo general José Antônio Correia da Câmara, que pediu a ele que se rendesse. Solano se recusou e ainda com a espada na mão tentou se defender, um cabo atirou na coração dele, que acabou falecendo.[14] O filho do presidente, Panchito, foi morto por soldados enquanto fugia com sua mãe, Elisa Alícia Lynch. Desta forma, chegava ao fim a Guerra do Paraguai. Este episódio ficou conhecido como Batalha de Cerro Corá.[15] Após a morte de Solano López, o exército paraguaio se dividiu: uma parte se rendeu em 4 de março em Panadero às forças brasileiras, mas em sua maioria foram massacrados. A outra parte foi em busca de gado e mantimentos, contudo foram alcançados nas proximidades do rio Apa em 8 de março.[16] Representações artísticasNo óleo sobre tela de 332 por 530 cm, localizado no Museu Imperial no Rio de Janeiro, a "Batalha de Campo Grande, 1871" do pintor Pedro Américo escolhe a batalha final da guerra, que aconteceu em 16 de agosto de 1869.[10] A cena ilustra o momento que os paraguaios, após a perseguição, contra-atacam colocando em risco a vida do Conde d'Eu; um ajudante procura proteger o comandante segurando as rédeas do cavalo[17] O pintor procurou por fatos críveis sobre o episódio, pois queria retratar o que realmente aconteceu pelo ponto de vista dos "três ou quatro principais senhores do estado-maior de Sua Alteza o Conde d'Eu com seus respectivos uniformes",[10] disse Pedro Américo em carta . Os capitães Taunay, Castro e Almeida Torres responderam o pedido do artista. Almeida Torres mencionou em carta que seria difícil entrar os retratos das pessoas que participaram da Batalha, e recomendou que o pintor indicou fotógrafos que vendiam imagens dos heróis da guerra e de personalidades da Corte no Rio de Janeiro. Para descrever o major Moraes, Torres recorreu à descrição: "...barbas brancas compridas, feições regulares, nariz pequeno, bem como os olhos, bigode espesso, também parelho. É homem de estatura maior que meia, cheio de corpo”.[18][10] Pedro Americo escolhe a cena da última grande batalha da guerra, ocorrida em 16 de agosto de 1869, quando os paraguaios, após sofrerem perseguição, contra-atacam, colocando em perigo a vida do Conde d’Eu (Taunay, 1926, 198-199). O pintor representa o momento preciso em que um ajudante-de-ordens procura protegê-lo, segurando-lhe as rédeas do cavalo; impedindo-o de prosseguir. Outra obra feita pelo pintor foi a "Batalha do Avaí", óleo sobre tela feita por volta de 1872 a 1877. Encomendada pelo Império, a obra dividiu o público na época: alguns se impressionaram com a grandeza dos detalhes, outros criticaram a violência do conflito, onde havia diversos paraguaios mortos no chão do combate. Os soldados negros foram representados de maneira heroica no quadro no contexto em que o movimento abolicionista começou a eclodir.[3] O pintor Adolfo Methfessel retratou a morte de Solano López na obra "Morte de Francisco Solano López no Rio Aquidabán, Batalha de Cerro Corá" em 1870.[19] CuriosidadesO Dias das Crianças no Paraguai é celebrado no dia 16 de agosto, por causa das crianças que perderam suas vidas na Batalha de Campo Grande.[6] Ver também
Referências
Material complementar
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