Sebastião Miranda da Silva Filho
Sebastião Miranda da Silva, mais conhecido como Mirandinha (Bebedouro, 26 de fevereiro de 1952), é um ex-futebolista brasileiro. CarreiraMirandinha era um centroavante conhecido por sua raça[1] e velocidade — fazia cinquenta metros em 5,2 segundos no início de sua carreira.[2] Começou a carreira em 1968, no América de São José do Rio Preto, onde ficou até ser comprado pelo Corinthians, em 6 de julho de 1970. O presidente do América, Benedito Teixeira, o Birigui, teria ido a São Paulo com a intenção de vender o passe do jogador ao Alvinegro por oitenta mil cruzeiros, mas o presidente corintiano, Wadih Helu, se antecipou à pedida de Birigui e ofereceu cem mil cruzeiros, mais um amistoso em São José do Rio Preto.[3] Como ele já tinha se destacado em seleções estaduais juvenis, sua contratação foi aplaudida.[4] "[O Corinthians] comprou o passe de um garoto de apenas dezoito anos cujo futebol, desde a seleção juvenil, vem pintando como dos melhores", escreveu o Diário Popular. "Esse foi o tipo do negócio que se pode qualificar como um grande investimento."[4] Como ele já tinha jogado pelo América na fase preliminar do Campeonato Paulista, especulou-se que não poderia jogar no novo time até o início do Robertão, porém a Federação Paulista informou que considerava a fase preliminar um outro campeonato, liberando-o.[5] Sua estreia não foi boa, como destacou o Diário Popular: "Excessivamente inibido, não fez uma jogada sequer capaz de justificar sua inclusão no time de cima. Estranhamos esse seu comportamento, pois o garoto sabe jogar e muito bem."[6] No Parque São Jorge, dizia-se que ele "impressionava tanto pelos gols que fazia quanto pelos muitos que perdia",[7] mas foi um dos principais jogadores do time até ser vendido ao São Paulo, em 1973, por 1,2 milhão de cruzeiros,[3] depois de marcar cinquenta gols em 162 jogos no Parque São Jorge.[8] Com o dinheiro que ganhou na transferência, comprou uma casa atrás do Aeroporto de Congonhas.[2] Foi no São Paulo que viveu sua melhor fase.[9] Depois de chegar ao Morumbi, marcou doze gols em vinte jogos pelo Campeonato Brasileiro de 1973,[1] que lhe valeram a Bola de Prata da revista Placar em sua posição[10] e o levaram à seleção brasileira que disputou amistosos preparatórios para a Copa do Mundo de 1974. Começou como titular contra o México (1 a 1) e contra a Tchecoslováquia (1 a 0), sendo substituído por Leivinha nessa última partida. Contra a Bulgária (1 a 0), entrou no lugar do mesmo Leivinha. Apesar de não ter participado dos nove amistosos seguintes, foi convocado para o mundial da Alemanha, às pressas, no lugar de Clodoaldo.[11] Disputou quatro partidas, atuando até na ponta direita[12], com que não estava acostumado. Foi titular contra a Escócia e entrou no segundo tempo contra Zaire, Holanda e Polônia, na qual substituiu o ídolo palmeirense Ademir da Guia em sua única participação em Copas do Mundo.[13] "Eu joguei em quatro partidas [na Copa] e, apesar da derrota, tirei muito proveito dessa experiência. Afinal, jogar pela Seleção é o sonho de qualquer jogador. E eu cheguei lá", contaria Mirandinha, 32 anos depois.[14] Sem marcar gols em nenhuma das sete partidas em que atuou, essa foi sua última participação com a camisa do Brasil.[15] O problema não esteve exatamente relacionado às atuações de Mirandinha. O Brasil só voltaria a jogar em 30 de julho de 1975, pela Copa América, mas o centroavante, àquela altura, estava seriamente contundido. Em 24 de novembro de 1974, o São Paulo enfrentara o América, no Estádio Mário Alves Mendonça, em São José do Rio Preto. Mirandinha abriu o placar aos oito minutos do segundo tempo. Pouco depois, entrou em uma dividida com o zagueiro Baldini — Mirandinha também era famoso por não tirar o pé das divididas[11] —, mas levou a pior e teve fratura dupla na tíbia e na fíbula.[2] A foto do lance, de Domício Pinheiro, é famosa.[16] Sua família teve de esconder-lhe os jornais que mostravam o médico Dalzell Gaspar juntando as duas partes em que sua perna se dividira.[17] Foi substituído imediatamente por Serginho, que marcou dois gols naquele jogo, fechando a vitória em 3 a 0.