Expedição austro-húngara ao Polo NorteA Expedição austro-húngara ao Polo Norte foi uma expedição científica ao oceano Ártico que teve lugar de 1872 a 1874, e que descobriu um dos arquipélagos mais setentrionais do mundo, a Terra de Francisco José. ObjetivosDe acordo com Julius von Payer (1841-1915), um dos líderes da expedição, a viagem tinha como intuito encontrar a Passagem do Nordeste, e por isso realmente exploravam a zona noroeste de Nova Zembla. De acordo com o outro líder, Karl Weyprecht (1838-81), o Polo Norte era um objetivo secundário. O financiamento teve um montante total de 175 000 florins, sufragados pelos nobres do Império, sendo os dois principais contribuintes Johann Nepomuk, conde Wilczek (1837-1922) e Ödon, conde Zichy (1811-1894). O navio principal era o Tegetthoff, assim chamado em homenagem ao almirante austríaco Wilhelm von Tegetthoff, às ordens do qual servia Weyprecht. O navio foi construído por Teklenborg & Beurmann em Bremerhaven. Era uma escuna de 220 toneladas e três mastros, de 38,34 m de comprimento e com um motor de vapor de 100 CV (75 kW). A tripulação provinha de todas as partes do Império Austro-Húngaro, especialmente da Ístria e da Dalmácia.[1][2][3] Preparação e antecedentesEm 1896, Adrien de Gerlache de Gomery comprou o navio baleeiro Patria, de construção norueguesa, que, após uma extensa reforma, foi rebatizado como Belgica.[4] A caminho da Antártica, a expedição visitou Madeira, Rio de Janeiro e Montevideo. O Belgica foi recebido com especial entusiasmo no Rio de Janeiro, onde vivia uma grande comunidade belga. Frederick Cook, um americano, juntou-se à expedição lá. Os brasileiros também se interessaram muito pelo empreendimento científico belga.[5][6] Algumas semanas depois, em Montevidéu, Amundsen escreveu em seu diário que nunca tinha visto tantas mulheres bonitas “no mesmo lugar e ao mesmo tempo”.[7] Em janeiro de 1898, o navio alcançou a costa de Graham Land. Em 22 de janeiro, Carl Wiencke caiu no mar durante uma tempestade e se afogou. A Ilha Wiencke foi nomeada em sua homenagem. Navegando entre a costa de Graham Land e uma longa cadeia de ilhas a oeste, Gerlache nomeou a passagem de "Estreito da Bélgica". Mais tarde, a passagem foi renomeada como Estreito de Gerlache em sua homenagem. Depois de mapear e nomear várias ilhas em cerca de vinte desembarques, a expedição cruzou o Círculo Antártico em 15 de fevereiro.[8] Não conseguindo encontrar um caminho para o Mar de Weddell, em 28 de fevereiro, a expedição ficou presa no gelo do Mar de Bellingshausen, perto da Ilha Pedro I.. É provável que Gerlache tenha navegado intencionalmente no gelo à deriva para congelar o navio durante o inverno.[9] PlanoO plano era viajar da Noruega para a costa norte de Novaya Zemlya e, de lá, através das Ilhas da Nova Sibéria, partir para a América, em um período de dois anos e meio. Esperava-se também descobrir terrenos que pudessem servir de base para chegar ao Polo Norte por mar.[10] A viagemO Tegetthoff, com a sua tripulação de 24 homens, deixou Tromsø, na costa da Noruega, em julho de 1872. Em finais de agosto ficaram presos na banquisa a norte de Nova Zembla, ficando à deriva nas até então desconhecidas regiões polares. Nessa deriva, a expedição descobriu um arquipélago a que chamou Terra de Francisco José em homenagem ao imperador austro-húngaro Francisco José I, em 30 de Agosto de 1973.[1][2][3] Em maio de 1874 o capitão Weyprecht decidiu abandonar o barco preso no gelo e iniciar o regresso em trenós e botes. Em 14 de agosto de 1874, a expedição chegou a mar aberto e em 3 de setembro, finalmente, os seus integrantes conseguiram voltar à Rússia continental. InvernoA expedição estava mal equipada e não tinha roupas de inverno suficientes para todos os tripulantes. Também faltava comida. Antes do início do inverno, houve caça de pinguins e focas para armazenamento de sua carne. Agasalhos foram improvisados a partir de materiais disponíveis a bordo. Em 21 de março de 1898, Frederick Cook escreveu: "Estamos aprisionados em um mar de gelo sem fim... Contamos todas as histórias, reais e imaginativas, às quais somos iguais. O tempo pesa sobre nós à medida que a escuridão avança lentamente." [11] Gerlache não gostou da carne de pinguim e foca que havia sido armazenada e tentou proibir o seu consumo, mas eventualmente acabou o incentivando. Sinais de escorbuto começaram a aparecer em alguns homens e dois tripulantes apresentaram sinais de doença mental. Gerlache e o capitão Georges Lecointe ficaram tão doentes que escreveram os seus testamentos. O tenente Danco adoeceu devido a um problema cardíaco e morreu em 5 de junho, sendo a Ilha Danco nomeada em sua homenagem. Cook e Amundsen assumiram o comando da expedição, já que Gerlache e Lecointe não conseguiam mais cumprir as suas funções por conta do escorbuto. A deficiência de vitamina C como verdadeira causa do escorbuto não havia sido descoberta até a década de 1920, mas Cook estava convencido de que a carne crua era uma possível cura para a doença devido às suas experiências com Robert Peary no Ártico. Então insistiu que todos a bordo comessem um pouco da carne de pinguim e de foca todos os dias. Até mesmo Gerlache começou a comer a carne. Aos poucos, os tripulantes recuperaram a saúde. Atualmente, sabe-se que a carne crua contém uma pequena quantidade de vitamina C.[12] SignificadoAs descobertas e experiências da expedição significaram uma importante contribuição para a ciência polar, especialmente a descoberta da Passagem do Nordeste por Adolf Erik Nordenskiöld. Também deu um impulso ao Ano Polar Internacional, o que significou uma mudança do modelo de expedições individuais, quase encaradas como corridas desportivas, para dar lugar à cooperação científica em todo o mundo para explorar as regiões polares. A expedição conseguiu resultados notáveis nos campos da meteorologia, astronomia, geodesia, magnetismo, zoologia, e observações da aurora boreal, que foram publicados pela Academia Austríaca de Ciências em 1878. Além disso, foi publicado um livro (A expedição austro-húngara ao Polo Norte 1872-74) e pinturas realizadas por Payer, provavelmente as únicas pinturas de uma expedição polar criadas pelo próprio explorador.[13] RecepçãoNo regresso à Antuérpia, a expedição foi calorosamente recebida. Há meses um comitê especial vinha planejando festividades de recepção.[14] Comum às expedições polares desta época, havia sentimentos de orgulho nacional e regional que cercavam as celebrações de regresso. O Estado belga homenageou Gerlache e os tripulantes da expedição, tornando-os membros da Ordem Real de Leopoldo. O governo municipal de Antuérpia homenageou os homens com medalhas, registrando os seus nomes no Livro de Ouro da cidade.[15] Tripulantes que deixaram a expedição:[16]
Referências
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