Guillermo Stábile
Guillermo Stábile (Buenos Aires, 17 de janeiro de 1906[1] — 26 de dezembro de 1966) foi um futebolista e treinador argentino. Stábile celebrizou-se como o artilheiro da primeira Copa do Mundo, onde foi vice-campeão. Era conhecido como Filtrador ("Infiltrador") por sua jogada característica: passar pelo meio da zaga adversária em seus ataques rumo ao gol.[2] Também foi um vitorioso e longevo treinador da Seleção Argentina, ficando mais de duas décadas no cargo, sendo quem por mais tempo treinou a Albiceleste. Carreira em clubesHuracánStábile nasceu no bairro portenho de Parque Patricios, e foi no clube local, o Huracán, que ele iniciou em 1924 a carreira. O Globo, na época, era um dos principais times da liga profissional, a Asociación Argentina de Football, disputando acirradamente os títulos do campeonato dela com o Boca Juniors.[3] Cedo logo mostrou-se decisivo: no campeonato de 1925 da AAF, fez parte da campanha de 18 vitórias, 2 empates e apenas 1 derrota do time, o que demandou uma final com o Nueva Chicago, com a qual terminara empatado.[3] Stábile marcou o gol de empate, que consternou os atletas da equipe de Mataderos, que minutos mais tarde abandonariam o gramado.[3] Pela desistência, o Huracán conquistou ali o seu terceiro título argentino.[3] No mesmo 1925, conquistaria a Copa Dr. Carlos Ibarguren. Em 1927, a disputa se torna mais forte com a fusão da AAF com a Asociación Amateurs de Football [3] e no ano seguinte, veio novo título argentino para Stábile e os quemeros, com um ponto de diferença para o grande rival da equipe na época - o Boca Juniors.[3] ExteriorApós consagrar-se na Copa do Mundo de 1930, chamou a atenção da Itália, terra de seus pais, sendo disputado por Genoa e Juventus.[2] Stábile preferiu o clube genovês, na época o maior do país: o Genoa ainda é considerado o time que aperfeiçoou a forma de jogar no país, e fora o pioneiro, ainda no século XIX, a não apenas jogar amistosos fora da Itália, mas também a possuir categorias de base, além de ter sido também o primeiro time italiano a implantar o profissionalismo (já em 1912).[4] Os rossoblù eram justamente os maiores vencedor do futebol italiano na época, com nove conquistas, enquanto a Juventus tinha apenas um título.[carece de fontes] Stábile foi recebido com grande festa popular em sua chegada, em novembro,[2] correspondendo ao carinho com uma estreia das mais espetaculares, marcando três vezes em trinta minutos contra o Bologna.[2] Sua escolha, porém, acabaria não lhe trazendo sorte a longo prazo: em uma época em que era bem mais difícil recuperar-se de lesões, Stábile fraturou duas vezes o mesmo perônio.[2] No tempo em que ficou parado, chegou até a trabalhar como assistente técnico do time. Em quatro anos, jogaria apenas 41 vezes pelos rossoblù e ainda veria justamente a Juventus emendar títulos na Serie A em todos eles. Para completar, na última dessas temporadas, o Genoa caiu. O Filtrador passou a temporada 1934/35 como jogador do Napoli, sem conseguir bom desempenho, e vendo novamente a Juve campeã (totalizando cinco títulos seguidos entre 1931 e 1935). O argentino voltou ao Genoa na temporada seguinte, com o clube de volta à elite, mas jogou apenas uma partida. Desgastado com o futebol italiano, Stábile rumou em 1937 para a França. Foi jogar na equipe fundada por Jules Rimet, o Red Star Paris, atuando como jogador e treinador. Na primeira temporada - 1937/38, experimentou novamente o rebaixamento, mas reconduziu o clube parisiense à elite imediatamente, faturando a Ligue 2 de 1938/39. A Segunda Guerra Mundial irromperia pouco depois e Stábile então regressou à Argentina natal, aposentado dos gramados. Carreira na SeleçãoEmbora tenha sido convocado já em 1926,[2] Stábile só efetivamente jogaria pela Argentina em 1930. Foram quatro partidas, todas elas pela Copa do Mundo de 1930. Ele, inicialmente, seria apenas um reserva, sendo escalado a partir do segundo jogo por conta de uma crise nervosa do titular Roberto Cherro.[2][5] Meses antes de sua grande estreia pelo Genoa, faria também três gols em seu debute com a Albiceleste, na vitória por 6 a 3 sobre o México, os dois primeiros ainda antes dos 20 minutos de jogo. Argentina e Chile então enfrentaram-se na última rodada da fase de grupos para decidir quem iria às semifinais. Os vizinhos foram derrotados por 3 a 1, com Stábile marcando os dois primeiros gols da partida — em um espaço de dois minutos entre eles. Outros dois viriam nas semifinais, em um implacável 6 a 1 sobre os Estados Unidos. A final seria contra o anfitrião e rival Uruguai, que dois anos antes levara a melhor contra os argentinos na final olímpica de 1928. O primeiro tempo encerrou-se com parcial vitória argentina por 2 a 1, com o segundo gol sendo marcado por ele, no melhor estilo Filtrador: o colega Luis Monti lançou a bola do meio de campo em direção à área uruguaia, e Stábile, correndo mais que os zagueiros, antecipou-se ainda a José Leandro Andrade e conseguiu tocar a bola no meio do gol na saída do goleiro Enrique Ballesteros.