[18] Meio constrangido, Serginho aceitou a responsabilidade: "Agora chegou minha chance. É uma pena que tenha sido deste modo, mas eu preciso aproveitá-la. Meu contrato termina em dezembro, e eu ganho muito pouco."[12] Ele, de fato, aproveitou a chance e veio a se tornar o maior artilheiro da história do São Paulo, com 243 gols.[19] Dez meses após a fratura, ele chegou a disputar alguns amistosos com um time reserva do São Paulo, depois de ser liberado pelos médicos que o tratavam para treinar com bola.[17] "Se estou liberado para os coletivos, estou para os jogos, também", avaliou. "Vou jogar amanhã, em Guaratinguetá, de qualquer maneira. A responsabilidade é toda minha."[17] Dois meses antes, Freire previa que Mirandinha voltaria a jogar no Campeonato Brasileiro: "Ele só precisa fortalecer a musculatura da perna e perder um pouco de peso. No Campeonato Brasileiro, estará à disposição do técnico Poy."[20] A volta, entretanto, foi efêmera, e ele não só não conseguiu voltar ao time principal como teria de voltar a colocar o gesso, que só tiraria definitivamente em 25 de maio de 1977[21], dois anos e meio após a contusão, depois até de ser desenganado por médicos em relação à continuidade de sua carreira e cogitar voltar a São José do Rio Preto com a família para talvez montar algum negócio.[22] Antes disso, Ao todo, foram sete cirurgias[23], duas delas com enxertos ósseos.[2] O tempo total que ele ficou parado foi de mais de três anos, mas o São Paulo pagou todos os seus salários enquanto o jogador ficou parado,[2] incluindo "bichos" por vitórias e empates.[3] Após tirar o gesso, Mirandinha seguiu fazendo um trabalho intensivo, ao lado do lateral esquerdo Osmar.[22] A volta aos gramados só se daria 1 109 dias depois da contusão, em 7 de dezembro de 1977, na segunda fase do Campeonato Brasileiro, contra o Brasília no Pacaembu[24], embora ele já tivesse sido cogitado para entrar em campo contra o Santa Cruz, ainda pela primeira fase.[25] Mirandinha entrou no intervalo, substituindo a Serginho, que marcara dois gols no primeiro tempo.[26] "Nem tive tempo para ficar nervoso", disse o jogador depois da partida. "O [técnico do São Paulo, Rubens] Minelli me chamou num canto e disse: 'Entre no lugar do Serginho e seja feliz.'"[27] Mesmo com o gramado pesado, por causa das fortes chuvas do dia (que chegaram a ameaçar até a realização da partida[28]), Mirandinha participou de quinze jogadas "dignas de nota".[24] Faltou apenas o gol. Sua melhor chance foi aos 38 minutos, quando o goleiro Déo fez uma defesa desequilibrada em uma cabeçada do centroavante, para desespero dos jogadores no banco de reservas do São Paulo, que gritava e xingava.[12] Já dez quilos mais magro em relação a maio, quando tirara o gesso[29], ele entrou no segundo tempo em quatro dos cinco jogos seguintes[26] e finalmente começou como titular em 15 de fevereiro de 1978, contra o Sport, pela terceira fase do Brasileiro de 1977, que ainda não tinha terminado. Sua vaga no time titular veio com a suspensão de Serginho, por causa de expulsão no jogo anterior, contra o Botafogo, em Ribeirão Preto, a mesma expulsão que duas semanas depois lhe valeria uma suspensão de catorze meses.[30] "O futebol é engraçado", dizia Mirandinha na véspera da partida. "Ele entrou no meu lugar quando eu estava na melhor fase da minha vida. E agora eu entro no lugar dele exatamente na mesma situação."[31] Nervoso antes de entrar em campo, Mirandinha teve medo de decepcionar a torcida, medo esse que se acentuou quando ele teve de dar a saída no meio-de-campo duas vezes depois dos gols adversários que abriram o placar.[29] O São Paulo empatou a partida ainda no primeiro tempo, e Mirandinha foi fundamental no gol da virada, marcado por Zé Sérgio, ao deixar o passe de Zequinha passar, enganando a dupla de zaga pernambucana. O centroavante comemorou o gol com entusiasmo, como se ele mesmo o tivesse marcado.[29] Foi quando a torcida passou a gritar o seu nome, e ele agradeceu logo depois, com seu primeiro gol em 1 179 dias: um chute forte de esquerda, depois de passe de Neca.[32] Mesmo cansando no final[33], Mirandinha ficou em campo até o fim da partida. E, depois do apito final, avisou que sua camisa já tinha dona: "Pelo amor de Deus, não tirem a camisa de mim. Ela é da minha mãe, que vem rezando por mim desde o dia da minha contusão. E não vejo a hora de entregá-la, hoje mesmo."[29] A volta de Serginho da suspensão automática não tirou Mirandinha do time titular. Embora tenha despistado a imprensa ao longo do resto da semana[34], Minelli deixou-o no ataque, ao lado de Serginho e Zé Sérgio, para a partida contra o Grêmio, no Morumbi, que decidiria a única vaga do grupo às semifinais. E marcou mais um gol, o terceiro da vitória por 3 a 1, considerado pelo colunista Alberto Helena Júnior, do Jornal da Tarde, o mais bonito da partida.[35] Ele recebeu lançamento de Darío Pereyra na ponta direita, passou por Oberdan, invadiu a área e chutou forte, antes da chegada da zaga. Desta vez, Mirandinha foi mais poupado e pôde ficar livre na direita, sem precisar voltar para marcar.[36] No primeiro jogo das semifinais, contra o Operário, de Campo Grande, tanto Mirandinha como Darío Pereyra começaram jogando, para não colocar muita responsabilidade nos ombros de Zequinha e Neca, respectivamente[37], e foram substituídos pelos respectivos reservas no segundo tempo. Enquanto esteve em campo, Mirandinha jogou mal[38], talvez pelo mesmo motivo que o fez passar mal no vestiário durante o intervalo.[37] Apesar disso, ele era otimista para o jogo de volta, que o São Paulo poderia perder por até três gols de diferença depois de ganhar em casa por 3 a 0: "Acho que já estou com a mesma velocidade que tinha há três anos e, aos poucos, não sentirei diferença alguma."[39] O São Paulo perdeu por 1 a 0 no Mato Grosso e classificou-se para decidir o título contra o Atlético-MG, mas Mirandinha novamente não se destacou.[40] O São Paulo foi campeão brasileiro no domingo seguinte, ao derrotar o Atlético-MG nos pênaltis em pleno Mineirão, com uma atuação razoável de Mirandinha, que, mesmo bem marcado[41], perdeu uma boa chance no segundo tempo em cruzamento de Zé Sérgio[42] e não fugiu das divididas[43] que caracterizaram a atuação do tricolor naquela tarde. Ao contrário de Serginho, que aproveitara a ausência do concorrente em 1974 e estabeleceu-se como centroavante titular do São Paulo, Mirandinha claramente não era mais o mesmo.[23] Marcou mais cinco gols no Campeonato Paulista e na Libertadores, mas perdeu a posição para o jovem atacante Milton Cruz. Depois de 93 jogos e 43 gols[1], foi emprestado ao Tampa Bay Rowdies, da hoje extinta North American Soccer League, nos Estados Unidos. Ficou por lá apenas três meses e meio e transferiu-se, em seguida, ao Memphis Rogues.[44] No ano seguinte, chegou a voltar ao São Paulo, comemorando estar de volta ao peso normal: "Quando fui para os Estados Unidos, estava ainda meio receoso. Fiquei todo aquele tempo parado, fazendo operações, enxertos ósseos, toda aquela recuperação lenta, toda aquela dúvida se ia conseguir voltar a jogar ou não, aquela angústia toda. Mas agora tudo passou. Voltei à minha forma física ideal e só falta, mesmo, é voltar a marcar os meus golsno São Paulo."[44] Ele reestreou contra o Corinthians e, depois da expulsão de Serginho, foi para sua posição original, mas não conseguiu evitar a derrota.[44] Depois de um segundo jogo em branco (empate por 0 a 0 com o América), ele acabou se contundindo na coxa durante um treino.[45] Ele acabaria atuando apenas nesses dois jogos e, ainda em 1979, foi para o México defender o Tigres. Voltou ao Brasil em 1981 e rodou por vários times menores. Passou por Atlético Goianiense (1981), Taubaté (1982), ABC (1983), Guará (1983), Douradense (1983), União Mogi (1984), Saad (1984) e Independente de Limeira (1984), até encerrar a carreira em 1985, defendendo o Ginásio Pinhalense. Depois de se aposentar, Mirandinha foi técnico de alguns clubes, como o CENE, do Mato Grosso do Sul,[46] trabalhou com as categorias de base do Corinthians e ainda esteve ligado[14] a escolas de futebol da Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo.[47] Um de seus três filhos, Miran, chegou a jogar no Taubaté na década de 1990.[48] Títulos
Prêmios Individuais
Referências
Ligações externas
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