[6] Porém, na segunda etapa, a Celeste, utilizando a sua bola preferida, mais pesada (por decisão dos organizadoras, em cada tempo seria utilizada a bola mais usada em cada país; a dos argentinos, usada no primeiro tempo, era mais leve),[7] virou a partida para 4 a 2 e conquistou a primeira Copa. Stábile deixou o Uruguai com oito gols em quatro partidas, média de dois por jogo. Com sua ida para a Itália, acabou não jogando mais por seu país. Como legítimo oriundo, talvez fosse utilizado pela Seleção Italiana - que aproveitou-se de dois de seus colegas da Copa, Luis Monti e Attilio Demaría, além de outros argentinos -, mas as graves lesões acabaram não lhe cogitando para a Azzurra. Como técnicoSuas primeiras experiências ocorreram quando ainda era jogador. No Genoa, chegou a ser assistente técnico enquanto recuperava-se de uma das lesões. No Red Star Paris, acumulou as funções de jogador e treinador. Deixou o clube francês em 1939 e no mesmo ano, de volta à Argentina, assumiu pela primeira vez com exclusividade o cargo, e logo na Seleção Argentina. Além da Albiceleste, em 1939 começou a treinar também o San Lorenzo, curiosamente o rival histórico do Huracán. Para sua própria ex-equipe iria dois anos depois, após passar pelo Estudiantes de La Plata, enquanto treinava também a seleção. Ficou no Huracán até 1949, sem conquistar títulos ali, chegando no máximo a um terceiro lugar em 1942; era o treinador da equipe no período em que Alfredo di Stéfano esteve emprestado nela. Paralelamente, os troféus vinham em série na seleção: foram três títulos em quatro participações no Campeonato Sul-Americano na década, além das Copas Roca já em 1939 e também em 1940. Todavia, a consagração ficaria restrita à América do Sul, uma vez que a Segunda Guerra Mundial impediu a realização prevista de Copas do Mundo para 1942 e 1946. Em 1949, Stábile foi treinar outro time alviceleste, o Racing. Ficou os onze anos seguintes no clube de Avellaneda, faturando um tricampeonato argentino em 1949, 1950 e 1951. Já a Seleção vivia certo ocaso - no final dos anos 40, os melhores atletas foram embora do país, revoltados com a recusa dos dirigentes em melhorar as condições e remunerações de trabalho.[8] Sabendo do enfraquecimento, o próprio presidente Juan Domingo Perón ordenou que o país sequer disputasse as Eliminatórias para as Copas do Mundo de 1950 e 1954,[9][10] ficando de fora dos dois mundiais. A seleção foi "retomada" com os Sul-Americanos de 1955 e 1957, ambos vencidos. No segundo, vencido por 3 a 0 na final contra o Brasil, Stábile lançou um trio de atacantes que fez história: Humberto Maschio, Omar Sívori e Antonio Angelillo.[2] Todavia, os três foram para a Itália,[11] onde chegariam até a defender a Seleção Italiana - os dois primeiros inclusive jogariam por ela na Copa do Mundo de 1962. Como o sindicato dos atletas profissionais argentinos vedava a convocação de jogadores que jogassem no estrangeiro,[11] Stábile teve que disputar as Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1958 com um time envelhecido, o que incluía o quarentenário Ángel Labruna.[11] Ainda assim, a classificação veio sem problemas. Na preparação para a Copa, a Albiceleste de Stábile foi elogiada pela imprensa italiana após vencer por 2 a 0 o Milan em Milão, em amistoso.[12] 28 anos após consagrar-se no Uruguai, o agora técnico Stábile retornou a um mundial de forma desagradável, pois apesar de sair na frente no placar, levou a virada e acabou perdendo na estreia para a Alemanha Ocidental por 3x1. Para o segundo jogo, voltou a usar Labruna - que não jogou contra os alemães - e a Argentina recuperou-se, vencendo de virada a Irlanda do Norte por 3 a 1.[13] Com isso, bastava uma vitória contra a Tchecoslováquia para obter a classificação para as quartas-de-final. Contra os tchecoslovacos, todavia, o país jogou muito mal. Labruna e outro veterano, Néstor Rossi, mostraram-se lentos,[14] a zaga e o goleiro Amadeo Carrizo falharam seguidamente [14] e o adversário não temeu em lançar-se ao ataque, sendo escalado com cinco atacantes.[14] A Argentina experimentou a derrota mais elástica de sua história, perdendo por 6 a 1 e dando adeus à Suécia. O resultado seria repreendido na volta para casa, com a delegação sendo recebida com uma chuva de moedas e pedras lançadas pelos torcedores, em meio a divulgação de boatos (desmentidos) de falta de empenho nos treinamentos e badalações noturnas.[15] O transtorno abreveria a passagem de Carrizo pela seleção,[16] mas Stábile prosseguiria no comando até 1960, ano em que conquistou seu último título, o Campeonato Pan-Americano. Ainda em 1958, a amargura da Copa seria amenizada no Racing, conquistando seu quarto título argentino como treinador da Academia. Stábile deixou o clube também em 1960, tornando-se diretor da Escola Nacional de Treinadores até sua morte, seis anos depois.[2] TítulosComo jogador
Como treinador
Referências
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